O partido no poder ganhou a maioria dos municípios nas eleições autárquicas da Venezuela, que foram marcadas por uma taxa de participação de 44% e por acusações de irregularidades, coação e falta de garantias democráticas.
O chavismo venceu a maioria das prefeituras em disputa nas eleições municipais de domingo na Venezuela, num dia marcado pela baixa participação e por várias denúncias de desconfiança eleitoral. Entre as vitórias mais significativas do partido governista está a cidade de Maracaibo, capital do estado de Zulia, um tradicional enclave da oposição.
De acordo com o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) venceu 23 dos 29 municípios cujos resultados foram confirmados e mantém uma "tendência irreversível" em 304 dos 335 cargos a serem eleitos. O dia terminou sem uma declaração formal do fim do processo, mas com a maior parte dos resultados já transmitidos.
Um dos resultados mais simbólicos foi a eleição de Gian Carlo Di Martino em Maracaibo, desalojando a oposição de um lugar-chave. O chavismo também manteve o controlo do município de Libertador, em Caracas, onde a presidente Carmen Meléndez foi reeleita e onde se concentram as instituições do poder público nacional.
Apesar do avanço pró-governo, a oposição conseguiu manter Chacao e Baruta, dois municípios do leste de Caracas considerados centros tradicionais de rejeição ao chavismo. Os seus presidentes de câmara, Gustavo Duque e Darwin González, respetivamente, foram reeleitos. Além disso, Fernando Malena, do Movimento Ecológico, venceu em El Hatillo, enquanto o chavismo reconquistou o município de Sucre, onde fica Petare, a maior favela do país.
Baixa participação e tensão política
Com 82,45% das assembleias de voto transmitidas, a CNE registou uma participação de pouco mais de 44% dos cadernos eleitorais, o que representa cerca de 6,27 milhões de eleitores. O processo decorreu sem uma observação internacional independente e num clima de desconfiança generalizada, com alegações de coação e de aproveitamento.
Estas eleições autárquicas realizaram-se exatamente um ano após as controversas eleições presidenciais de 2024, em que Nicolás Maduro foi declarado vencedor no meio de acusações de fraude por parte da oposição, liderada por María Corina Machado e pelo ex-candidato unitário Edmundo González Urrutia. Esse resultado provocou protestos em todo o país, uma onda de repressão sem precedentes e a detenção de mais de 1.900 pessoas por motivos políticos, de acordo com organizações como a Provea.
Desde então, o chavismo reforçou o seu controlo institucional, processando os líderes da oposição e operando sob o que designou por "fúria bolivariana", com detenções em massa e militarização dos espaços públicos. Líderes como Juan Pablo Guanipa, Freddy Superlano e Jesús Armas continuam detidos, enquanto outros operam na clandestinidade ou no exílio.
Consolidação sem verdadeira concorrência
As eleições municipais de domingo, com uma oposição enfraquecida e em grande parte excluída do processo, reafirmaram o domínio do PSUV sobre o aparelho político e territorial do país. O partido no poder não só manteve o controlo dos seus redutos, como também conseguiu avançar em áreas-chave que historicamente representavam resistência política.
Embora o governo insista que os resultados refletem a vontade do povo, analistas e críticos alertam para o facto de estas votações terem tido lugar num contexto sem condições democráticas reais, em que a repressão, a censura e a perseguição sistemática dos dissidentes definem o terreno político.