ONU convida UE a receber mais de 40 mil afegãos em cinco anos

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De  Pedro Sacadura
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Durante um fórum europeu de alto nível sobre reinstalação de afegãos em risco, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, lembrou que a situação no Afeganistão deverá agravar-se e pediu esforços adicionais à Europa

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Proteger afegãos em risco: na Europa continua a ser mais fácil falar do que fazer.

Um círculo vicioso que preocupa, e muito, pessoas como Akram. O cidadão belga de origem afegã vive atormentando com os relatos angustiantes de quem não conseguiu sair do Afeganistão desde que os talibãs regressaram ao poder.

“Infelizmente, as pessoas que foram retiradas [do Afeganistão] têm origem afegã, mas são também cidadãos europeus ou residentes na Europa. Para os locais, infelizmente, não houve muitas oportunidades de poder sair, pelo menos para quem realmente se sentia em perigo. (...) Há muitas pessoas com bons motivos e documentos que atestam que correm perigo de vida”, sublinhou Akram, em entrevista exclusiva à Euronews.

Um fórum europeu de alto nível sobre proteção de afegãos em risco reuniu, esta quinta-feira, de forma remota, representantes dos Estados-membros da União Europeia (UE), do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A urgência de ofertas adicionais de vários países para acolher pessoas vulneráveis como ativistas de direitos humanos, jornalistas, mulheres ou crianças por exemplo, foi tema de destaque durante o encontro.

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados pediu à União Europeia para receber cerca de 42.500 afegãos nos próximos cinco anos.

Fillipo Grandi estima que 85 mil refugiados venham a precisar de ser reinstalados a partir dos países vizinhos do Afeganistão durante esse período e, por isso, convidou a Europa a dividir responsabilidades.

Os Estados-membros, que já receberam cerca de 22 mil afegãos de o início da crise no país, não avançaram, pelo menos para já, compromissos.

A comissária europeia com a pasta dos Assuntos Internos, Ylva Johansson falou numa "meta alcançável", mas acrescentou que "alguns Estados-membros não podem tomar essa decisão agora pois estão em [processo] de plena formação de governo." É o caso da Alemanha.

Também ressalvou que "os países levarão em consideração outras formas de proteger as pessoas." 

Deixou igualmente claro que neste momento os Estados-membros estão em processo de definir números para reinstalação para o próximo ano e que os países do bloco europeu "estão prontos para aumentá-los."

A comissária manifestou-se satisfeita com os resultados do fórum, mas sublinhou: "A reinstalação, evacuação e readmissão humanitária são [de base] voluntária para os Estados-Membros. Estou muito satisfeita por termos quase todos os Estados-Membros presentes [neste fórum] e a nível ministerial. (...) O que é um pouco mais urgente é a evacuação. É possível ajudar as pessoas que estão sob ameaça no Afeganistão neste momento, por exemplo porque lutam pelos direitos humanos ou pelos direitos das mulheres.”

Durante o encontro, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para um Mecanismo Europeu multianual de Apoio a Afegãos em risco. Outras vias legais e seguras para proteção destas pessoas poderão ser contempladas.

ONG's pedem mais ação

A Oxfam juntou-se a outras organizações não-governamentais (ONG's) para pedir ambição aos líderes europeus, em matéria de acolhimento, e para garantir uma "tábua de salvação" para os afegãos.

Para além da readmissão, apelaram a que se usem todas as vias legais complementares de apoio como vistos humanitários, reunificação familiar e vistos de trabalho, por exemplo.

Evelien van Roemburg, responsável pela Oxfam UE, sublinhou, em entrevista à Euronews, que a Europa tem um "papel importante" a desempenhar.

Acrescentou que "em vez de se concentrarem na dissuasão, os líderes políticos deveriam focar-se, antes, na proteção [de afegãos]."

O Afeganistão é um país à beira do colapso económico, onde a fome a falta de recursos agravam ainda mais a situação.

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“Antes da chegada do inverno afegão é preciso fazer o máximo para que a ajuda humanitária, seja a nível alimentar ou a nível de medicamentos, chegue o mais rápido possível. Há ainda o risco de tudo degenerar numa crise sanitária. Penso que desta forma a Europa poderá mostrar a sua grandiosidade", ressalvou Akram, cidadão belga de origem afegã.

Para que isso aconteça, os Estados-membros terão, no entanto, de estar alinhados.

Em entrevista à Euronews, o eurodeputado socialista espanhol Juan López Aguilar, que preside a comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos (LIBE) do Parlamento Europeu, lembrou que "os Estados-Membros e a União estiveram de mãos dadas com a presença da NATO e dos EUA no Afeganistão." Por isso, acrescentou, "estabeleceram-se ligações com pessoas que defenderam os valores da UE e assumiram riscos. Agora, a sua integridade está em perigo. Têm direito à assistência da União Europeia."

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