Realizador de "Uma separação" abre o livro

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Asghar Farhadi esteve mais uma vez no centro das atenções no Festival de Cannes. O realizador iraniano acaba de vencer o prémio MEDIA. Estes 60.000 euros da Comissão Europeia vão financiar o próximo filme, a ser rodado em Paris com atores europeus.

O filme “Uma separação” foi visto em todo o mundo. Foi o primeiro filme iraniano a vencer o Óscar para o melhor filme estrangeiro.

Nesta entrevista à euronews, falou dos projetos atuais, da reação ao sucesso do filme e das dificuldades que os realizadores iranianos enfrentam.

Wolfgang Spindler, euronews:

Sr. Farhadi, bem-vindo à euronews. acaba de ganhar o prémio Media, que premeia também a diversidade cultural. Na sua qualidade de cineasta iraniano, o que significa este prémio?

Asghar Farhadi:

Significa tanto como o encorajamento que tenho recebido ao longo dos anos. Por outro lado, eu sempre escrevi em persa, os diálgogos dos meus filmes são em persa, mas no próximo filme algumas personagens vão falar outras línguas.

Finalmente, aqueles que já leram o argumento do filme identificam-se com ele, não consideram a história estranha para alguém que não fala persa e isso é muito importante para mim.

euronews:

Ganhou muitos prémios internacionais pelo seu último filme, “Uma separação”, entre eles o Óscar para o melhor filme estrangeiro. Mas, quando regressou ao Irão, o jantar oficial de boas-vindas organizado pelo governo iraniano foi cancelado. O que aconteceu?

Asghar Farhadi:

Os meus amigos e colegas iam organizar uma cerimónia, muito simples e sincera, mas depararam-se com problemas com os quais não conseguiram lidar e continuaram à procura de uma solução.

Como não queria que eles tivessem mais problemas, pedi-lhes que parassem. A organizão não estava a cargo da Casa do Cinema, mas esses meus amigos eram, na maioria, membros da Casa do Cinema.

O que eles estavam a fazer tinha um grande significado para mim, mas eles não o puderam fazer da maneira que queriam. Mesmo assim, tem um grande significado. Tenho tido um grande apoio das pessoas do meu país, fui abençoado com a simpatia delas. Este apoio é muito importante e muito valioso para mim.

euronews:

Nos seus filmes, há um estilo que faz lembrar Tchekhov, Ibsen e Kieslowski – “Uma separação” tem um estilo que eu chamaria neo-realista. Porquê este estilo?

Asghar Farhadi:

Talvez os livros que li durante a adolescência. Essas histórias eram muito próximas da realidade, não eram um simples retrato, eram histórias que representavam uma determinada camada que continha, ela própria, várias camadas, muito complicadas, da realidade.

Ler essas histórias na juventude criou, no meu subconsciente, um certo gosto que se revelou quando comecei a escrever argumentos de filmes e peças de teatro.

euronews:

Como artista – sendo realizador e argumentista, considero-o como um artista – deve ter alguma liberdade de expressão. Onde está, para si, a fronteira entre a liberdade de expressão artística e as razões de Estado?

Asghar Farhadi:

Para alguém como eu, da minha geração, que nasceu e cresceu com estas restrições, seja em casa, na escola, no trabalho, na rua ou na Universidade, a fronteira entre ser vítima ou não de restrições é muito ténue.

Não no sentido que às vezes oiço dizer que as restrições levam à criatividade. Isso não é verdade. Talvez possam levar à criatividade a curto prazo, mas a longo prazo, destroem-na.

Por isso, se não houvesse restrições aos realizadores iranianos, haveria mais criatividade.

euronews:

Muitos realizadores iranianos não podem trabalhar como querem no Irão – os jornalistas ocidentais chamam-lhe censura. Como explica este problema?

Asghar Farhadi:

O problema não é claro e transparente para que o possa definir. Se o pudermos resumir numa só palavra, será o que disse: censura ou restrição.

Não só do sistema, não só das autoridades. Muita dessa censura vem do próprio artista ou cineasta, sem que ele esteja consciente.

O que é mais perigoso – porque se há restrições exteriores podemos vê-las, podemos reconhecê-las, experimentá-las e encontrar uma forma de as ultrapassar. Se as restrições vêm de dentro de nós próprios, não as encontramos. É como alguém que está doente, não sabe da doença e pensa que está saudável. Isso é perigoso.

euronews:

A Casa do Cinema, uma importante instituição de apoio aos artistas e cineastas no Irão, foi fechada há alguns meses, o que chocou muitos realizadores, atores e atrizes. O que tem a dizer sobre isto?

Asghar Farhadi:

Posso dar-lhe uma boa notícia. Todos aqueles que estavam ativos e todos os membros da Casa do Cinema conseguiram que ela seja reaberta em breve. Ainda não tenho a certeza, mas ouvi nas notícias.

Quando a Casa do Cinema foi fechada, senti-me muito mal. Nem eu nem nenhum dos meus colegas conseguimos perceber por que razão a fecharam. Foram dadas algumas razões, mas nenhuma delas é aceitável para mim. Penso que não foram essas as verdadeiras razões, que houve outras coisas por detrás.

Mas estou feliz porque, graças aos esforços da comunidade cinematográfica, este assunto não foi esquecido, ao contrário de outros acontecimentos que se esquecem com o passar do tempo.

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