Bebé Yanomami ao colo da mãe à chegada à Boa Vista, Roraima
Bebé Yanomami ao colo da mãe à chegada à Boa Vista, Roraima Direitos de autor AP Photo/Edmar Barros

As conclusões da reunião de Lula da Silva para "estancar mortalidade dos Yanomami"

De  Francisco Marques
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Reunião ministerial realizada em Brasília e avaliação no terreno por comitiva especial do governo definem próximos passos numa crise que já matou 570 crianças

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A crise sanitária dos Yanomami centrou as atenções do governo brasileiro, esta segunda-feira um dia marcado também pela visita do chanceler da Alemanha Olaf Scholz a Brasília.

Lula da Silva liderou pela manhã na capital federal  uma reunião com alguns ministros e outros responsáveis para definir os próximos passos do executivo na gestão da crise dos Yanomami.

À mesa com o Presidente do Brasil, estiveram os ministros da Casa Civil (Rui Costa), da Justiça (Flávio Dino), da Defesa (José Múcio), Direitos Humanos e Cidadania (Sílvio Almeida), Povos Originários (Sônia Guajajara), Minas e Energia (Alexandre Silveira) e Relações Institucionais (Alexandre Padilha).

Na reunião participaram ainda o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, novo comandante da Aeronáutica do Brasil, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberger Barbosa, e a futura presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a deputada Joenia Wapichana.

"As iniciativas [debatidas] visam combater, o mais rápido possível, o garimpo ilegal e outras atividades criminosas na região impedindo o transporte aéreo e fluvial que abastece os grupos criminosos. As ações também visam impedir o acesso de pessoas não autorizadas pelo poder público à região buscando não apenas impedir atividades ilegais, mas também a disseminação de doenças", lê-se no comunicado do governo após a reunião.

Entre as prioridades estão ainda "dar assistência nutricional e de saúde ao povo Yanomami, com alimentos adequados aos seus hábitos, e garantir a segurança necessária para que equipes de saúde possam exercer suas atividades nas aldeias", mas também "garantir rapidamente o acesso a água potável por meio de poços artesanais ou cisternas e medir a contaminação por mercúrio dos rios e nas pessoas".

"O presidente determinou que todas essas ações sejam feitas no menor prazo, para estancar a mortalidade e ajudar as famílias Yanomami", conclui o comunicado.

Sinceramente, o presidente que deixou a presidência, se ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo [os Yanomami] não estivesse abandonado como está.
Lula da Silva
Presidente do Brasil, em Roraima, a 21 de janeiro

Da visita posterior de Scholz resultou o anúncio de um apoio de 180 milhões de euros da Alemanha para a proteção do ambiente e que Lula da Silva logo associou aos esforços para travar o garimpo ilegal, uma das atividades mais poluentes da Amazónia e implicada também na crise dos Yanomami.

Trabalho no terreno

Ao mesmo tempo, já está em Roraima desde domingo uma comitiva do agora recuperado Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania para avaliar a gravidade da situação sanitária na maior reserva indígena do Brasil, de onde mulheres e crianças doentes e subnutridas têm sido resgatadas para receber ajuda mais a sul, na cidade de Boa Vista.

São resgates apenas possíveis por via aérea porque "na quase totalidade do território há necessidade do transporte aéreo para remover os indígenas doentes ou para lhes levar mantimentos".

"O transporte aéreo é essencial para manter a vida desses povos indígenas na região", sublinhou Fausto Santos, o diretor de operações da Voare Taxi Aéreo, empresa que estabelece as ligações às terras dos Yanomami.

A situação mais grave daquela comunidade está mais no norte da região de Roraima, onde se concentra o maior número de garimpeiros, cerca de 20 mil ilegais e os grandes responsáveis pela poluição dos recursos naturais da região e pela expropriação violenta das tribos.

Dados oficiais apontam para a morte de pelo menos 570 crianças Yanomami devido à contaminação por mercúrio, a subnutrição ou a fome. Só nos últimos quatro anos, terão morrido 152 contra 33 no mesmo período anterior, destaca o programa Fantástico, da Globo, citando dados do Ministério da Saúde.

Só no ano passado, foram registados 22 mil casos de malária, numa comunidade de 30 mil Yanomami.

O governo de Lula da Silva decretou, entretanto, Estado de Emergência para poder combater de forma mais eficiente a falta de assistência sanitária aos Yanomami, em especial nos quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro e que incluiu a explosão da Covid-19 por todo o planeta.

AP Photo/Edmar Barros
Profissional de saúde transporta indígena Yanomami debilitado em Boa Vista, RoraimaAP Photo/Edmar Barros

O governo também abriu uma investigação às suspeitas de genocídio sobre o povo Yanomami. A única condenação por genocídio no Brasil aconteceu em 1993: três garimpeiros mataram 16 Yanomami, incluindo mulheres e crianças, no que ficou conhecido como "o massacre de Haximu".

"O conflito começou quando garimpeiros que exploravam ilegalmente a região não cumpriram promessas feitas a indígenas do local. No dia 15 de junho, sete garimpeiros convidaram seis indígenas para caçar e, durante a caminhada, mataram quatro deles. Em retaliação, os indígenas assassinaram um dos garimpeiros. Esse foi o estopim para o massacre que ocorreria dias depois", lê-se no memorial da Procuradoria da República de Roraima, afeta ao Ministério Público Federal do Brasil.

Outras fontes • AFP, Agência Brasil, G1, Folha

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