A União Europeia e a Moldova vão debater o crescimento económico e a segurança na primeira cimeira bilateral, em Chisinau, esta sexta-feira. A presidente moldava, Maia Sandu, também tem um pedido: entrar rapidamente no bloco europeu.
Numa altura em que a Moldova se prepara para acolher uma cimeira bilateral com a União Europeia, esta sexta-feira, em Chisinau, a presidente Maia Sandu e o governo moldavo estão a fazer um esforço concertado para acelerar a adesão do país à União Europeia, potencialmente ultrapassando a vizinha Ucrânia.
Apesar dos repetidos ataques híbridos da Rússia e das dificuldades económicas, a Moldova está ansiosa por apresentar os recentes progressos no alinhamento com as normas comunitárias como motivo para separar o processo de adesão do da Ucrânia. Mas Bruxelas mantém-se cautelosa.
Uma fonte da presidência rotativa dinamarquesa da União Europeia disse à Euronews que "a separação do processo de alargamento entre a Moldova e a Ucrânia não é para já". Os dirigentes europeus receiam que permitir que a Moldova avance possa enviar o sinal errado, sugerindo uma cedência estratégica aos objetivos desestabilizadores da Rússia na região.
Na perspetiva da União Europeia, o alargamento não é apenas um processo burocrático, é também uma mensagem geopolítica. A manutenção de uma abordagem unificada em relação à Moldova e à Ucrânia é vista como uma forma de sublinhar a solidariedade e de resistir à manipulação externa.
O eurodeputado romeno Siegfried Mureșan, presidente da Comissão Parlamentar de Associação União Europeia-Moldova, é um dos maiores defensores da entrada da Moldova no bloco. O eurodeputado argumenta que a pequena nação não só está a progredir rapidamente, como também iria precisar de uma ajuda mais pequena por parte das instituições europeias, em comparação com a Ucrânia.
"A integração da República da Moldova na UE vai ser um esforço menor", disse Mureșan à Euronews. "A integração de países pequenos é mais fácil do que a integração de países maiores. A Moldova é um país pequeno e, com o nosso apoio, pode conseguir muito com somas que não são significativas para a UE, mas que são transformadoras para a Moldova".
Plano de crescimento e resiliência económica
Durante a cimeira, a União Europeia deve apresentar o plano de crescimento trienal de 1,9 mil milhões de euros para a Moldova, parcialmente financiado através de empréstimos e subvenções com o apoio do Banco Europeu de Investimento. Este investimento tem como objetivo impulsionar a economia da Moldova e reduzir a vulnerabilidade face às pressões externas, nomeadamente da Rússia.
"Sabemos que a Rússia fez chantagem com os preços elevados da energia", disse Mureșan. "O país sofreu com uma inflação elevada, precisamos de fortalecer a economia".
As infraestruturas energéticas da Moldova sofreram uma transformação significativa desde 2022. O país está agora ligado à rede elétrica europeia, com a União Europeia a financiar grandes melhorias nos sistemas de distribuição domésticos. Chisinau também se comprometeu a gerar 27% da energia a partir de fontes renováveis até 2030.
Apesar dos contratempos - incluindo um abrandamento atribuído ao choque energético provocado pela guerra na Ucrânia - o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD) considera a economia moldava resiliente. Numa mudança histórica, mais de 50% das exportações moldavas foram para a União Europeia em 2024, o valor mais elevado da história do país.
Ameaças híbridas e pressão estratégica da Rússia
Bruxelas está ciente das pressões internas e externas que a Moldova enfrenta. Enquanto a opinião pública se divide entre sentimentos pró-ocidentais e pró-russos, a região separatista da Transnístria - ainda sob controlo russo - continua a ser uma fonte de instabilidade.
"A minoria russófona e as empresas da chamada região da Transnístria beneficiam da integração europeia. Mais de 70% das exportações destinam-se ao mercado europeu. Por isso, penso que a Rússia vai continuar a tentar desestabilizá-la", diz Mureșan, sublinhando o paradoxo da influência russa na região.
A cooperação em matéria de segurança já está a aprofundar-se. No âmbito da Parceria União Europeia-Moldova em matéria de Segurança e Defesa, Bruxelas atribuiu 197 milhões de euros através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (2021-2025) para modernizar as forças armadas da Moldova.
A Moldova e a Ucrânia candidataram-se à adesão à União Europeia em março de 2022, tendo-lhes sido concedido o estatuto de candidato em junho desse ano. As conversações formais de adesão tiveram início em junho de 2024, mas a forma e o momento em que cada país avança continuam a ser politicamente sensíveis.
Para já, Bruxelas parece não estar disposta a dividir os caminhos. Mas se a Moldova continuar a demonstrar reformas tangíveis, resiliência económica e fiabilidade geopolítica, pode ser mais difícil ignorar os argumentos a favor de uma adesão acelerada.