O muro contra os drones centrar-se-á na deteção e intervenção, afirmou Andrius Kubilius, o comissário Europeu da Defesa.
A União Europeia lançou formalmente uma iniciativa para estabelecer um muro de proteção contra drones ao longo do flanco oriental do bloco, um passo inovador que está a ser dado no meio das alarmantes violações do espaço aéreo por parte da Rússia.
A reunião inaugural do projeto teve lugar na tarde de sexta-feira e juntou dez Estados-membros: Bulgária, Dinamarca, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia e Finlândia. A Comissão Europeia presidiu às conversações.
A Ucrânia também foi convidada a participar. O país desenvolveu uma vantagem de alta tecnologia no setor e estima-se que tenha capacidade para produzir quatro milhões de drones por ano. Esta semana, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy anunciou que a Ucrânia iria começar a exportar armas produzidas internamente, levantando uma restrição da lei marcial.
A NATO esteve presente como observadora.
As discussões deverão prosseguir na próxima semana, durante uma cimeira informal dos líderes da UE, em Copenhaga, onde o tema deverá ocupar um lugar de destaque na agenda.
"A Rússia está a testar a UE e a NATO e a nossa resposta deve ser firme, unida e imediata. Na reunião de hoje, concordámos em passar das discussões para ações concretas", afirmou Andrius Kubilius, o comissário Europeu para a Defesa, numa conferência de imprensa na Finlândia, após as conversações online.
Kubilius deixou claro que o muro de proteção dos drones terá um duplo objetivo: deteção e intervenção, sendo que a prioridade imediata será dada à primeira.
"Precisamos de estudar meios eficazes de destruição", afirmou.
O muro dos drones será um dos três pilares de uma "vigilância do flanco oriental" mais alargada, sendo os outros dois um muro terrestre e um muro marítimo, explicou.
Não se sabe ao certo quanto tempo será necessário para que o projeto se concretize no terreno. Kubiliuis falou num prazo de um ano, com base na análise de peritos, embora tenha advertido que não está convencido desta estimativa. A Comissão tenciona trabalhar com os Estados-membros, os representantes da indústria e a Ucrânia para desenvolver um roteiro mais específico.
"São necessários conceitos tecnológicos e muito em breve, mas também conceitos de base, como a defesa deve ser organizada da melhor forma", afirmou.
Em alerta máximo
O lançamento de sexta-feira surge na sequência de uma série de violações do espaço aéreo que colocaram todo o continente em alerta máximo.
A primeira incursão ocorreu na Polónia, há duas semanas, quando 19 drones russos sobrevoaram o território nacional e provocaram uma operação de abate. Depois, na Roménia, um drone russo e, na Estónia, três caças MiG-31 russos.
Na segunda-feira desta semana, três drones de grandes dimensões foram avistados no aeroporto de Copenhaga, provocando o encerramento total das operações durante quase quatro horas. Na quarta-feira, a atividade dos drones obrigou a interrupções no aeroporto de Aalborg. Mais tarde, os meios de comunicação suecos noticiaram um avistamento misterioso semelhante na região sul de Karlskrona.
Até à data, a Dinamarca não conseguiu identificar os instigadores. A primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen disse que não podia "excluir" o envolvimento russo, mas as autoridades não encontraram quaisquer provas que apontem o dedo ao Kremlin. O ministro da Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, falou de um "ataque híbrido", parte de uma "operação sistemática", referindo que os drones vistos em Aalborg tinham sido lançados localmente.
A sucessão de episódios levantou questões incómodas sobre a falta de preparação do bloco para enfrentar a guerra dos drones, que a invasão da Ucrânia pela Rússia elevou a uma nova dimensão.
A Polónia, por exemplo, recorreu a mísseis multimilionários para abater drones baratos, enquanto a Dinamarca admitiu não ter um sistema de defesa aérea terrestre.
"Não existe uma capacidade única que faça desaparecer esta situação", afirmou Lund Poulsen.
A reunião de lançamento de sexta-feira centrou-se na identificação de lacunas materiais e financeiras para determinar que ativos já estão disponíveis para o muro e que elementos ainda faltam.
Kubilius enumerou radares, sensores acústicos, bloqueadores de sinais, interceptores e artilharia tradicional como algumas das principais capacidades necessárias para tornar o muro uma realidade.
"Precisamos de compreender que tipo de sistemas temos de desenvolver para sermos mais eficazes", disse. "Temos de reconhecer que, neste momento, a nossa eficácia na luta contra os drones não está ao nível que precisamos de ter".
Outra questão crucial para o muro dos drones é a sua compatibilidade com a NATO.
Durante anos, as tentativas da UE para formar uma verdadeira União Europeia de Defesa foram prejudicadas pela aliança atlântica, que reivindica competência exclusiva em matéria militar. Mas a guerra de agressão da Rússia veio reequilibrar a balança.
A UE tem-se aventurado cada vez mais na política de defesa, apresentando o seu maior programa até à data, o Readiness 2030, com um envelope de 150 mil milhões de euros de empréstimos a juros baixos.