Viagem com Macron a Pequim leva na bagagem muito ceticismo
Não foi com meias palavras que Ursula von der Leyen deu o mote da visita que faz esta semana à China, juntamente com Emmanuel Macron.
A presidente da Comissão Europeia não esconde que quer desafiar o domínio chinêsem vários setores e, no fundo, reavaliar as relações diplomáticas e económicas com o gigante asiático.
Von der Leyen fala nos riscos desta "nova era de controlo", entre "políticas de desinformação e coerção económica". Afinal, há indícios de que as coisas mudem realmente?
"Aos principais intervenientes, como a Alemanha e a França, e aos círculos de negócios nestes países, interessa-lhes realmente manter as relações comerciais como estão. Macron e a sua delegação de empresários são um sinal de que a cooperação económica continua no topo da agenda de Paris. Mas também, na União Europeia como um todo, e isso viu-se no discurso de Von der Leyen, a Europa não tem um estilo de dissociação como os Estados Unidos", aponta Alicja Bachulska, do Centro Europeu de Política Externa.
Identificar os riscos das relações com Pequim significa poder eliminá-los? Bachulska considera que "é muito, muito difícil na prática, dado o alcance do revisionismo de Xi Jinping, a forma como a economia tem sido politizada na última década e também dadas as suas ambições, de criar dependências que protejam a China de choques externos".
Por seu lado, o presidente francês já exprimiu que gostaria de arrefecer as relações entre Moscovo e Pequim, mas a aproximação crescente não parece dar-lhe grande margem de manobra. No entanto, as recentes ameaças de mobilização nuclear por parte da Rússia alimentam os seus argumentos.
Segundo Antoine Bondaz, da Fundação para a Pesquisa Estratégica, "é claro que o presidente Macron tem legitimidade para abordar esse assunto com a China, por duas razões. Primeiro: a França é uma potência nuclear. Segundo: ao contrário dos Estados Unidos e Reino Unido, a França não tem nenhum acordo de partilha nuclear. O presidente francês tem de estar muito ciente da margem limitada que tem com Xi Jinping. Comparada com a China, a França é um peso pluma, embora seja um membro permanente do Conselho de Segurança. É uma relação muito assimétrica e Macron tem poucos argumentos para convencer Xi Jinping. Não custa tentar. É bom ter um canal de comunicação aberto, mas temos de ser muito realistas e refrear as nossas expetativas".
Da dependência tecnológica aos dilemas éticos, o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, resume: "A China é, ao mesmo tempo, um parceiro comercial e um rival sistémico".