Setor pesqueiro holandês depende em grande parte do arenque capturado em águas britânicas, mas a partir de 1 de janeiro não é certo que mantenham acesso à zona de pesca da espécie
Os Países Baixos, a França e a Dinamarca são os Estados-membros da União Europeia mais preocupados em garantir um acordo de pescas com o Reino Unido, um dos maiores bloqueios ao tratado comercial pós-Brexit ainda a ser debatido e já com algum pessimismo de parte a parte.
Uns e outros têm vindo a lançar as redes nas águas britânicas de acordo com as regras europeias, agora ameaçadas pela falta de um acordo dos "27" com o futuro parceiro externo a partir de 1 de janeiro.
As últimas notícias dão conta de uma proposta do negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, de uma redução da quota de pesca europeia em águas britânicas na ordem dos 25%, o que representa cerca de €160 milhões, nas contas do jornalista Tony Connely, editor de assuntos europeus da RTE, a televisão pública da Irlanda.
A bordo de um barco de pesca holandês no porto de águas profundas de IJmuiden, que serve Amesterdão pelo canal do Mar do Norte, o presidente da associação europeia de arrastões-congeladores explica-nos no mapa a zona de pesca em causa.
Do ponto de vista local e tendo por referência o Canal da Mancha entre o porto inglês de Dover e o francês de Calais, Gerard van Balsfoort conta-nos que "os pescadores holandeses têm vindo a pescar há séculos nas águas do norte de Inglaterra e da Escócia".
A cavala, o linguado e sobretudo o arenque são as espécies mais valiosas capturadas nas águas britânicas.
De acordo com dados de 2018, estima-se que a frota de pesca do Reino Unido tem sido a quem mais tem beneficiado com a pesca nesta zona, mas a grande maioria do pescado segue para exportação e a larga maioria para a União Europeia.
A falta de um acordo para as pescas e um consequente "não-acordo" comercial pós-Brexit vai impor à futura relação comercial entre o Reino Unido e a União Europeia as regras da Organização Mundial de Comércio, implicando taxas alfandegárias de parte a parte.
As dificuldades de exportação e importação vão aumentar consideravelmente, mas para os holandeses essa perspetiva do "não-acordo" está também a ameaçar o próprio setor das pescas.
O diretor da companhia de pesca holandesa Cornelis Vrolijk antecipa que "sem um acordo fecha-se o acesso europeu às águas britânicas".
No final de Outubro, a UE publicou uma primeira proposta para as quotas de pesca que irão ser permitidas em 2021, já com o Reino Unido como parceiro externo.
A proposta está ainda dependente das duras negociações para a futura relação pós-Brexit ainda em curso em Bruxelas, mas com pouco otimismo de parte a parte.
Uma das consequências da falta de um acordo será também o impedimento dos barcos europeus poderem pescar nas águas britânicas e dos britânicos nas águas europeias.
O Ministério do Mar francês está já disponibilizar um plano de apoio para os respetivos pescadores profissionais se adaptarem às novas formalidades.
Do lado britânico, os pescadores só enaltecem o que alegam ser o recuperar da soberania total sobre as respetivas águas.
Do lado holandês, sem se saber onde e o que vai ser possível pescar em 2021, não ter acesso às águas por onde circula o arenque pode mesmo custar a subsistência dos pescadores depois de 1 de janeiro.