O festival é um dos principais eventos internacionais dedicados à abordagem dos direitos humanos e suas violações sob o prisma do cinema.
Na sua 17th edição, o Festival Internacional de Cinema e Fórum sobre os Direitos Humanos, realizado em Genebra, é um dos principais eventos internacionais dedicados à abordagem dos direitos humanos e suas violações sob o prisma do cinema.
Durante 10 dias, o festival incluíu cerca de 200 eventos e a apresentação de 47 filmes, quase todos esgotados, em paralelo à sessão de alto nível do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Cada vez mais, as pessoas têm necessidade não só de compreender o mundo mas também de colocar questões, de reunir-se, de denunciar e de encontrar soluções concretas. O que pretendemos com a apresentação destes filmes no festival, é que as pessoas pensem: nunca tinha visto o mundo desta maneira," comentou Isabelle Gattiker, diretora do festival.
**Em destaque: Ximei, de Andy Cohen & Gaylen Ross
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Entre os destaque desta edição do festival, esteve o filme Ximei, realizado por Andy Cohen e Gaylen Ross. Trata-se de um documentário sobre uma camponesa da província de Henan, na China, que ficou infectada com o vírus da SIDA no final dos anos 90, na sequência de uma campanha do governo chinês com vista a encorajar os cidadãos sem recursos a venderem o seu plasma sanguíneo.
Doadores e receptores de sangue foram infectados com o vírus VIH devido a equipamentos contaminados e condições sanitárias precárias, que desencadearam uma epidemia.
Liu Ximei tinha dez anos quando o seu cabelo ficou preso numa máquina agrícola. Tendo perdido muito sangue foi infectada pelo vírus por transfusão de sangue contaminado. Perdeu até hoje muitos amigos também infectados.
A epidemia documentada no filme foi seguida por um encobrimento escandaloso, uma espécie de omertà [lei de silêncio]. As autoridades locais tentam intimidar Ximei e fecham a casa que abrira para vítimas da SIDA.
A presente estimativa do número de vítimas da epidemia é de 300.000 e a camponesa luta para assegurar medicação adequada e para superar a discriminação social e legal de que são alvo.
O realizadores do documentário, que tiveram telefones sob escutas, mensagens eletrónicas interceptadas, e chegaram a ver confiscadas partes das filmagens, passaram sete anos a tentar abordar oficiais chineses sobre a epidemia.
O produtor executivo do filme é nada mais nada menos que o grande artista chinês Ai Weiwei.
“Vivemos numa sociedade onde os inquéritos não são independentes e o jornalismo não é livre. Muitos casos de violações de direitos humanos são encobertos. É difícil para um realizador fazer um filme como este. A China é uma sociedade fortemente controlada. E um filme como este é visto como algo de subversivo,” afirmou.
“Estou muito feliz e orgulhosa deste filme. Para mim e os meus amigos que estão preocupados com esta questão, o filme é um meio para falar sobre esta situação e tornar pública a nossa causa. Lutei por muito tempo sozinha,” explicou Liu Ximei.
Referindo-se a Liu Ximei, o realizador Andy Cohen declarou que esta “é basicamente uma super heroína da era moderna. E não precisamos de nenhuns efeitos especiais.”
“É muito importante honrar e apoiar mulheres como Ximei, que é de uma corajem incrível e tudo o que faz, fá-lo muitas vezes sozinha e sem apoio, esteja ou não em frente da câmera. Precisamos de mais mulheres no mundo como Liu Ximei,” acrescentou Gaylen Ross.
O documentário teve a sua estréia mundial no Festival Internacional de Cinema e Fórum sobre os Direitos Humanos, em Genebra, e busca agora distribuição a nível internacional.