Nabil al-Arabi: "A Liga Árabe não é responsável pelo que se passa na Síria"

A crise síria já soma dez meses e muitos consideram que se trata da insurreição mais complexa da “Primavera Árabe”. A Liga Árabe não conseguiu encontrar uma solução, apesar das sanções económicas adotadas pelo Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros. Em entrevista à Euronews, o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, comenta a situação.
Riad Muasses, Euronews: Neste preciso momento várias cidades sírias estão a ser bombardeadas e nas ruas há derrame de sangue. A Liga Árabe decidiu impor sanções à Síria. Acredita que estas sanções vão desencorajar o regime de Bashar-al Assad?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Há cinco meses a Liga Árabe apelou ao Governo sírio para por termo à violência e tentámos encontrar formas de evitar o derrame de sangue. Depois pedimos o envio de observadores para o terreno, o que não aconteceu, apesar da missão contar com o quadro legal necessário. Esta missão era uma espécie de garantia para a população síria, mas, lamentavelmente, o Governo sírio não quis firmar esse protocolo.
Recentemente, os ministros árabes dos Negócios Estrangeiros decidiram impor sanções a determinados setores económicos do país.”
Riad Muasses, Euronews: Como mencionou, nos últimos cinco meses esteve em contacto com o regime sírio, ao qual lançou vários ultimatos, sem obter resposta. Enquanto isso, os manifestantes queixavam-se que a ausência de uma atitude os matava, querendo com isso dizer que a Liga Árabe deve assumir responsabilidades.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “A Liga Árabe não é responsável pelo que está a acontecer. O único responsável é o Governo sírio. A Liga Árabe tentou falar com o Governo sírio. Tomámos algumas decisões e tomaremos outras, não temos outra saída.”
Riad Muasses, Euronews: O ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Muallem, disse que as sanções impostas pela Liga Árabe fecharam a porta a qualquer solução. O que é que tem a dizer?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Espero que o chefe da diplomacia síria clarifique o discurso. Pedimos a proteção dos civis, o envio de observadores para verificarem os acontecimentos no terreno. Mas o Governo não assinou o protocolo proposto pela Liga Árabe. Recusam-se a cooperar.”
Riad Muasses, Euronews: São acusados de querer internacionalizar a crise. Vão pedir ajuda direta das Nações Unidas?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Vou ser claro. Tomámos todas as medidas possíveis para evitar uma intervenção externa. Mas se as Nações Unidas ou o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas apoiam uma intervenção, a Liga Árabe não será responsável. Trabalhamos no quadro árabe e insistimos neste ponto. Gostaria que a solução para esta crise fosse árabe e perguntar-me-á como podemos chegar a uma solução.”
Riad Muasses, Euronews: É precisamente essa a minha questão. A Síria fechou a porta a qualquer solução num quadro árabe. Não firmou o protocolo. O Governo agravou a crise.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “ Uma escalada imputável à Síria, não à Liga Árabe.”
Riad Muasses, Euronews: Que poderia provocar uma guerra no Médio Oriente e conduzir a uma intervenção da NATO.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “ Ainda que a Liga Árabe não seja responsável, não abandonámos o nosso papel conciliador. Enviei uma carta ao ministro sírio dos Negócios Estrangeiros para que nomeie alguém que firme o protocolo. Da nossa parte, esta opção continua de pé. Quando a Síria firmar o protocolo enviaremos observadores para o terreno.”
Riad Muasses, Euronews: Está otimista? Acredita que a Síria aceitará a sua proposta?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Não estou pessimista nem otimista. Sou um homem pragmático. Fizémos uma proposta que não teve resposta. Fiquei a par da rejeição durante uma conferência de imprensa do ministro dos Negócios Estrangeiros, Walid Muallem.”
Riad Muasses, Euronews: O Conselho do Direitos Humanos diz que se cometeram crimes contra a humanidade na Síria. A Liga Árabe também é responsável porque não representa só os Estados, mas também os povos árabes e o povo sírio está a ser massacrado.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “É por isso que a Liga Árabe tem feito tudo o que pode nos últimos meses. Temos duas soluções. Ou a Síria firma o protocolo e enviamos observadores internacionais, ou aplicamos sanções económicas que acabarão por castigar o povo.”
Riad Muasses, Euronews: Há intenções de enviar este dossier para as Nações Unidas?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Repito uma vez mais que não queremos internacionalizar a questão síria e que estas decisões são tomadas para prevenir qualquer interferência externa.”
Riad Muasses, Euronews: Sabemos que na Síria existem dois grupos opositores, o Exército Sírio Livre e o Conselho Nacional Sírio.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Também existem pequenos grupos opositores.”
Riad Muasses, Euronews: Existe alguma intenção da Liga Árabe reconhecer o Conselho Nacional Sírio?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Por agora isso ainda não aconteceu.”
Riad Muasses, Euronews: Porquê?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Por várias razões. Primeiro porque sempre houve um Governo na Síria. Segundo porque os diferentes grupos opositores não estão de acordo.”
Riad Muasses, Euronews: Quer dizer que se a oposição estivesse unida, reconheceriam?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Pergunte aos Estados, não a nós. As Nações Unidas não reconhecem os povos, os Estados sim.”
Riad Muasses, Euronews: Por que é que a oposição vos pediu ajuda?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Porque o Conselho de Ministros aprovou uma resolução que nos permite reunir com a oposição no quadro de um diálogo com o Governo sírio para definir os passos seguintes. Pusémos esta resolução em prática para facilitar o diálogo nacional na Síria.”
Riad Muasses, Euronews: Mas o regime sírio rejeita sempre o diálogo.
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Estamos a trabalhar para facilitar o diálogo, para que ambas as partes se reunam.”
Riad Muasses, Euronews: Mudando de assunto, votou nas primeiras eleições democráticas no Egito. Como se sente?
Nabil al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe: “Estou muito orgulhoso de ver o que se passa no Egito. A organização do escrutínio foi muito boa, quer por parte do Governo, quer por parte dos comités eleitorais e inclusivé por parte dos cidadãos. Fui votar de manhã cedo e esperei uma hora, mas a minha mulher teve de esperar cerca de cinco horas.”