Abdelaziz Bouteflika, o presidente doente

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Aos 77 anos, com visíveis sequelas de um AVC, Abdelaziz Bouteflika, conquistou um quarto mandato como presidente da Argélia.

Depois de 15 anos à frente do país, e dezasseis anos como ministro, este veterano da guerra da independência parece incontornável, agarrado ao poder.

Entre as suas façanhas, os argelinos destacam a sua ação para restabelecer a paz. Eleito para a presidência em 1999, quando o conflito com os islamistas armados tinha feito 200 mil mortos, Bouteflika obteve um sim massivo no referendo sobre a concórdia civil e a paz na Argélia. A lei amnistiou os islamistas armados que não tinham crimes de sangue e violações, e que se submeteram à autoridade do Estado. A lei originou a rendição de milhares de islamistas.

Foi reeleito em 2004 e depois em 2009, graças a uma revisão da Constituição que suprimiu a limitação de mandatos presidenciais.

Em 2011, quando a Primavera Árabe destronou vários antigos dirigentes, anunciou rapidamente reformas, consideradas insuficientes pela Oposição, mas aguentou-se no poder, enquanto os países vizinhos se afundavam na instabilidade.

Há um ano, o presidente Bouteflika sofreu um AVC. Passou três meses num hospital em Paris. Regressou em meados de julho, mas deixou de aparecer em público. Ele, que era um orador excecional, não fala em público há praticamente dois anos.

A Argélia deve decidir se Abdelaziz Bouteflika é fisica e politicamente capaz de governar o país, nos próximos cinco anos.

Para analisar a questão falámos com Majed Nehme, editor-chefe da revista Afrique-Asie.

Euronews: Os apoiantes de Bouteflika consideram que o político é o garante da estabilidade da Argélia. Mas os críticos dizem que está demasiado doente para governar. O que diz a Constituição?

Nehme: “Não há nada na Constituição que condicione a presidência, devido a problemas de saúde. Não há nada disso na Constituição.”

Euronews: Ali Benflis diz que o resultado desta eleição foi decidido antecipadamente.

Nehme: “Na realidade, o candidato Benflis já disse isso, antes de começar a campanha.”

Euronews: Na Argélia, o Presidente também é o chefe das forças armadas. Até onde se estende este papel?

Nehme: “Desde a independência da Argélia, em 1962, o Presidente é chefe das forças armadas e dos serviços secretos, de acordo com a Constituição. E é ele quem decide quem é nomeado e quem é demitido. O Presidente também é o ministro da Defesa. É um todo-poderoso.”

Euronews: Dado o estado de saúde do Presidente, qual é o procedimento oficial para a escolha de um eventual sucessor?

Nehme: “Acho que é muito cedo para falar sobre o sucessor do Presidente. A Argélia é um país democrático, deve haver um consenso político. É claramente indicado na Constituição que se o cargo de chefe de Estado ficar livre, o presidente do Senado pode assumir as suas funções durante quarenta dias para se prepararem novas eleições.”

Euronews: A oposição ameaçou impugnar o resultado, se Bouteflicka fosse eleito. O que pode acontecer neste caso?

Nehme: “Pode haver alguns protestos, mas a maioria dos candidatos já aceitou os resultados, com exceção da maioria dos apoiantes do candidato, Ali Benflis. Mas ele próprio pediu aos seus partidários para não usarem meios ilegais para o demonstrar.”

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