Vinho português e cortiça à conquista do maior mercado da Ásia

Retrato do navegador Vasco da Gama entre as garrafas exibidas na loja "Madeira Home"
Retrato do navegador Vasco da Gama entre as garrafas exibidas na loja "Madeira Home" Direitos de autor LUSA
De  Francisco Marques com Agência Lusa
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Duas empresárias apostaram na produção exclusiva de Portugal em pleno ano de pandemia e contribuíram para um aumento de quase 20% das exportações lusas para a China em 2020

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Desde que os portugueses expandiram o império para Oriente, no século XVI, que a China importa produtos feitos em Portugal. Na altura, lã, chumbo ou prata eram moeda de troca para o chá, a seda ou as porcelanas que se destacavam depois como luxos na Europa.

A relação entre Lisboa e Pequim abrandou, mas manteve-se com altos e baixos. Ancorada em Macau.

Cinco séculos mais tarde, o comércio bilateral volta a crescer, mas Portugal já não é o grande parceiro europeu. Agora, é a China o grande mercado e com interesses na "galáxia" lusófona, sobretudo Brasil e emergentes PALOP.

Ávidos de diversificação na exportação, os produtos portugueses procuram afirmar-se de novo no maior mercado asiático e apostam na qualidade da oferta, como é o caso do vinho, a principal oferta da "Madeira Home" ("Casa da Madeira"), em Pequim.

A demanda do vinho adocicado no "jardim do Atlântico" parte de Zhang Ruoxi, uma admiradora da longevidade do Madeira.

"O vinho da Madeira é conhecido por ser uma bebida imortal. Há muitos vinhos antigos que foram conservados e este é um vinho que pode ser conservado. Muitas das vinícolas armazenam garrafas de vinho por períodos até 100 anos e só então as comercializam, após décadas. Pela nossa família, estávamos em busca de algo perdurável e que pudesse ser herdado pela próxima geração", explicou Zhang Ruoxi, à Agência Lusa.

Por entre retratos de navegadores portugueses e painéis de azulejos, a "Casa da Madeira" exibe em Pequim milhares de garrafas de vinho. Algumas com mais de um século a envelhecer.

Em Xangai, o principal centro financeiro da China, o brilho português é outro: a cortiça.

"Nós usávamos a cortiça apenas como material complementar no calçado. Não era o material principal, mas mais um auxiliar. Então, pensámos, um material tão bom, por que não pode ser utilizado como protagonista?", questionou-se Li Shuhua, que no ano passado inaugurou uma loja dedicada em exclusivo em produtos de cortiça portuguesa.

Após duas décadas a promover produtos com acabamentos em cortiça, Li Shuhua virou-se para a produção 100% extraída dos sobreiros em Portugal, uma matéria-prima agora na moda, inclsuive na indústria espacial e vista como um paradigma da economia circular.

"Se não nos importamos com o meio ambiente hoje, estamos a degradar o ambiente para os nossos filhos. Tudo é um ciclo", sublinha Huang Xiaomian, o designer da marca promovida por Li Shuhua, a Kaoge, uma conversão fonética para chinês da palavra inglesa cork ("cortiça", em português), que fabrica e comercializa sapatos, carteiras, bolsas, malas ou chapéus a partir da "pele" que se regenera nos sobreiros.

As trocas comerciais entre a China e Portugal aumentaram 4,82% em 2020, em relação ao ano anterior, de acordo com dados das alfândegas chinesas citados pela Lusa. Só no sentido Europa-Oriente, Pequim importou mais 19,6%, de produtos portugueses, ou o equivalente a €2,3 mil milhões, do que em 2019. E isto mesmo no ano da pandemia.

Editor de vídeo • Francisco Marques

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