Espanha confinou todas as aves de capoeira criadas ao ar livre, devido a 14 surtos de gripe aviária que obrigaram ao abate de 2,5 milhões de animais. Como é que se transmite aos seres humanos? É realmente perigosa? Devemos evitar o consumo de frango e ovos? Contamos-lhe tudo o que precisa de saber.
A pergunta que mais preocupa a população tem uma resposta clara: como é que um ser humano apanha a gripe das aves? E a resposta, infelizmente, não é simples: a transmissão ao ser humano não é fácil, mas acontece. Para que uma pessoa seja infetada, é necessário um contacto próximo e direto com aves ou animais infetados, vivos ou mortos, ou com ambientes contaminados pelas suas secreções.
A transmissão pode ocorrer de duas formas: diretamente, através da inalação do vírus, ou indiretamente, ao tocar nos olhos ou no nariz com as mãos contaminadas depois de ter estado em contacto com aves infetadas, como vemos, de forma muito semelhante ao que acontecia na época da covid-19.
Aqui está a chave: enquanto os surtos se propagam muito rapidamente entre os animais, o mesmo não acontece com os seres humanos. A doença não se transmite facilmente de pessoa para pessoa. No entanto, existe um grupo de risco claro: os trabalhadores do setor avícola são os mais suscetíveis de serem infetados devido à sua exposição constante às aves.
Quão perigosa é a gripe aviária para as pessoas?
A perigosidade da gripe aviária varia significativamente de acordo com cada caso. Susana Monge, membro do Grupo de Trabalho de Vigilância em Saúde Pública da Sociedade Espanhola de Epidemiologia, explica à EFE que, por se tratar de um vírus respiratório, o "espectro clínico é muito variado".
Isto significa que uma pessoa infetada pode ser completamente assintomática ou apresentar sintomas que variam de ligeiros a graves:
- Conjuntivite (casos leves)
- Constipação (casos moderados)
- Pneumonia (casos graves)
O verdadeiro perigo, dizem os especialistas, não está tanto no vírus em si, mas no que pode acontecer se este sofrer uma mutação. Monge adverte que um dos maiores riscos é o facto de, na mesma pessoa, "coexistirem os vírus da gripe aviária e da gripe sazonal e ambos poderem recombinar-se". Se isso acontecesse, os dois vírus poderiam trocar partes do genoma e dar origem a um novo vírus, potencialmente mais perigoso.
É por isso que é crucial que os trabalhadores do setor avícola sejam vacinados contra a gripe sazonal, reduzindo assim a possibilidade de ambos os vírus coincidirem na mesma pessoa.
Proteção e prevenção: que medidas tomar?
Para os trabalhadores do setor avícola, as medidas de proteção são rigorosas. Devem "usar permanentemente equipamento de proteção com fato-macaco, máscaras, botas e óculos de proteção". As empresas, por seu lado, devem aplicar medidas coletivas, como a ventilação adequada das explorações.
Por outro lado, Monge esclarece que "o último passo é a vacinação" e que existem atualmente vacinas testadas contra a gripe aviária, mas que estão reservadas para eventuais surtos e não para uso generalizado.
E o que acontece com o frango e os ovos?
Esta é provavelmente a pergunta mais frequente entre a população em geral, e a resposta é contundente: não é preciso deixar de consumir ovos ou carne de frango.
Víctor Briones, professor de Saúde Animal na UCM, comentou que as elevadas medidas de segurança nas atuais explorações avícolas garantem que nenhum produto contaminado chega ao consumidor. A razão é simples: quando é detetado um surto numa exploração, todos os animais da exploração são abatidos, pelo que nenhuma ave infetada chegará à cadeia alimentar.
José María Eiros, diretor do Centro Nacional da Gripe de Valladolid, é ainda mais categórico: "o consumo de alimentos não leva à propagação da gripe das aves". Ambos os especialistas concordam que "não é necessário limitar o consumo" destes produtos.
O governo espanhol ordenou o confinamento de todas as aves de capoeira criadas ao ar livre, na sequência da deteção de 14 focos em explorações profissionais (sete em Castela e Leão, três em Castela-La Mancha, duas na Andaluzia, uma na Extremadura e uma em Madrid), que levaram ao abate de 2,5 milhões de animais. A medida tem por objetivo evitar um novo contágio, tendo em conta o agravamento previsto da situação.