O papel da Alemanha na resposta europeia à crise criada pela pandemia é abordado na entrevista a Luca Jahier, presidente do Comité Económico e Social Europeu (CESE), uma assembleia consultiva composta por patronato, sindicatos e outros grupos da sociedade civil.
O choque e a indignação nos Estados Unidos da América pela morte de um homem desarmado sob custódia policial atingiram o ponto de ebulição esta semana, tendo mesmo chegado à Europa.
Nas cidades de Londres, Berlim e Amsterdão, milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas contra a violência policial e para expressarem apoio aos afro-americanos que têm sido atingidos por tragédias semelhantes repetidas vezes.
A Comissão Europeia fez comentários em tom diplomático, mas bastante claro, sobre este caso, pela voz do vice-presidente para a Política Externa, Josep Borrell: “Apoiamos o direito aos protestos pacíficos e condenamos a violência e o racismo de qualquer tipo. Pedimos uma diminuição das tensões".
"Confiamos na capacidade dos norte-americanos de se unirem e de se confortarem enquanto Nação. Permitam-me repetir que todas as vidas são importantes e que as vidas dos negros também são importantes", acrescentou Borrell.
Outro tema em destaque neste programa é a decisão do governo alemão de aprovar um pacote adicional de 130 mil mlhões de euros para combater, internamente, o impacto económico da crise da Covid-19.
O papel da Alemanha na resposta europeia à crise criada pela pandemia é abordado na entrevista a Luca Jahier, presidente do Comité Económico e Social Europeu (CESE), uma assembleia consultiva composta por patronato, sindicatos e outros grupos da sociedade civil.
Stefan Grobe/euronews: O senhor disse que 2020 entrará na História como um ponto de viragem positivo para a Europa, graças à Covid-19. Pode explicar melhor?
Luca Jahier/presidente CESE: Em primeiro lugar, sabemos que a Europa sempre levou a cabo as mudanças em três etapas: a primeira é a crise, a segunda é o caos e a terceira é a solução insuficiente. Um proceso que geralmente leva muito tempo. Depois da União Europeia ter reconhecido a dimensão da pandemia, a 13 de março, tudo mudou em menos de quatro semanas. Foram tomadas decisões sem precedentes, foi desencadeada solidariedade sem precedentes, houve suspensões sem precedentes de tabus fundamentais. Alguns exemplos são a suspensão do Pacto de Crescimento e Estabilidade e dos regulamentos em matéria de auxílios estatais, mas houve muitas outras decisões, tomadas no espaço de cinco a sete dias, tanto pelo Conselho, como pelo Parlamento e pela Comissão. Então, tudo mudou.
Stefan Grobe/euronews: Certamente que é um ponto de viragem de âmbito histórico o facto da chanceler alemã, Angela Merkel, ter decidido que tinha chegado o momento da Alemanha partilhar o risco de dívida emitida a nível europeu. Diria que esse poderá ser o maior legado político para a Europa?
Luca Jahier/presidente CESE: Penso que houve duas contribuições, dois anúncios que evidenciam a reviravolta feita pela Alemanha liderada por Angela Merkel. Uma foi o discurso histórico do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, no passado dia 8 de maio, por ocasião do 75º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos nazis. Duas ideias abalaram-me nesse discurso extraordinário. Uma é a definição da Alemanha como um "coração partido" e a segunda é a frase "assumimos o compromisso de nunca mais ficarmos sozinhos". A Europa é atualmente um coração partido, necessitando de cuidados, de remédios, de recuperação e reconstrução. E essa decisão da Alemanha de "nunca mais ficar sozinha'" é a base fundamental para esta decisão tão impressionante. Portanto, houve um ponto de viragem na Alemanha.
Stefan Grobe/euronews: Tendo isso em conta, o que espera da presidência rotativa da União Europeia a cargo da Alemanha a partir de 1 de julho?
Luca Jahier/presidente CESE: Penso que a presidência alemã tem que liderar essa reviravolta a que deu início. Não vai ser fácil.