Ucrânia boicota mundiais de judo no Qatar apesar da suspensão de oito atletas russos

Judoca ucraniano Davyd Khorava nos jogos paralímpicos de 2020
Judoca ucraniano Davyd Khorava nos jogos paralímpicos de 2020 Direitos de autor AP Photo/Kiichiro Sato
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De  Francisco Marques
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Federação Internacional apenas autoriza atletas com posições neutras sobre a guerra e até já rejeitou oito russos, mas Ucrânia lembra os respetivos judocas que já deram a vida para travar a agressão do Kremlin

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A Ucrânia vai boicotar os Mundiais de Judo marcados para Doha, no Qatar, no próximo fim de semana.

A decisão anunciada segunda-feira é consequência da autorização concedida pela Federação Internacional de Judo (IJF) à participação de russos e bielorrussos nas provas enquanto atletas neutros.

Estávamos a preparar-nos para isto. Percebemos que podia acontecer, mas esperámos até à última que o bom senso prevalecesse. Não aconteceu.
Vitaliy Dybrova
Treinador principal da equipa de judo da Ucrânia

Nem a prometida investigação pela IJF ao posicionamento dos atletas perante a guerra, que já motivou a rejeição de oito atletas russos, fez ceder a Ucrânia.

"Apenas atletas empregados no Centro Federal de Treino Desportivo das equipes representativas da Rússia e atletas para os quais nenhuma informação foi identificada sugerindo apoio ou opiniões sobre a invasão russa da Ucrânia foram aprovados para competir no Campeonato Mundial de Judo 2023 e nas competições da IJF. Depois de realizar investigações completas de antecedentes, oito membros da delegação foram rejeitados após a votação do Comité Executivo", lê-se no último comunicado da IJF.

A Ucrânia mantém, até ver, o boicote. "A 28 de abril, algumas horas antes de acabar o prazo de inscrições, surgiu na página da Federação Internacional de Judo que iriam ser admitidos russos e bielorrussos em todas as provas com estatuto de neutros. Os chamados atletas neutros", lamentou Vitaly Dybrova, o treinador principal da equipa de judo da Ucrânia.

Num comunicado colocado na página oficial lê-se que a Federação de Judo da Ucrânia (FJU) "se vê obrigada a retirar a candidatura da seleção da Ucrânia para participar do Campeonato Mundial de Judo em Doha (Qatar), que será realizado de 7 a 14 de maio".

A FJU alega que "a maioria da equipe é constituída por atletas que são militares ativos das forças armadas da Federação Russa, parte do exército que atacou a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022e que continua a travar uma guerra brutal e de grande escala" e lembra que do lado ucraniano houve centenas de atletas que tentaram travar essa agressão do Kremlin.

"Mais de 250 atletas ucranianos deram a vida para defender o país. Entre eles encontram-se representantes o judo", sublinha-se no comunicado.

Não vemos aqui neutralidade, igualdade de condições nem uma 'ponte para a paz', como se afirma na resolução da IJF sobre a participação das equipas russa e bielorrussa nos Mundiais de Doha.
Federação de Judo da Ucrânia
Comunicado

A Federação ucraniana acusa ainda a IJF de contrariar a própria resolução de 28 de março, em que definiu que o estatuto de atletas neutros não poderia ser concedido a atletas que também fossem militares.

"Estamos desiludidos e, como tal, decidimos não participar nos Mundiais de Doha", remata o comunicado da FJU.

E noutras modalidades?

A participação de russos e bielorrussos tem sido contestada em diversas provas desportivas internacionais, sobretudo pela Ucrânia, mas não só.

Nas provas da UEFA e da FIFA, a seleção e os clubes russos continuam proibidos, já os bielorrussos estão obrigados a realizar os jogos em casa em estádios neutros.

Para os Jogos Olímpicos, a abertura ainda está a ser ponderada apesar de também haver já uma ameaça de boicote da Ucrânia a Paris 2024.

Rússia e Bielorrússia reclamam de alegada discriminação se o COI for adiante com a autorização de apenas permitir os atletas russos e bielorrussos enquanto neutros, mas a pressão internacional é também grande sobre o comité numa altura em que a violenta invasão russa já ultrapassou dos 14 meses e sem sinais de tréguas no horizonte.

Outras federações desportivas internacionais têm assumido posições dispersas. As de atletismo e equestre prolongaram a suspensão de competidores russos; as de ciclismo, ténis, ténis de mesa, taekwondo e esgrima permitiram a reintegração.

Neste último caso, centenas de atletas condenaram a abertura da FIE aos esgrimistas russos e bielorrussos, e vários países europeus, como a Alemanha e a Polónia, têm-se recusado a organizar eventos da Taça do Mundo de esgrima, que servem de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris.

Na primeira competição de esgrima a contar para a qualificação olímpica, após o levantamento da suspensão pela federação, os esgrimistas russos não puderam competir em Seul, na Coreia, devido a um alegado problema burocrático e a federação russo pediu para que a prova não pontuasse para Paris 2024.

A Federação de Esgrima da Ucrânia apelou a um tribunal da Suíça para que a FIE não fosse adiante com a reintegração de atletas russos e bielorrussos enquanto a guerra se mantiver.

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Uma decisão ainda não é conhecida, mas a verdade é que nos próximos eventos da modalidade, na Colômbia, na Bulgária e no México, ainda não há esgrimistas russos e bielorrussos inscritos.

Outras fontes • AP, AFP

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