Pescador: uma profissão em extinção na Europa?

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De  Denis LoctierAna Catarina Ruivo
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Esta semana, o programa Ocean da euronews visitou duas comunidades com realidades distintas em relação a este problema. A ilha de Pellinki, no sul da Finlândia e o porto de Ostende, na Bélgica

Um dos grandes desafios da pesca na Europa é atrair os jovens para o setor. À medida que os mais velhos se reformam e os filhos escolhem outras profissões, a pesca em escala familiar deixa de ser praticada.

De que forma esta realidade afeta as comunidades costeiras? Existe uma forma de trazer mais jovens para o setor?

O Programa Ocean, da euronews, visitou duas comunidades com realidades distintas em relação a este problema. A ilha de Pellinki, no sul da Finlândia e o porto de Ostende, na Bélgica.

Finlândia - Ilha de Pellinki: os riscos e a incerteza

Durante várias gerações, a pesca tem sido o sustento e o modo de vida tradicional para muitas famílias da comunidade de Pellinki, a ilha com língua sueca, no sul da Finlândia.

Agora, o número de pescadores locais está a diminuir. Restam muito poucos. Uma das razões é o declínio das capturas. Os pescadores culpam os predadores: focas e corvos-marinhos que danificam as redes e atacam as populações de peixes. As boas capturas já não estão garantidas e a sobrevivência económica da pesca à escala familiar torna-se cada vez mais incerta.

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Marie Kellgren tem 27 anos e trabalho na pesca a tempo inteiro há cerca de cinco anos.

"Nós não somos muitos – os jovens a pescar. Talvez porque é um trabalho fisicamente difícil e também porque não sabemos quanto tempo podemos ter esta profissão. É um grande risco para começar".

A maioria das crianças das famílias de pescadores fazem uma escolha mais segura e saem de casa para estudar. À medida que os pais envelhecem e se reformam, a pesca em pequena escala, típica da Finlândia, vai deixando de ser praticada. Nas últimas décadas, em todo o país, o número de pescadores diminuiu de 1800 para cerca de 400.

Marie pertence à quinta geração de pescadores na família. Chegou a estudar turismo em Helsínquia mas, ao mesmo tempo, fez a formação do "Master-Apprentice". Aprendeu a pescar com redes e com armadilhas, a cuidar do peixe, da captura e a prepará-lo com sal e com fumo. Aprendeu marketing e a tratar da burocracia. Por outro lado, o programa apoiado pela União Europeia garantiu um pequeno orçamento que permitiu a Marie trabalhar durante um ano como aprendiz, sem custos para a empresa do pai. Agora, está a pescar profissionalmente e a preservar a tradição da família.

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O financiamento do programa "Master-Apprentice" é assegurado pelo Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas, que apoia a renovação das gerações do sector na Europa. A formação incluiu teoria e 800 horas de prática de pesca. O projeto surgiu nesta comunidade pesqueira local, quando Tanja Åkerfelt tentava entrar na profissão.

"O meu pai não achou que fosse uma boa ideia. Ele disse não, não devias fazer isso! Por isso tive de falar com outros pescadores para encontrar uma solução. Depois falámos com o Esko e depois, juntos, tivemos esta ideia".~

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Esko Taanila gere a parceria entre acionistas privados e públicos no setor das pescas local. Criou documentação simplificada - um contrato formal e o programa de formação "Master-Apprentice". Formar um novo pescador custa cerca de 6 mil euros. Esko diz que é uma forma não dispendiosa de sustentar a pesca profissional, a única atividade económica nesta área durante todo o ano.

Ajuda a retardar o envelhecimento e o declínio da comunidade pesqueira do sul da Finlândia. Mas não pode reverter a situação.

O programa começou há três anos. Dos 15 aprendizes, 12 decidiram continuar a pescar profissionalmente. É uma grande taxa de sucesso - mas com o crescente problema das focas e o futuro incerto dos estoques pesqueiros, este esforço pode não ser suficiente.

**"Por cada dez pescadores que desistem, temos um ou dois jovens que estão interessados em continuar" (...) Temos de encontrar novos pescadores, porque a idade média aqui é de 60 anos. Se não fizermos nada, daqui a 5-6 anos todos terão deixado a profissão. É muito importante que tenhamos uma pesca viva nas nossas zonas costeiras. Sem ela há o risco de se tornarem numa área morta".
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Bélgica - Porto de Ostende: un setor em renovação

No porto belga de Ostende, a tradição da pesca está viva e em fase de renovação.

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Os alunos de uma escola marítima local conduzem o seu navio através do Mar do Norte. O "Broodwinner" é um navio de treino construído em 1967. Foi renovado recentemente com um financiamento da União Europeia para melhorar a segurança e o conforto.

O professor Bart DeWaegenare considera a formação prática essencial para estes alunos que, geralmente, não têm experiência profissional de pesca antes de entrar na escola e não têm tradição familiar.

_"Penso que talvez 20% venham de famílias com experiência na pesca e 80% não sabem nada - vêm de grandes cidades como a Antuérpia e Bruxelas, que não têm nada a ver com o mar. É importante ter um barco na escola, para que eles possam ver, ter uma impressão, uma ideia – perceber se querem fazer isto no futuro".
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Os alunos fazem viagens de pesca de oito horas a partir dos doze anos. Aos dezasseis, passam metade da semana de aulas a praticar no mar. Para além de várias rotinas relacionadas com a pesca, aprendem navegação e engenharia naval. A maioria quer um emprego no sector marítimo - mas não necessariamente na pesca, onde o trabalho é duro e há risco de acidentes.

Com uma costa pequena e apenas seis dúzias de embarcações de pesca, a Bélgica não é um grande país para os pescadores mas na província da Flandres Ocidental, o setor desempenhou um papel importante. Nos anos 80, cinco escolas formaram 300 alunos para trabalhar na pesca. Hoje, resta apenas uma escola com 40 alunos. Os professores dizem que atualmente, mesmo os salários altos e a melhoria das condições de trabalho no setor não são suficientes para atrair os jovens.

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Jackie Scherrens, diretor da escola, diz que a motivação dos alunos mudou muito ao longo dos últimos anos.

_"Antigamente, eles estavam, por exemplo, duas semanas no mar e três dias no porto. Depois de três dias em terra tinham que trabalhar dois dias e isso não era problema.
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Agora, quando eles estão oito dias no mar, quatro dias no porto e têm de trabalhar um ou dois dias desistem.  Por isso é muito difícil atrair os jovens".

Na escola, há esperanças de que seis embarcações prestes a entrar na frota pesqueira belga estimulem o interesse pela profissão. E que a experiência a bordo e a formação no mar ajude os jovens a fazer uma escolha com confiança.

Nome do jornalista • Denis Loctier

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