Sul de Itália sofre com o desemprego

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Os desempregados amontoam-se à porta deste centro de emprego em Bari, no sul de Itália. A manhã está gelada e a moral também. As enchentes, aqui, percebem-se: o mercado de trabalho italiano está debaixo de pressão. Muitas empresas recorrem ao trabalho em “part-time” ou acordos de desemprego técnico, sob pena de terem de fechar.

Os jovens são os primeiros a serem atingidos pela tempestade, que afeta setores como os têxteis ou o mobiliário no sul. O trabalho não declarado também está a crescer. Para muitos jovens, trabalhar sem contrato é a única experiência que têm.

Durante vários anos, o desemprego jovem em Itália oscilou entre os 20% e os 25%. O que é um número muito mau, comparado com os dez por cento da Holanda, por exemplo. Agora, o número subiu para os 37%.

Aceitar trabalho sem contrato significa poder ser despedido em qualquer altura, não ter segurança social nem proteção jurídica.

Recusar o trabalho sem contrato e denunciar às autoridades são os conselhos de Ida Ziccolella, conselheira no Centro de Emprego, a todos os que caem nesta armadilha. Os esquemas de desemprego técnico, ou “lay-off”, multiplicaram-se nos últimos anos, deixando a classe trabalhadora numa espécie de limbo entre o trabalho e o desemprego: “Há muita gente a trabalhar sem contrato. O desemprego técnico é um esquema que motiva as pessoas a recorrerem ao trabalho não declarado. As pessoas nesta situação ganham entre 700 e 800 euros por mês, por isso vão trabalhar em biscates. Conheço casos de pessoas que usam estes mecanismos há 22 anos, que estão em desemprego técnico e recebem o salário, ao mesmo tempo que trabalham o dia inteiro, ilegalmente, noutro sítio”.

Devido à crise, o volume de negócios das empresas da área industrial de Bari caiu para metade, segundo Vito Belladonna, pesquisador nesta área, na região da Apúlia. Aponta o abuso dos esquemas de desemprego técnico e mostra-nos que o trabalho não declarado representa 40% de todo o mercado de trabalho: “A quebra na faturação levou muitos donos de empresas a despedir trabalhadores ou a entrar em esquemas ilegais. Ou então as duas coisas: primeiro despedi-los e depois fazê-los trabalhar, de forma ilegal, sem contrato”, explica.

O pessoal médico manifesta-se frente a este edifício do governo regional. Há dez anos que estão situação precária. Ao mesmo tempo, a Apúlia fez um grande investimento na educação, o que deveria ter consequências ao nível do emprego. Infelizmente, isso nem sempre parece acontecer.

Fomos ao encontro da jovem fotógrafa Martina, de Claudio e Michele, à aldeia de San Vito dei Normanni. Marina está a preparar uma exposição sobre os jovens desempregados como Claudio, marinheiro, e Michele, mecânico.

A União Europeia tem um novo programa para abrir o mercado de trabalho aos mais jovens: “A ideia é oferecer algo, um trabalho ou um esquema de requalificação, quatro meses depois do fim da escola ou do centro de formação. mas isso não é realista, tendo em conta os tempos difíceis que estamos a viver”, diz Claudio. Michele não concorda: “Na minha opinião, esta proposta da União Europeia é uma ideia muito boa. Dá-nos a oportunidade de entrar no mercado de trabalho poucos meses depois da escola ou da formação. Muitos jovens são obrigados a esperar um ou dois anos antes de terem uma oferta de emprego. Por isso, este programa da garantia jovem é uma excelente ideia”.

Enquanto muitas indústrias tradicionais no sul de Itália sofrem com a globalização, outras, como a Black Shape, beneficiam com ela. Esta “start-up” exporta aviões ultraleves e tem planos ambiciosos.

Graças aos conhecimentos adquiridos com a formação e estágios, Vito Bottalico conseguiu entrar para o quadro: “Quando era criança, gostava de construir modelos de aviões. De manhã à noite, brincava com eles. Construía-os, desmontava e depois voltava a construir. O meu sonho era, e ainda é hoje, montar coisas. Os estágios ajudam a entrar no mundo do trabalho. Graças a eles, adquirimos teoria, prática e trabalho. É a base de tudo”.

As eleições aproximam-se. O que vai o próximo governo fazer quanto ao mercado de trabalho? “Precisamos de regras claras: o trabalho ilegal tem de acabar. A evasão fiscal tem de ser travada, porque tira as receitas fiscais ao governo. Por outro lado, as empresas que respeitam as regras e criam emprego devem ser recompensadas”, diz Angelo Petrosillo, fundador da empresa.

Um prémio? O próximo governo deve reduzir os custos da mão-de-obra, segundo os gestores da Apúlia. Estamos na Mermec, líder mundial em sistemas de controlo de comboios. O presidente da empresa aponta-nos os pontos fortes da região: “De todas as regiões de Itália, a Apúlia é a que mais usa os fundos da União Europeia para a pesquisa e inovação. Isso dá bons resultados. enquanto em todo o sul, em 2011 e 2012, o desemprego esteve a subir, na Apúlia desceu”, diz Vito Pertosa, presidente da Mermec.

Mas como trazer para o mercado de trabalho toda esta gente que faz fila no centro de emprego de Bari? O problema das estatísticas é que não levam em conta as pessoas que estão em esquemas como o desemprego técnico. Durante a negociação do orçamento 2014-2020, os chefes de Estado e governo atribuíram seis mil milhões de euros à abertura do mercado de trabalho aos jovens. A Itália vai receber uma boa parte, mas será que o próximo governo dará o melhor uso a este dinheiro?

Clique aqui para ver a entrevista completa com Ida Ziccolella, do Centro de Emprego de Bari (em italiano).
Bonus intervista: Ida Ziccolella

Veja aqui a entrevista completa (em italiano) com Vito Belladonna, perito em trabalho ilegal.
Bonus intervista: Vito Belladonna

O presidente do grupo Mermec fala sobre a inovação no sul de Itália e os desafios do mercado de trabalho (entrevista em italiano).
Bonus intervista: Vito Pertosa

O fundador da Black shape explica o que pensa sobre a situação económica e o mercado de trabalho no sul de Itália (entrevista em italiano).
Bonus intervista: Angelo Petrosillo

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