Irão: "Estamos a postos para dar os passos que faltam na questão do programa nuclear"

Irão: "Estamos a postos para dar os passos que faltam na questão do programa nuclear"
De  Euronews
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Hassan Rohani, o presidente do Irão, chegou ao Fórum Económico Mundial, em Davos com o objetivo de atrair investimento estrangeiro e dar a conhecer o novo rosto da República Islâmica que quer acabar com o seu isolamento na cena internacional.

Poucos dias depois da entrada em vigor do acordo provisório com as potências mundiais sobre a questão do nuclear, que incluí um levantamento parcial das sanções contra Teerão, Rohani senta-se à mesa com os principais decisores políticos e económicos do globo.

O presidente do Irão é o convidado desta edição especial de Global Conversation, no Fórum de Davos, na Suíça.

euronews: Esta visita a Davos é histórica: É a primeira viagem que faz à Europa na condição de chefe de Estado; É a primeira vez em 10 anos que um presidente iraniano marca presença no Fórum Económico Mundial. Depois de tantos anos de desconfiança, como estão a decorrer as conversas com os líderes políticos e económicos do mundo?

Hassan Rohani: “Davos é um fórum muito importante. Não é uma cimeira europeia, é um evento global onde todos participam, da Ásia à Europa, passando pelos outros continentes. É fundamental apresentar e debater os diferentes pontos de vista, em particular os económicos, para que seja possível aproximar posições. Vim a esta cimeira explicar aos participantes deste Fórum Económico Mundial o novo cenário no Irão, tanto do ponto de vista político como da situação económica e cultural, após as recentes eleições presidenciais. Vim também falar das perspetivas que temos pela frente. Dadas as circunstâncias, o Irão apresenta-se hoje numa situação propícia à atividade económica e estamos prontos para acolher todos os empreendedores e as grandes empresas.

euronews: Paralelamente a Davos, estão a decorrer negociações difíceis sobre o futuro da Síria noutra cidade suíça, Genebra. O convite para o Irão estar presente nessas negociações foi retirado. Que comentário lhe merece essa situação?

Hassan Rohani: “Consideramos que temos a obrigação, enquanto seres humanos, de fazer todos os possíveis para estancar o banho de sangue na Síria, prestar ajuda e melhorar as condições de vida do povo sírio. A estabilidade na região é muitíssimo importante para nós e a guerra civil na Síria é algo que não pode ser tolerado. Quanto ao convite, estamos prontos para tomar parte em qualquer encontro para ajudar o povo sírio. Estou desiludido com o que aconteceu, não pessoalmente ou por causa do Irão, estou desiludido com as Nações Unidas e a sua secretaria-geral já que esta decisão afeta a credibilidade do secretário-geral. De qualquer forma, consideramos que é nossa obrigação tudo fazer para ajudar o povo sírio”.

euronews: Sabendo que o regime sírio é cada vez mais suspeito de violações dos direitos humanos e de abusos graves neste domínio, pensa que chegará o dia em que o Irão colocará em causa o seu apoio a Bashar al-Assad e ao seu regime?

Hassan Rohani: “A discussão não é sobre Bashar al-Assad. Hoje, o que se passa na Síria é o resultado da presença de todos os grupos terroristas perigosos no país. É um perigo para toda a região e também para aqueles que estão a apoiar atualmente estes grupos terroristas. O que é importante na Síria não é a questão de Bashar al-Assad, é o problema da guerra civil. Devíamos todos trabalhar arduamente para colocar um ponto final na guerra civil. O futuro da Síria pertence ao seu povo. Qualquer que seja a visão da maioria do povo sírio, nós iremos respeitá-la. Nenhum responsável externo, nenhum governo estrangeiro tem o direito ou o dever de decidir pelo povo sírio. Todos deviam ajudar a alcançar as condições necessárias para que o povo sírio possa exprimir-se, em segurança e com confiança, através do voto e decidir sobre o seu futuro e o do país”.

euronews: As coisas mudaram drasticamente para o Irão desde que chegou ao poder. O diálogo foi retomado, nomeadamente com um acordo provisório em relação ao vosso programa nuclear que permite o levantamento parcial das sanções. É capaz de fazer um retrato do que gostaria que fosse o Irão dentro de 10 anos?

Hassan Rohani: “Quero dizer que as mudanças que se pressentem hoje no Irão não se devem a este governo. Este governo começou a trabalhar numa atmosfera de mudança que foi criada pelo povo. As recentes eleições criaram uma nova atmosfera, abriram uma porta para interagir com o mundo. Isto é uma oportunidade para todos e todos deviam aproveitar esta chance que foi criada pela nação iraniana.

Estou satisfeito com esta oportunidade. Nos últimos cinco meses – com os esforços deste governo e dos países envolvidos nas negociações – foi possível criar as circunstâncias para darmos um primeiro passo bem-sucedido. Estamos empenhados em cumprir as nossas obrigações no quadro do acordo de Genebra enquanto a outra parte fizer o mesmo. Estamos a postos para dar os passos que faltam na questão do programa nuclear.

A situação atual no Irão permitiu-nos lançar as bases para interações mais abrangentes com outros países, tanto a nível regional como com o resto do mundo. Já tivemos relações históricas e tradicionais muito importantes com a Europa e hoje estão lançadas as bases para podermos regressar a essas históricas relações.

O que aconteceu nos últimos anos, sob a designação de sanções, sanções ilegais, foi prejudicial para todas as partes. Foi um caminho que só podia terminar num beco sem saída e todos acabaram por descobrir que era o rumo errado. A rota devia, desde o início, ter passado por negociações, a via que ambas as partes escolheram agora e muito bem.

Penso que o Irão tem um futuro radioso pela frente. O Irão ocupa uma posição estratégica muito especial, tem condições muito particulares em termos de recursos naturais. Do ponto de vista do desenvolvimento humano, a população tem uma educação elevada. Hoje, existem 4,5 milhões de estudantes universitários. Portanto, existe um ambiente e estão reunidas as condições no Irão para uma interação construtiva com outros países e regiões, incluindo a Europa. Espero que tanto nós, como a Europa e outros países, sejamos capazes de aproveitar esta oportunidade. Isso será benéfico para todas as partes, tanto para a Europa como para o Irão e os outros países que estão prontos para uma interação construtiva”.

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