Compromisso mais reduzido do Reino Unido surge numa altura de cortes no financiamento da saúde global por parte de outros grandes doadores.
O Reino Unido vai investir 850 milhões de libras (966 milhões de euros) no combate à SIDA, à tuberculose e à malária, menos 15% face ao último compromisso, num contexto de cortes mais amplos no financiamento da saúde global.
Ao longo dos próximos três anos, o montante ajudará a financiar o trabalho do Fundo Global de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e a Malária, conhecido como Fundo Global, uma das maiores organizações empenhadas em eliminar estas doenças mortais em todo o mundo
O compromisso desce dos mil milhões de libras em 2022 e 1,46 mil milhões em 2019, numa mudança de prioridades do Reino Unido da ajuda externa para a defesa. Surge também numa altura em que grandes doadores, incluindo os Estados Unidos e países europeus mais ricos, reduzem o financiamento para a saúde global.
Grupos de defesa esperavam cortes até 200 milhões de libras (227 milhões de euros), ou 20%, e saudaram a promessa de 850 milhões.
Alertam, porém, que os cortes do Reino Unido terão consequências graves nos países que dependem dos programas do Fundo Global, aos quais é atribuído o mérito de terem reduzido em 63% a taxa combinada de mortalidade por SIDA, tuberculose e malária desde 2002.
"Tal como outros cortes, este impacto sentir-se-á rapidamente no terreno, com vidas perdidas, milhões de novas infeções e defesas sanitárias enfraquecidas", disse Katie Husselby, coordenadora da rede da Action for Global Health, organização com sede no Reino Unido.
Gideon Rabinowitz, diretor de políticas e incidência da plataforma britânica de ONG Bond, afirmou que os cortes também colocam em risco a saúde das pessoas no próprio país.
"Também ficará enfraquecida a nossa capacidade de responder a futuras ameaças sanitárias, incluindo pandemias", disse Rabinowitz.
O anúncio chega num momento delicado. Ainda este mês, o Reino Unido vai co-organizar com a África do Sul uma reunião para reforçar os cofres do Fundo Global até 2028. Bond afirma ser a primeira vez que um país anfitrião reduz a sua promessa de financiamento.
O Fundo Global pretende angariar 18 mil milhões de dólares, o que, segundo a organização, poderá salvar cerca de 23 milhões de vidas entre 2027 e 2029.
O investimento britânico poderá salvar até 1,3 milhões de vidas, segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Yvette Cooper.
"O novo apoio do Reino Unido ao Fundo Global é um investimento na nossa segurança e prosperidade partilhadas", disse Cooper, acrescentando que "nenhuma nação consegue enfrentar sozinha as ameaças sanitárias globais".