Donald Trump e Keir Starmer assinaram o que ambas saudaram como um acordo histórico sobre ciência e tecnologia. Apesar de juntos ainda há muito que os separa, com as opiniões a divergirem em temas como imigração e Médio Oriente.
Donald Trump terminou a sua segunda visita de Estado ao Reino Unido na quinta-feira, dizendo que estava "tremendamente grato" pela pompa e ostentação, mas que algumas diferenças fundamentais entre ele e o primeiro-ministro Keir Starmer permanecem.
Quando questionado sobre a falta de progressos na negociação de um acordo para pôr fim à invasão em grande escala da Ucrânia por Moscovo, Trump assumiu que o presidente russo Vladimir Putin "o desiludiu".
Numa conferência de imprensa conjunta entre Keir Starmer e Donald Trump, o primeiro-ministro britâncio explicou que ambos tinham discutido formas de como "aumentar decisivamente a pressão sobre Putin" e que Trump tinha "liderado o caminho".
Embora Starmer tenha desempenhado um papel importante nos esforços europeus para reforçar o apoio dos EUA à Ucrânia, a visita de Trump ao Reino Unido ofereceu poucos avanços significativos.
As diferenças acentuam-se quando o tema é a atual situação no Médio Oriente.
O governo britânico tem criticado cada vez mais a conduta de Israel na Faixa de Gaza e o sofrimento dos civis palestinianos. Starmer classificou a atual situação no território como "uma catástrofe humanitária" e reconheceu a existência de uma divisão com o presidente norte-americano sobre o reconhecimento de um Estado palestiniano.
Apesar da clara divergência, e num sinal de que a ofensiva de charme sobre o presidente dos EUA pode ter funcionado, o desacordo do presidente foi atipicamente cordial.
"Tenho um desacordo com o primeiro-ministro a esse respeito", disse Trump, acrescentando que "é um dos nossos poucos desacordos, de facto".
O primeiro-ministro britânico já confirmou que o país planeia reconhecer um Estado palestiniano em setembro, a menos que Israel concorde com um cessar-fogo em Gaza e tome medidas para uma paz a longo prazo.
Também houve desacordo relativamente à política de imigração, com Trump a instara Grã-Bretanha a adotar uma linha mais dura sobre o tema, reforçando que " quando demasiadas pessoas entram ilegalmente, isso "destrói os países por dentro".
"Há pessoas a entrar e eu disse ao primeiro-ministro que ia parar com isso, e não importa se chamamos os militares, não importa os meios que usamos", disse Trump.
Acordo técnico
Trump e Starmer assinaram o que ambos consideraram ser um acordo histórico em matéria de ciência e tecnologia e que poderá significar ganhos significativos em termos de emprego.
Empresas norte-americanas prometeram investir 150 mil milhões de libras esterlinas (172 mil milhões de euros) no Reino Unido, incluindo 90 mil milhões de libras esterlinas (103 mil milhões de euros) da empresa de investimento Blackstone durante a próxima década.
O investimento também irá fluir no sentido inverso, incluindo quase 40 mil milhões de libras (45 mil milhões de euros) da empresa farmacêutica GSK nos EUA.
As autoridades britânicas afirmam que o acordo trará milhares de postos de trabalho e milhares de milhões de euros de investimento em inteligência artificial, computação quântica e energia nuclear.
O entendimento inclui também um braço britânico da Stargate, um projeto de infraestruturas de IA apoiado por Trump, liderado pela OpenAI, e uma série de centros de dados de IA em todo o Reino Unido.
Autoridades britânicas disseram que não concordaram em descartar um imposto sobre serviços digitais ou diluir a regulamentação da Internet para obter o acordo.
"A ligação entre os nossos países é única no mundo», afirmou Trump na residência oficial do primeiro-ministro britânico.
Starmer afirmou que "uma e outra vez, são homens e mulheres britânicos e americanos, lado a lado, que mudam o rumo da história e a transformam em direção aos nossos valores, à liberdade, à democracia e ao Estado de direito".
Na cerimónia de assinatura do acordo destinado a promover o investimento tecnológico, Starmer referiu-se ao presidente republicano como "meu amigo, nosso amigo" e falou de "líderes que se respeitam e líderes que gostam genuinamente um do outro".
As manifestações de admiração mútua seguiram-se à festa que o rei Carlos III e a rainha Camila fizeram a Trump e à primeira-dama Melania Trump no Castelo de Windsor, na quarta-feira, incluindo a maior guarda de honra militar alguma vez reunida para uma visita de Estado. O presidente dos Estados Unidos disse estar grato pela hospitalidade.