A diplomacia de alto risco deverá continuar na próxima semana, com a reunião da "Coligação de Interessados", enquanto a Ucrânia procura assegurar o apoio europeu. Von der Leyen insiste na adesão da Ucrânia à UE como parte de um pacote de garantias de segurança para Kiev.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu que a adesão da Ucrânia à União Europeia é uma componente fundamental das futuras garantias de segurança do país, depois de ter mantido conversações com os líderes europeus para fazer o balanço das negociações de paz na terça-feira.
Von der Leyen afirmou nas redes sociais que a adesão ao bloco pela Ucrânia representa "uma garantia de segurança fundamental por direito próprio", na sequência de um telefonema no âmbito do Formato de Berlim, que inclui os líderes da Alemanha, França e Polónia, entre outros.
"Em última análise, a prosperidade de um Estado ucraniano livre reside na adesão à UE", afirmou. "A adesão não beneficia apenas os países que aderem; como demonstram as sucessivas vagas de alargamento, toda a Europa beneficia."
Os seus comentários seguem uma semana de diplomacia de alto risco entre funcionários dos EUA, da Ucrânia e da Europa. Após uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Donald Trump, o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que as garantias de segurança entre os três países estão "quase acordadas".
A adesão à UE é vista como uma componente fundamental, mas que acarreta múltiplos desafios para o bloco. A adesão à UE exige reformas significativas e deve ser aprovada por unanimidade pelos 27 dirigentes.
Para a Comissão, a adesão da Ucrânia representa um equilíbrio delicado entre a aplicação de um processo baseado no mérito, igual para todos os países candidatos, e o reconhecimento da situação extraordinária do país, com as conversações de paz em curso.
A Ucrânia enfrenta também o veto do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que tem argumentado repetidamente que Kiev não cumpre os critérios de adesão à UE, sugerindo, na melhor das hipóteses, uma parceria estreita. Este ano, o seu veto bloqueou qualquer progresso nas negociações de adesão da Ucrânia, nomeadamente através do processo de agrupamento técnico.
A Comissão Europeia argumenta que a Ucrânia está tecnicamente preparada para avançar no processo. A frustração com o ritmo lento levou a um debate sobre as regras de unanimidade para a adesão, mas as propostas de alterações jurídicas também não avançaram.
Após a reunião do Grupo de Berlim na manhã de terça-feira, o primeiro-ministro interino holandês, Dick Schoof, afirmou que a "Coligação de Interessados", um grupo de países que apoiam a Ucrânia, liderado pela França, pelo Reino Unido e por outras instituições europeias de segurança, reunir-se-á na próxima semana.
Chanceler alemão apela à "honestidade" nas conversações
Após uma reunião bilateral em Mar-a-Lago no domingo, Trump e Zelenskyy saudaram o progresso em direção a um acordo de paz liderado pelos EUA.
No entanto, as conversações foram adiadas depois de a Rússia ter afirmado que a Ucrânia tinha atacado uma residência pessoal do Presidente Vladimir Putin, numa nova escalada das hostilidades.
Kiev negou qualquer ataque à residência de Putin, chamando-lhe uma "invenção total" destinada a dificultar os esforços de paz.
Trump disse aos jornalistas na segunda-feira que foi informado por Putin sobre o alegado incidente.
"Isto não é bom, não me agrada", disse o presidente dos EUA. "Esta não é a altura certa para fazer nada disso. Uma coisa é ser ofensivo, outra coisa é atacar a casa dele".
O presidente dos EUA não disse se as agências de informação norte-americanas tinham alguma informação relacionada com o alegado ataque, citando antes o presidente russo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse na segunda-feira que a Rússia iria retaliar após o alegado ataque. Durante o fim de semana, a Rússia atacou a Ucrânia com uma nova ronda de ataques com drones e mísseis, visando principalmente a capital, Kiev.
Os líderes europeus mostraram-se menos crédulos em relação às alegações russas.
Numa publicação nas redes sociais, após uma conferência telefónica com os líderes europeus na segunda-feira, o chanceler alemão Friedrich Merz afirmou que o processo de paz está a avançar, mas que "exige honestidade e transparência de todos, incluindo da Rússia".
Depois de falar com Zelenskyy, Putin e os líderes europeus, o presidente dos EUA mostrou-se otimista quanto às perspetivas de um acordo de paz, argumentando que é do interesse de ambas as partes acabar com a guerra.
No entanto, Donald Trump disse que a questão das possíveis concessões territoriais por parte de Kiev - incluindo as exigências da Rússia para obter o controlo sobre a totalidade da região oriental ucraniana do Donbas - continua por resolver e é uma questão "muito difícil".
Trump disse ainda que os europeus terão de assumir, em grande parte, o esforço em matéria de garantias de segurança, mas acrescentou que os EUA também irão ajudar.
Zelenskyy disse aos jornalistas que as garantias de segurança dos Estados Unidos serão estabelecidas por 15 anos, mas Kiev está a tentar prolongá-las.
O presidente ucraniano apontou, em vez disso, para um período de 30 a 50 anos, argumentando que a Rússia já tinha atacado o seu país há mais de uma década, pelo que um período mais longo representaria uma mudança de rumo para a Ucrânia. "Seria uma decisão histórica", afirmou.