Graças a este esquema, conseguiram monitorizar durante décadas as comunicações das ditaduras latino-americanas, revelam documentos tornados públicos.
Uma operação conjunta dos serviços secretos dos Estados Unidos e da Alemanha monitorizou, durante várias décadas, as comunicações militares de vários países da América Latina, segundo documentos até agora confidenciais tornados públicos pelos Arquivos Nacionais de Segurança norte-americanos, depois de uma investigação conjunta da televisão alemã ZDF e do Washington Post.
Essa espionagem era feita através de uma empresa sediada na Suíça, a Crypto, que era propriedade da CIA e dos serviços secretos alemães. Vários países, nomeadamente ditaduras latino-americanas envolvidas na Operação Condor nos anos 70 como o Brasil, a Argentina, a Venezuela, a Bolívia, o Chile e o Uruguai - usavam as máquinas fornecidas por esta empresa para comunicações secretas sobre operações contra opositores ou potências estrangeiras, sem saberem que essas comunicações podiam ser lidas pelos governos americano e alemão.
Ministro da chancelaria alemã nos anos 90, responsável pelos serviços secretos, Bernd Schmidbauer defende a importância desta operação: "Graças a ela, o mundo ficou um local mais seguro", diz.
As autoridades da suíça estão agora a investigar o possível envolvimento do governo helvético nesta operação. Em 1995, a CIA comprou a parte dos alemães e passou a deter em exclusivo esta empresa, com sede no cantão de Zug, fundada pelo inventor sueco Boris Hagelin. A Crypto funcionou até 2018, altura em que abriu falência. Os ativos foram comprados por duas empresas, que dizem não trabalhar com quaisquer serviços secretos ou de segurança.