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“Erro histórico”: Von der Leyen exclui retorno aos combustíveis russos após a guerra

Ursula von der Leyen excluiu a possibilidade de um regresso aos combustíveis fósseis russos após o fim da guerra.
Ursula von der Leyen excluiu a possibilidade de um regresso aos combustíveis fósseis russos após o fim da guerra. Direitos de autor  Antonin Utz/AP
Direitos de autor Antonin Utz/AP
De Jorge Liboreiro
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“A dependência da Rússia não é apenas negativa para a nossa segurança, mas também para a nossa economia”, disse Ursula von der Leyen, no Parlamento Europeu.

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Ursula von der Leyen excluiu, de forma inequívoca, a possibilidade de retoma da compra de combustíveis fósseis russos após o fim da guerra na Ucrânia, advertindo que isso representaria um “erro de dimensões históricas” para a Europa.

“Para ser muito clara: a era dos combustíveis fósseis russos na Europa está a chegar ao fim”, referiu a presidente da Comissão Europeia, na manhã desta quarta-feira, ao dirigir-se aos deputados em Estrasburgo.

A sua recusa categórica surge no meio do esforço de Donald Trump para chegar a um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, uma tentativa que tem visto a Casa Branca abraçar muitos dos pontos de vista do Kremlin, incluindo as suas reivindicações sobre a Crimeia e os territórios ocupados.

A diplomacia de Trump alimentou a especulação de que a energia russa poderia fazer parte de um futuro acordo, dado o papel fundamental que as exportações de combustíveis fósseis desempenham no orçamento de Moscovo e o desejo de Vladimir Putin de reanimar a sua precária economia.

Durante décadas, a UE foi o maior cliente da Rússia, mas a relação comercial de vários milhares de milhões de euros entrou em colapso no início de 2022, depois de Putin ter lançado a invasão em grande escala. Desde então, o bloco adotou medidas sem precedentes para reduzir o consumo de combustíveis fósseis russos, incluindo proibições abrangentes sobre o carvão e o petróleo transportado por via marítima.

Com os responsáveis norte-americanos a apresentarem publicamente a perspetiva de um alívio das sanções como incentivo para que o presidente russo aceite um cessar-fogo duradouro, algo que este tem recusado até à data, o conjunto de medidas impostas pela UE está prestes a ser analisado.

Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, a aproximação em curso entre Washington e Moscovo abordou o futuro dos gasodutos Nord Stream, que ligam a Rússia à Alemanha e que estão atualmente fechados.

“Provavelmente, será interessante se os americanos usarem a sua influência na Europa e a obrigarem a não recusar o gás russo”, destacou Lavrov, no final de março.

Mas, esta quarta-feira, von der Leyen traçou firmemente uma linha vermelha sobre o tema.

"Há quem continue a dizer que devemos reabrir a torneira do gás e do petróleo russos. Isso seria um erro de dimensões históricas. E nós nunca o permitiremos", afirmou.

"A Rússia já provou, vezes sem conta, que não é um fornecedor fiável. Putin já cortou os fluxos de gás para a Europa em 2006, 2009, 2014, 2021 e durante a guerra. Quantas vezes mais até aprenderem a lição?"

"A dependência da Rússia não é apenas má para a nossa segurança, mas também para a nossa economia. Os nossos preços da energia não podem ser ditados por um vizinho hostil."

Um roteiro ambicioso

Apesar deste compromisso coletivo, alguns combustíveis russos continuam a entrar na economia do bloco. No ano passado, os 27 Estados-membros gastaram 23 mil milhões de euros em energia russa, ultrapassando o montante da assistência militar prestada à Ucrânia.

Os fluxos de gás natural liquefeito (GNL) tornaram-se uma fonte de fricção, uma vez que não só continuaram sem entraves, como também circularam em volumes ainda maiores.

De acordo com o Centro de Investigação sobre Energia e Ar Limpo (CREA), as importações de GNL russo pela UE, em 2024, aumentaram 9% em relação ao ano anterior. Quase 90% destas compras chegaram a França (7,7 bcm), Espanha (5,7 bcm) e Bélgica (5,1 bcm).

“A Rússia está extremamente dependente do mercado da UE para as suas exportações de gás, que fornece 52% das suas receitas de exportação de GNL”, afirmou o CREA, num relatório de abril.

Com o objetivo de colmatar as lacunas existentes, a Comissão apresentou um roteiro ambicioso para eliminar todas as aquisições de energia russa, incluindo o GNL, o petróleo e os materiais nucleares, o mais tardar até ao final de 2027.

O novo plano prevê uma proibição das importações de gás russo que as empresas da UE utilizarão para invocar força maior e quebrar os contratos de longo prazo com os fornecedores. Estes contratos são regidos por cláusulas de take-or-pay que implicam pesadas sanções em caso de incumprimento.

Ao contrário das sanções, que requerem unanimidade e são vulneráveis a vetos nacionais, as proibições ao gás russo basear-se-ão na política energética e comercial, onde apenas é necessária uma maioria qualificada. A Hungria e a Eslováquia, dois países sem litoral que ainda dependem de Moscovo, já criticaram o roteiro, afirmando que este iria pôr em risco a competitividade da UE.

No seu discurso perante o Parlamento Europeu, uma instituição que há muito defende a eliminação total dos combustíveis russos, von der Leyen manteve-se fiel à sua estratégia, descrevendo-a como um elemento indispensável para garantir uma paz justa e duradoura na Ucrânia.

"Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para reforçar a posição da Ucrânia. Porque todos nós já vimos como a Rússia negoceia. Bombardeando. Intimidando. Enterram as promessas debaixo de escombros", afirmou.

"Putin quer forçar a Ucrânia a aceitar o inaceitável. Por isso, a tarefa que temos pela frente é ajudar a Ucrânia a manter-se forte, a desafiar a intimidação de Putin e a iniciar conversações de paz tendo por base as suas próprias condições."

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