Trabalhar e ter filhos na Europa de hoje

Trabalhar e ter filhos na Europa de hoje
De  Euronews
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É um desafio conjugar a vida pessoal com a profissional se houver filhos na equação. O Real Economy aborda as políticas de incentivo na Europa.

Conjugar vida pessoal com vida profissional é sempre um desafio, mas se houver filhos na equação então as coisas ficam bastante mais complicadas. O Real Economy foi até Malta para falar das diferentespolíticas de incentivoaos progenitores numa Europa que precisa desesperadamente de tomar medidas para enfrentar o envelhecimento da população.

Alguns dados essenciais: na Europa, há menos mulheres a trabalhar do que homens; a percentagem é mais reduzida do que no Japão, nos Estados Unidos ou na Suíça, e prevê-se que esse cenário não mude até 2038; há diferenças acentuadas entre alguns países europeus, como Finlândia e Malta, por exemplo; a disparidade aumenta ainda mais quando as mulheres têm filhos; nalguns casos, a diferença pode atingir os 30%; já os homens têm tendência a trabalhar mais quando são pais para compensar a redução de rendimentos em casa.

As ajudas que cada país oferece aos progenitores também podem pesar na decisão de procriar. Na Irlanda e no Reino Unido, um casal com dois filhos que trabalhe a tempo inteiro gasta cerca de 40% do salário médio em infantários. Mas na Áustria, Suécia, Estónia, Portugal e Espanha esse número cai para os 5%. Ou seja, mais de metade das mães europeias afirma que estas despesas são um fator determinante na altura de decidir voltar ou não a trabalhar nos primeiros anos de maternidade. A jornalista Fanny Gauret preparou uma reportagem sobre todos os elementos a pesar nesta balança.

“Os pais deviam ter as mesmas oportunidades que as mães”

O dia começa muito cedo para esta família maltesa com 3 filhos pequenos. Ambos os pais trabalham. Nesta ilha mediterrânica, 4 em cada 5 homens trabalham; mas apenas metade das mulheres integra o mercado laboral. Em 2014, Malta passou a oferecer educação pré-escolar gratuita para os pais empregados, permitindo uma poupança média anual de mais de 3 mil euros por família.

“Há muitas vantagens. É mais fácil para a mãe poder regressar ao trabalho, se for essa a sua vontade. É óbvio que é mais confortável financeiramente”, diz-nos o pai, Bernard Vella, arquiteto.

As novas medidas geraram um aumento de 7% na percentagem de mães maltesas a regressar ao trabalho após a maternidade. “No caso do meu segundo filho, regressei ao trabalho ao fim de 4 meses; no caso dela, ao fim de 6. Posso trabalhar mais horas, mas prefiro não o fazer. Tive o meu primeiro filho na Austrália. Os infantários estavam cheios, tivemos de arranjar uma babysitter que custava 250 dólares por dia. Por isso, decidimos que era melhor regressar a Malta”, explica a mãe, Mairi Vella, pediatra.

Although this is out of the US, it's encouraging news. #maternityleavehttps://t.co/Fzq2pPzUfM

— Sweet Kyla (@SweetKylaBaby) 4 de janeiro de 2017

O contexto europeu é diversificado. No setor privado em Malta, por exemplo, os progenitores têm direito a uma licença mínima de 4 meses sem salário. A licença de maternidade é de 18 semanas. Como é que as empresas olham para esta questão?

“Nós consideramos que este tipo de questões deve ser analisado caso a caso, em vez de termos medidas legislativas que são impossíveis de aplicar na prática. O ideal seria estabelecer um denominador comum que pudesse ser implementado em todos os países, tendo em conta os diferentes mercados de trabalho, sem provocar efeitos adversos. E esse é o grande desafio da harmonização”, afirma Joseph Farrugia, presidente da Associação Patronal de Malta.

Segundo Mairi Vella, “os pais deviam receber mais apoios e ter as mesmas oportunidades que as mães. Às vezes, é a mãe que traz para casa o salário mais elevado. Eu trabalhei muito para poder ter uma carreira, estudei muito. Por isso, não vou desistir. E agora as coisas tornaram-se menos difíceis”.

Os ganhos graças ao aumento de mulheres trabalhadoras devido aos apoios sociais em Malta são estimados em 2 milhões de euros.

Um retrato europeu

A maioria dos países europeus tem-se debruçado sobre os aspetos da crise financeira, adiando mudanças nas licenças parentais. Vamos fazer um curto apanhado da situação atual e das alterações consideradas necessárias.

  • O direito à licença parental está contemplado na legislação europeia.
  • A média de licenças de maternidade é de 17,5 semanas.
  • Alguns países são mais generosos em tempo e dinheiro.
  • Outros decidem em função do número de filhos.
  • A licença pode ser partilhada entre os progenitores.
  • Mas apenas 10% dos pais usufrui da licença de paternidade.
  • Na licença parental obrigatória, os pais italianos têm apenas 1 dia e os eslovenos… 90.
  • Em alguns países, não se pode optar pela licença de paternidade.

A visão de Edward Scicluna, ministro das Finanças de Malta

Maithreyi Seetharaman, euronews: O ministro das Finanças maltês vai ajudar-nos a perceber o quadro geral relativo às ajudas atribuídas aos pais aqui. Qual tem sido o impacto na economia e no emprego das medidas de apoio que têm aplicado?

Edward Scicluna: O impacto foi o esperado, suplantou mesmo as expetativas. A participação feminina no mercado de trabalho aumentou bastante. Mas é preciso olhar para o contexto: a presença das mulheres era reduzida e, apesar dos argumentos relacionados com a religião e a cultura, a verdade é que havia obstáculos. Os custos de enviar os filhos para um infantário eram muitas vezes superiores ao salário da mãe, portanto não lhes interessava.

euronews: E no que diz respeito às licenças de paternidade e maternidade?

ES: A licença de maternidade também foi tida em conta. Considerámos que prolongar a licença por mais 4 semanas teria um efeito muito positivo. Houve também outras reformas que visaram as famílias mais desfavorecidas, que podem ter salários e continuar a receber parte das ajudas: dois terços no primeiro ano, 45% no segundo, e por aí fora… Isso ajudou a diminuir o número de desempregados de longo prazo que existem em Malta.

euronews: Continuamos à conversa com Edward Scicluna. Como é que os sindicatos e o patronato se têm debatido com esta questão do regresso das mulheres ao trabalho?

ES: É possível criar um entendimento se mostrarmos um contexto geral que é do interesse de todos. Mas é preciso consultar as partes em questão, não se pode impor as coisas à força e depois esperar para ver as reações.

euronews: Quais são as ferramentas que os progenitores necessitam para facilitar o regresso das mulheres ao trabalho após a maternidade?

ES: Alguns países estão mais avançados do que outros nesta questão do regresso das mulheres ao mercado laboral e da licença de maternidade. Depende muito do grau de desenvolvimento do país. Mas há muitos países que podem consolidar o mercado com mais força de trabalho através dos apoios sociais. No nosso caso, baixámos os impostos sobre os rendimentos e deslocámo-los progressivamente para o consumo. Isso beneficiou sobretudo a classe média, que enfrenta uma carga fiscal pesada. É uma lógica muito simples, mas muito eficaz.

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