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Uma "caixa de Pandora de tormentos": quais são as prioridades climáticas do líder da ONU para 2025?

António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, fala durante uma conferência de imprensa na COP29.
António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, fala durante uma conferência de imprensa na COP29. Direitos de autor  AP Photo/Sergei Grits
Direitos de autor AP Photo/Sergei Grits
De Rosie Frost
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, recordou ao mundo que, desde a assinatura do Acordo de Paris, todos os anos têm sido os mais quentes de que há registo.

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A Humanidade abriu uma "caixa de Pandora de tormentos" que corre o risco de pôr em causa "a sua própria existência", considerou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Ao apresentar as suas prioridades para este ano, num discurso proferido na quarta-feira, na Assembleia Geral, a “crise climática” foi um dos temas abordados por Guterres.

Na sua ótica, os incêndios em Los Angeles são um exemplo da "caixa de Pandora" dos impactos das alterações climáticas.

"Passou de cenário de filmes de catástrofe a um cenário de catástrofe", afirmou Guterres na Assembleia Geral, em Nova Iorque.

O chefe da ONU chamou ainda a atenção para as empresas de combustíveis fósseis que estão a "colocar nos bolsos os lucros e os subsídios dos contribuintes, enquanto os seus produtos continuam a causar estragos", afirmando que não serão elas a pagar o preço.

Em vez disso, serão todos aqueles cujas vidas e meios de subsistência sofrerão com prémios de seguro mais elevados, faturas da eletricidade voláteis e preços dos alimentos mais altos.

Todos os anos, desde o Acordo de Paris, foram batidos recordes anuais de temperatura, com 2024 a ter ultrapassado os 1,5ºC. Embora estejamos a fazer "descer lentamente a curva", é necessário tomar medidas importantes, este ano, para evitar o pior cenário possível.

Quais são, então, as principais prioridades do líder da ONU no que diz respeito ao clima para 2025?

É altura de acelerar a implantação das energias renováveis

"A revolução das energias renováveis é imparável e as pessoas comuns irão beneficiar: com custos de vida mais baixos e melhor saúde; segurança energética, soberania energética; bons empregos; e milhões de pessoas ligadas a energia barata e acessível", afirmou Guterres.

Na COP28, realizada no Dubai em 2023, quase 120 países comprometeram-se a triplicar a capacidade de energia renovável até 2030. De acordo com a Agência Internacional de Energia, as metas energéticas dos governos estão a ficar aquém deste objetivo.

Mas nem tudo são más notícias. A AIE afirma que o crescimento do setor das energias renováveis pode ultrapassar as ambições limitadas dos governos mundiais.

A agência acredita que a capacidade de produção de energia renovável a nível mundial está a caminho de ultrapassar os objetivos estabelecidos pelos governos para 2030, ou seja, igualar a produção combinada da China, da UE, da Índia e dos EUA.

Emissões globais devem atingir o pico este ano

De acordo com Guterres, "as emissões globais devem atingir o pico este ano e diminuir rapidamente a partir daí, se quisermos ter uma réstia de esperança de limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5 graus".

Este ano, todos os países terão de apresentar novos planos climáticos nacionais, conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), que se alinham com o objetivo de 1,5°C. De acordo com o líder da ONU, os países devem reduzir as emissões em 60% até 2035, em comparação com os níveis desse ano.

"E devem mostrar como cada país irá contribuir para os objetivos globais acordados na COP28 - sobre a desflorestação e a transição energética."

"O G20 deve liderar, dada a escala das suas emissões. Tudo isto deve ser alcançado de acordo com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas".

Um balanço dos planos climáticos dos países

Com estes planos climáticos previstos para o início deste ano, Guterres apelou a um balanço das Contribuições Nacionalmente Determinadas dos países para verificar se os seus progressos estão em conformidade com os objetivos climáticos internacionais.

"Iremos convocar um evento especial para fazer o balanço dos planos de todos os países, promover ações para manter o objetivo de 1,5ºC ao nosso alcance e garantir a justiça climática", referiu.

A COP30 terá lugar em Belém, no Brasil, no final deste ano. Depois de um resultado dececionante e confuso da COP29, em Baku, Azerbaijão, em dezembro do ano passado, a ONU vai tentar pressionar os países a aumentarem as suas ambições.

Eliminar gradualmente os combustíveis fósseis

"A batalha pelos 1,5ºC não pode ser ganha sem uma eliminação rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis a nível mundial", disse António Guterres, na Assembleia Geral.

"Atualmente, os governos de todo o mundo gastam nove vezes mais para tornar os combustíveis fósseis mais baratos do que para tornar as energias limpas mais acessíveis para os consumidores."

Atualmente, os governos de todo o mundo gastam nove vezes mais para tornar os combustíveis fósseis mais baratos do que para tornar as energias limpas mais acessíveis para os consumidores.
António Guterres
Secretário-geral da ONU

Obstáculos como os elevados custos de capital - despesas únicas para a criação de projetos - estão a impedir os países de colherem os benefícios da energia eólica e solar e devem ser eliminadas, acrescentou.

Os peritos afirmam que, para manter o aquecimento global abaixo de limites perigosos, as Contribuições Nacionalmente Determinadas têm de incluir planos para os países eliminarem gradualmente os combustíveis fósseis. Mas tem havido uma grande resistência por parte dos países produtores de petróleo à inclusão desta frase específica em quaisquer acordos internacionais.

Financiamento da luta contra as alterações climáticas deve ser assegurado na íntegra

Guterres concluiu afirmando que o mundo tem de assegurar o financiamento da luta contra as alterações climáticas "de forma generalizada" e que é necessário proceder a uma reforma da arquitetura financeira internacional.

Isto inclui o cumprimento do acordo da COP29 sobre financiamento, que prevê que os países ricos se comprometam a disponibilizar 300 mil milhões de dólares (292 mil milhões de euros) por ano até 2035. Muitos países em desenvolvimento afirmaram que essa data seria pouco ambiciosa e demasiado tardia.

"As Nações Unidas ajudarão a mobilizar apoio para transições energéticas justas", acrescentou Guterres.

"Ajudaremos a impulsionar a aplicação do preço do carbono e a redução dos subsídios aos combustíveis fósseis. E apoiaremos a liderança das presidências da COP29 e da COP30 para apresentar um roteiro credível para mobilizar 1,3 biliões de dólares (1,27 biliões de euros) por ano, necessários para apoiar a ação climática no mundo em desenvolvimento."

O líder da ONU acrescentou que chegou o momento de implementar fontes de financiamento novas e inovadoras, incluindo a responsabilização dos poluidores pelos danos que causaram. Os países desenvolvidos devem também duplicar o financiamento de adaptação para, pelo menos, 40 mil milhões de dólares (39 mil milhões de euros) por ano e devem ser implementados sistemas de alerta precoce para todo o mundo.

Para pôr as coisas em perspetiva, o montante prometido até à data é inferior ao contrato recentemente assinado por um jogador de basebol na cidade de Nova Iorque.
António Guterres
Secretário-geral da ONU

"E precisamos de uma transformação na abordagem mundial às perdas e danos, com um grande impulso para o novo Fundo", afirmou António Guterres.

"Para pôr as coisas em perspetiva, o montante prometido até à data é inferior ao contrato recentemente assinado por um jogador de basebol em Nova Iorque."

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