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Regras de doação de esperma postas em causa após revelações de cancro em crianças

Uma embriologista trabalha numa placa de Petri na clínica de fertilidade Create Health, no sul de Londres, na quinta-feira, 14 de agosto de 2013.
Uma embriologista trabalha numa placa de Petri na clínica de fertilidade Create Health, no sul de Londres, na quinta-feira, 14 de agosto de 2013. Direitos de autor  Sang Tan/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Sang Tan/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
De Amandine Hess
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Um dador dinamarquês, portador, sem o saber, de uma mutação num gene que aumenta o risco de cancro, terá ajudado a conceber pelo menos 67 crianças, 10 das quais têm cancro.

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O caso pôs em evidência as deficiências na forma como a doação de esperma é regulamentada na Europa.

O Banco Europeu de Esperma (BES) utilizou alegadamente gâmetas de um dador dinamarquês que, sem saber, era portador de uma variante rara do gene TP53 que aumenta o risco de cancro precoce. O dador ajudou a conceber pelo menos 67 crianças na Europa, incluindo 52 na Bélgica. 23 dessas crianças são portadoras da variante, 10 das quais desenvolveram cancro.

O caso foi revelado no final de maio por Edwige Kasper, bióloga do Hospital Universitário de Rouen, numa reunião da Sociedade Europeia de Genética Humana, em Milão.

"Trata-se de uma síndrome chamada síndrome de Li-Fraumeni, que dá origem a múltiplos cancros com um espetro muito amplo, pelo que as crianças portadoras desta variante devem ser acompanhadas de muito perto", explicou à Euronews a especialista em predisposições hereditárias para o cancro.

Das 10 crianças que desenvolveram algum tipo de cancro, o médico contou quatro hemopatias (uma doença do sangue), quatro tumores cerebrais e dois tipos de sarcoma que afetam os músculos.

Enquanto a maioria dos países europeus limita o número de crianças geradas por um único dador ou o número de famílias que podem ser ajudadas por um único dador, não existe qualquer limite a nível internacional ou europeu.

"Vamos acabar por ter uma propagação anormal de uma patologia genética, porque o banco de esperma envolvido neste caso estabeleceu um limite de 75 famílias para o dador. Outros bancos de esperma não estabeleceram um limite", explica Edwige Kasper.

Embora os dadores sejam sujeitos a exames médicos e testes genéticos, "não existe uma pré-seleção perfeita", explica Ayo Wahlberg, membro do Conselho Dinamarquês de Ética.

"A tecnologia está a evoluir muito rapidamente. As tecnologias de testes genéticos e os seus custos estão a diminuir tão rapidamente que, se compararmos como era há 10 ou 15 anos e hoje em dia, em termos de recrutamento e dos tipos de testes genéticos que podem ser efetuados como parte do processo de seleção, muita coisa mudou", explica.

Limites nacionais

As regras que regem a doação de esperma variam de um país europeu para outro.

O número máximo de filhos por cada dador varia entre 15 na Alemanha e um em Chipre.

Outros países preferem limitar o número de famílias que podem recorrer ao mesmo dador para lhes dar a oportunidade de terem irmãos e irmãs. Por exemplo, o mesmo dador pode ajudar 12 famílias na Dinamarca e seis famílias na Suécia ou na Bélgica.

Além disso, a doação é anónima em países como França e Grécia.

Noutros Estados-membros, como a Áustria, a pessoa nascida a partir de uma doação de gâmetas pode ter acesso à identidade do seu progenitor.

Na Alemanha e na Bulgária, as doações podem ou não ser anónimas, dependendo das circunstâncias.

Nos Países Baixos, não são anónimas.

Rumo a um enquadramento europeu?

Os conselhos nacionais de ética médica dinamarquês, sueco, finlandês e norueguês estão a fazer soar o alarme: a ausência de limites a nível internacional aumenta o risco de propagação de doenças genéticas e de consanguinidade.

Além disso, na era das redes sociais e dos testes de ADN, o anonimato dos dadores já não pode ser garantido a 100%. Descobrir a existência de dezenas de descendentes ou meios-irmãos pode ser mais difícil para alguns dadores ou pessoas nascidas a partir de uma doação.

Ayo Wahlberg, membro do Conselho de Ética dinamarquês, explicou à Euronews que apoia estas limitações a nível europeu devido ao "risco de uma doença genética se propagar inconscientemente de forma muito mais alargada (com um grande número de descendentes) do que se o número (de descendentes) fosse menor. Uma segunda razão é o facto de dispormos agora de todas estas tecnologias de testes genéticos e de os meios-irmãos se poderem encontrar na Internet (...) Finalmente, o encontro involuntário de um meio-irmão ou de uma meia-irmã sem que o saibam continua a ser uma preocupação para algumas pessoas".

Estes conselhos de ética apelam, portanto, à fixação de limites a nível europeu e internacional e à criação de registos.

"O primeiro passo é, por conseguinte, estabelecer ou pôr em prática um limite de famílias por dador. O segundo passo é criar um registo nacional. E o terceiro passo é, obviamente, ter um registo europeu baseado nos registos nacionais", disse Sven-Erik Söder, presidente do Conselho Nacional Sueco de Ética Médica, à Euronews.

Ao argumento, por vezes avançado, de que a introdução de restrições poderia levar a uma escassez de gâmetas em detrimento das famílias, Sven-Erik Söder responde que a solução não é a ausência de regulamentação, mas sim o estímulo da oferta para atrair mais dadores.

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