Clima: (des) acordo que não merece o papel a assinar

Clima: (des) acordo que não merece o papel a assinar
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O tufão Haiyan, visto da Estação Espacial Internacional, provocou uma tempestade jamais vista na Terra. Mas os especialistas são prudentes e não querem atribui-la às mudanças climáticas. No entanto, advertem que fenómenos idênticos serão cada vez mais frequentes e violentos devido ao aquecimento global e à subida do nível da água do mar. É inegável que as mudanças climáticas aquecem a superfície do mar e dão energia às tempestades, aumentando-a como aconteceu à que destruiu Tacloban.

Haiyan produziu ventos de 314km/h, os mais rápidos e violentos jamais registados. Segundo a organização Meteorológica Mundial o nível do mar aumenta com o degelo dos glaciares e o aquecimento global.

Em Legaspi, nas Filipinas, foi medido um aumento de 35 cm entre 1950 e 2010 e nota-se que os tufões afetam mais as ilhas do sul do arquipélago, até agora poupadas.

As perdas económicas globais na última década atingem 140 mil milhões de euros por ano, segundo o Banco Mundial.

A par das causas e efeitos do aquecimento global, o dinheiro também está no centro do debate e das negociações sobre o clima, nomeadamente entre os países desenvolvidos que, frequentemente sofrem as piores consequências das catástrofes e estão condenados â pobreza.

A ONG OXFAM divulga que, em 2013, a ajuda ligada ao clima se situa entre 5,6 mil milhões e 12 mil milhões de euros.

O Grupo Intergovernamental de Peritos sobre a Evolução do Ambiente, GIEC, calcula que a emissão de gases com efeito estufa, CO2, atinge 10 mil milhões de toneladas por ano.
Atualmente, a China é o país mais poluente, a seguir aos Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia.
O crescimento rápido da China colocou-o em pé de igualdade com os Estados Unidos e a União Europeia como os maiores emissores cumulativos desde 1850.

Segundo a organização Climate Action Tracker, a terra vai sofrer um aumento de 3,7°C, acima das médias pré-industriais para 2100. O objetivo era limitar o aquecimento abaixo dos 2°C – mesmo assim, superiores aos níveis existentes antes da revolução industrial, para limitar os desregramentos induzidos. O que é certo é que estamos a algumas décadas, apenas, de atingir o ponto de não retorno , estabelecido pelos cientistas.

Aparentemente, as medidas tomadas para proteger o clima não estão a funcionar: este ano, registou-se a maior emissão de gases com efeito estufa de sempre. Faltam apenas dois para a ONU assinar em Paris, como deseja, um acordo global sobre as alterações climáticas, a que espera vincular para todos os países.

A conferência das Nações Unidas sobre o clima, celebrada em Varsóvia, devia ter feito avançar a preparação do tratado, mas os resultados são dececionantes.

Andrea Büring, euronews – Temos connosco Martin Kaiser, especialista da Greenpeace em clima. Abandonou a cimeira de Varsóvia, na quinta-feira….o que falhou?

Martin Kaiser, Greenpeace climate expert – Desde o início, a conferência estava a ser utilizada pelo organizador, o governo polaco, como uma feira sobre a indústria do carvão. Ficou bastante claro, logo na segunda semana, quando se celebrou uma cimeira sobre o carvão ao mesmo tempo.

De facto, o primeiro-ministro até demitiu, durante a cimeira, o ministro do Ambiente, que era a pessoa responsável pelo sucesso da conferência.

Por outro lado, países como o Japão ou a Austrália, anunciaram que não iam manter os seus compromissos, assumidos há alguns anos, para reduzir a emissão de CO2.

euronews – Que papel desempenhou a UE em Varsóvia? Porque não apoia mais a do Ambiente e do Clima? E a Alemanha, que foi um exemplo, porque não faz mais?

Martin Kaiser – Desde o começo da crise económica e financeira, a Europa retrocedeu em relação à proteção climática.

Em Bruxelas, as associações de diferentes indústrias conseguem, frequentemente, bloquear muitas leis, nomeadamente as indústrias energéticas, como a do carvão. Ou também a do automóvel, que bloqueia sempre qualquer projeto ambicioso de proteção climática em Bruxelas.
A Alemanha tem um papel fundamental em tudo isto, porque o governo cessante bloqueou muitas iniciativas.

euronews – Houve algum progresso nas posições dos Estados Unidos, da China ou da Rússia, os países que bloquearam as últimas negociações?

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Martin Kaiser – Na China há melhorias. Devido à contaminação do ar nas grandes cidades, o governo chinês está a ser muito pressionado para atuar e proteger o ambiente. Já aprovou uma lei, em três províncias, que deve reduzir substancialmente, as emissões das centrais elétricas que funcionam com carvão.

Infelizmente, a China não utilizou as medidas para lançar uma mensagem explícita durante as negociações em Varsóvia, nomeadamente que o país mais poluente está pronto para assumir responsabilidades.

Nos Estados Unidos, muitas coisas estão a mudar de forma positiva em relação ao uso do carvão como fonte energética e à construção de edifícios. Mas o Tea Party ainda está a bloquear as políticas de Obama, o que impede a aprovação de uma lei ambiciosa para proteger o ambiente.

euronews – É possível os países avançaremantes da Conferência Mundial sobre o Clima em Paris, em 2015, para consiguir um acordo que vincule todos?

Martin Kaiser – Se na Alemanha, na Europa, nos Estados Unidos e na China não conseguirmos convencer as pessoas e os governos de que devem proteger o ambiente e o clima, para não apoiarem as centrais energéticas que utilizam carvão e para não construirem mais plataformas petrolíferas no Ártico, então não conseguiremos assinar um acordo global, em 2015, que valha sequer o papel em que se escreva.

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Por isso é tão importante termos abandonado a conferência de Varsóvia antes do fim e vamos começar imediatamente as campanhas contra os investimentos em combustível fóssil. E é preciso que cada vez mais governos apliquem as medidas sem serem bloqueados pelos lobis do carvão e do petróleo.

Resta muito para fazer até à Conferência de Paris, em 2015…

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