A arte de sobreviver à pandemia

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De  Hans von der BrelieGábor Kiss & Euronews
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Com o cancelamento dos espectáculos, artistas e técnicos estão a ser particularmente afetados pela covid-19. Profissionais das artes contam como é sobreviver à pandemia na Alemanha e na Hungria. #UnreportedEurope

É numa acolhedora casa de madeira, em Frankfurt, que vive Willy Wagner, um contrabaixista duramente atingido pela covid-19 nas economias.

Willy fez vozes de apoio para artistas e bandas como Michael Jackson, Ringo Starr, Fugees, The Cure, entre tantos outros, mas a pandemia roubou-lhe os concertos e com eles o modo de subsistência.

Quando não está em digressão, Willy está a ensinar. Agora, as aulas são dadas através da aplicação What's-App.

"A covid-19 colocou o pior cenário para nós, artistas independentes, subitamente a nossa profissão deixou de existir. O vírus tirou-nos o tapete. Nos próximos três meses ia ganhar 8050 euros e depois disso ia haver algumas datas muito boas, duas ou três digressões pequenas. Mas agora, estou a receber apenas 740 euros por mês do centro de emprego", lamenta.

Calaram-se os violinos

Leipzig acolheu, em tempos, Bach e hoje é a casa da família Zwiener. Nadja e o marido tocam música barroca e, por esta altura, sem a covid-19, estariam em Nova Iorque, para os concertos de Nadjia.

Mas com a pandemia, o Carnegie Hall ainda se encontra fechado. Por agora, a casa de Nadja é o único palco possível para dar voz ao violino do século XVIII.

"No total, já perdemos cerca de 35 mil euros. Isso significa que, de momento, temos de viver sobretudo do dinheiro que poupámos para a nossa reforma... Os meus colegas do Reino Unido têm a oportunidade de reclamar cerca de 80% do seu rendimento médio, calculado nos últimos três anos, é uma espécie de subsídio de curta duração. Acho esta solução muito melhor do que o sistema alemão de subsídio sem emprego, que considero ser um instrumento absolutamente paternalista e burocrático".

O drama dos festivais

Em Budapeste, o Sziget Festival é um dos maiores festivais da Europa. Só no ano passado, teve mais de meio milhão de visitantes. Em 27 anos, este vai ser o primeiro com o recinto vazio. 

Na Hungria, todos os eventos com mais de 500 participantes estão proibidos até 15 de Agosto. Os cinco festivais geridos pela empresa organizadora também tiveram de ser cancelados. Milhares de pessoas perderam os empregos. A organização estima estarem em causa 10 mil postos de trabalho.

Tamás Kádár, diretor executivo do Sziget Festival diz que "para todos os organizadores de concertos e festivais é muito difícil lidar com esta situação quando não há dinheiro em caixa, nem rendimentos". O facto de terem "de pagar o preço dos bilhetes comprados antecipadamente" é uma das situações que está a levantar problemas "que nunca tinham tido de enfrentar".

Perante a falta de alternativas, o reembolso os clientes pelos bilhetes é obrigatório. "Nunca trabalhámos tanto para não ter um festival", desabafa.  

Apoio aos pares

István Bygyó é especialista em amplificadores eletrónicos. Tal como muitos engenheiros de som, técnicos de iluminação, motoristas, ou assistentes de bastidores, depende do Sziget e de outros festivais para viver.

Este ano não seria exceção, mas agora todos os contratos estão sem efeito. Para pagar as contas, István encontrou um emprego temporário num hipermercado com entregas online. E, nos tempos livres, lançou uma angariação de fundos para ajudar artistas e técnicos em situação semelhante.

Numa semana, conseguiu chegar aos cinco milhões de Forints, cerca de 14 mil euros.

"A angariação de fundos é para pessoas - e eu conheço algumas - que tiveram de ficar em casa com os filhos, porque as escolas estavam fechadas e os parceiros é que têm emprego a tempo parcial. Há também pessoas com empréstimos, mas que não conseguem pagá-los, porque agora não podem trabalhar", explica.

Crianças sem concertos

Última paragem: Nürnberg, no sul da Alemanha. É aqui que Geraldino, artista e homem dos sete ofícios cria objetos de arte a partir de brinquedos. Às peças chama "pizza de arte".

Mas em casa, o almoço está longe de ser uma criação artística e fica-se pelos ingredientes mais baratos.

Geraldino é um cantor e compositor de sucesso na área da música popular para crianças e dirige o seu próprio festival de canções infantis. Hoje em dia, vive zangado com o governo.

"A indústria automóvel, a Adidas, a Puma, as companhias aéreas recebem um enorme apoio. Mas as pessoas comuns que já não têm rendimentos, ficam de fora. Na minha opinião, isto é um escândalo... É injusto para nós, os artistas pequenos e independentes. Isto não é aceitável", protesta.

A Baviera lançou um programa de apoio de emergência, que atribui aos artistas independentes mil euros por mês. Para Geraldino, não basta.

"Este ano, tínhamos 100 atuações agendadas. Já estão canceladas cerca de 40 e não há nada em preparação para 2021".

Ao lado, Claudia Martin, gestora cultural, responde que "ninguém sabe como a epidemia vai evoluir" e relembra que "os políticos não podem dizer se vamos ter autorização para recomeçar a 100 por cento em Setembro, ninguém pode prever."

Mas returque que "enquanto o trabalho for limitado, devíamos ter direito a alguma compensação, pelo menos a 60 porcento do nosso rendimento habitual".

Agora, em vez de tocar em festivais ao som dos aplausos de cerca de 3000 crianças, Geraldino canta canções sobre piratas no próprio bairro para a vizinhança.

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