Primatóloga Jane Goodall pede urgência para salvar o planeta

Primatóloga Jane Goodall pede urgência para salvar o planeta
Direitos de autor REUTERS/Cooper Inveen
De  Isabel Marques da SilvaShona Murray
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Primatóloga Jane Goodall pede urgência para salvar o planeta

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A inglesa Jane Goodall é uma das primatólogas mais famosas do mundo e considerada a maior especialista em chimpanzés, que começou a estudar, em 1960, no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia.

Fundadora do Instituto Jane Goodall, a cientista desenvolveu um grande volume de trabalho sobre conservação da natureza e bem-estar animal e é, desde 2002, Mensageira da Paz da ONU. De passagem por Bruxelas, falou dos desafios para o planeta com a correspondente da euronews, Shona Murray.

Proximidade entre humanos e chimpanzés

"Partilhamos com eles 98,6 por cento da composição do ADN e os cientistas dizem-me que a principal diferença está na expressão dos genes. É um equívoco comum pensar que descendemos dos macacos. Há cerca de seis milhões de anos, tanto os macacos como os humanos tinham um antepassado em comum e desse antepassado saiu uma ramificação para os humanos e outra para os grandes símios".

"Aquilo que mais me impressiona é que, não só os chimpanzés são parecidos conosco a nível biológico, mas também nos seus comportamentos. Falo, em concreto, da sua psicologia. Nós comunicamos com palavras, mas também recorremos a gestos e atitudes, tal como fazem os chimpanzés. Estou a referir-me a beijos, abraços, andar de mãos dadas, pequenas mordidas, brincadeiras, pedir comida, pavonear-se, a competição entre os machos".

Utilização de animais para testes de laboratório

"Fico literalmente doente com isso. É a razão pela qual passo 300 dias por ano a viajar, que me reúno com gestores de empresas, que discurso nos parlamentos e que tento trabalhar em particular com os jovens. O verdadeiro perigo é as pessoas ficarem tão zangadas que se tornam violentas. Não vamos a lado nenhum com isso. Descobri que a única maneira de mudar uma pessoa é falar-lhe ao coração e a melhor maneira de fazer isso é contar histórias".

O verdadeiro perigo é as pessoas ficarem tão zangadas que se tornam violentas. Não vamos a lado nenhum com isso. Descobri que a única maneira de mudar uma pessoa é falar-lhe ao coração e a melhor maneira de fazer isso é contar histórias".

"Veja o caso dos ativistas em defesa dos animais, quando querem falar com os líderes das empresas que fazem testes com animais. Nessas ocasiões usam linguagem agressiva e apontam o dedo. Na realidade, isso não ajuda, as pessoas sentem-se atacadas e querem erguer muros, como é o caso de Donald Trump na fronteira dos EUA com o México. Se não se conversar com as pessoas, como se pode esperar que mudem? Eu prefiro mostrar vídeos de chimpanzés e contar as histórias que aprendi sobre eles ao longo dos anos".

Práticas da agroindústria em grande escala

"Fico totalmente horrorizada com o que estamos a fazer na agroindústria. Há um porco a quem chamam, em inglês, Pig Casso, num trocadilho com o pintor Picasso. Esse porco foi salvo do abate, na Cidade do Cabo, por uma artista que tem um pequeno santuário para animais de quinta. Essa artista notou que o Pig Casso a observava com entusiasmo sempre que ela pintava, e um dia colocou à disposição dele um cavalete e um pincel. Este porco adora pintar! Mostro imagens dele a muita gente e, recentemente, uma pessoa disse que me detestava. Perguntei porquê e respondeu que já não conseguiria comer bacon"!

Futuro do planeta

"Temos pouco tempo para agir, não pode ser apenas a juventude a fazê-lo. Todos devem contribuir. A natureza é resiliente. Quando destruímos um lugar vemos que, ao fim de algum tempo, a natureza se recompõe. Há, também, um aspeto importante no espírito humano que é a vontade de fazer algoque parece impossível. Tenho esperança, mas resta muito pouco tempo para agir".

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