Federação Internacional apenas autoriza atletas com posições neutras sobre a guerra e até já rejeitou oito russos, mas Ucrânia lembra os respetivos judocas que já deram a vida para travar a agressão do Kremlin
A Ucrânia vai boicotar os Mundiais de Judo marcados para Doha, no Qatar, no próximo fim de semana.
A decisão anunciada segunda-feira é consequência da autorização concedida pela Federação Internacional de Judo (IJF) à participação de russos e bielorrussos nas provas enquanto atletas neutros.
Nem a prometida investigação pela IJF ao posicionamento dos atletas perante a guerra, que já motivou a rejeição de oito atletas russos, fez ceder a Ucrânia.
"Apenas atletas empregados no Centro Federal de Treino Desportivo das equipes representativas da Rússia e atletas para os quais nenhuma informação foi identificada sugerindo apoio ou opiniões sobre a invasão russa da Ucrânia foram aprovados para competir no Campeonato Mundial de Judo 2023 e nas competições da IJF. Depois de realizar investigações completas de antecedentes, oito membros da delegação foram rejeitados após a votação do Comité Executivo", lê-se no último comunicado da IJF.
A Ucrânia mantém, até ver, o boicote. "A 28 de abril, algumas horas antes de acabar o prazo de inscrições, surgiu na página da Federação Internacional de Judo que iriam ser admitidos russos e bielorrussos em todas as provas com estatuto de neutros. Os chamados atletas neutros", lamentou Vitaly Dybrova, o treinador principal da equipa de judo da Ucrânia.
Num comunicado colocado na página oficial lê-se que a Federação de Judo da Ucrânia (FJU) "se vê obrigada a retirar a candidatura da seleção da Ucrânia para participar do Campeonato Mundial de Judo em Doha (Qatar), que será realizado de 7 a 14 de maio".
A FJU alega que "a maioria da equipe é constituída por atletas que são militares ativos das forças armadas da Federação Russa, parte do exército que atacou a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022e que continua a travar uma guerra brutal e de grande escala" e lembra que do lado ucraniano houve centenas de atletas que tentaram travar essa agressão do Kremlin.
"Mais de 250 atletas ucranianos deram a vida para defender o país. Entre eles encontram-se representantes o judo", sublinha-se no comunicado.
A Federação ucraniana acusa ainda a IJF de contrariar a própria resolução de 28 de março, em que definiu que o estatuto de atletas neutros não poderia ser concedido a atletas que também fossem militares.
"Estamos desiludidos e, como tal, decidimos não participar nos Mundiais de Doha", remata o comunicado da FJU.
E noutras modalidades?
A participação de russos e bielorrussos tem sido contestada em diversas provas desportivas internacionais, sobretudo pela Ucrânia, mas não só.
Nas provas da UEFA e da FIFA, a seleção e os clubes russos continuam proibidos, já os bielorrussos estão obrigados a realizar os jogos em casa em estádios neutros.
Para os Jogos Olímpicos, a abertura ainda está a ser ponderada apesar de também haver já uma ameaça de boicote da Ucrânia a Paris 2024.
Rússia e Bielorrússia reclamam de alegada discriminação se o COI for adiante com a autorização de apenas permitir os atletas russos e bielorrussos enquanto neutros, mas a pressão internacional é também grande sobre o comité numa altura em que a violenta invasão russa já ultrapassou dos 14 meses e sem sinais de tréguas no horizonte.
Outras federações desportivas internacionais têm assumido posições dispersas. As de atletismo e equestre prolongaram a suspensão de competidores russos; as de ciclismo, ténis, ténis de mesa, taekwondo e esgrima permitiram a reintegração.
Neste último caso, centenas de atletas condenaram a abertura da FIE aos esgrimistas russos e bielorrussos, e vários países europeus, como a Alemanha e a Polónia, têm-se recusado a organizar eventos da Taça do Mundo de esgrima, que servem de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris.
Na primeira competição de esgrima a contar para a qualificação olímpica, após o levantamento da suspensão pela federação, os esgrimistas russos não puderam competir em Seul, na Coreia, devido a um alegado problema burocrático e a federação russo pediu para que a prova não pontuasse para Paris 2024.
A Federação de Esgrima da Ucrânia apelou a um tribunal da Suíça para que a FIE não fosse adiante com a reintegração de atletas russos e bielorrussos enquanto a guerra se mantiver.
Uma decisão ainda não é conhecida, mas a verdade é que nos próximos eventos da modalidade, na Colômbia, na Bulgária e no México, ainda não há esgrimistas russos e bielorrussos inscritos.