Erdogan, artífice do futuro da Turquia... laica, polarizada ou islâmica

Erdogan, artífice do futuro da Turquia... laica, polarizada ou islâmica
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Erdogan conseguiu ser o primeiro presidente turco eleito por sufrágio universal.
Há 11 anos, aliás, que Recepp Tayyip Erdogan domina a política turca. Como primeiro-ministro todo poderoso, sonhou com uma presidência forte e é como presidente que a vai transformar.

Em pouco mais de uma década de crescimento, Erdogan fez da Turquia uma potência económica regional de primeiro plano. Mas também transformou a sociedade turca e os pilares da república laica, fundada em 1923, por Mustafa Kemal Atatürk, sobre as ruínas do Império Otomano.

Apesar de apenas 74% de turcos terem votado (menos 15 % do que nas eleições locais), ao menos teve um resultado significativo para o candidato de etnia curda, Selahattin Demirtas.
Há alguns anos, Ankcara sufocou uma rebelião curda. Erdogan reivindicou ser o artífice da paz.
Mesmo que os seus ataques verbais a Israel tenham aumentado a popularidade, Erdogan polariza a população, o que, de alguns anos para cá ele fez cada vez mais abertamente. Os protestos nas ruas, primeiro por causa da transformação do parque Gezi, inflamaram os ânimos, em 2013, a nível nacional.
A corrupção atingiu amigos próximos, envolvidos numa luta pelo poder com os seguidores do radical Iman Fethullah Gülen, exiliado nos Estados Unidos.
Quando tentou dar posse ao governo, passando por cima do parlamento, a instituição protestou.

Recentemente, tentou silenciar a internet e as redes sociais. Seguiu-se uma purga na polícia, que continuava as investigações de corrupção. Quanto ao exército: enviou alguns generais para a prisão, como exemplo, e outros generais e coroneis laicos para a reserva. A presidência executiva deixou de ser uma sombra abstrata na Turquia.

Nezahat Sevim, euronews – Recep Tayyip Erdogan vai ser o 10° presidente turco. Que esperam a Turquia, o partido conservador AKP e a oposição, a partir de agora? É o que perguntamos ao escritor e diretor geral da consultora Konda, Bekir Ağırdır, em Istambul.
Com estes resultados, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento disse adeus ao líder, já que este vai para o palácio presidencial. Qual será o efeito dentro do partdio e nas bases populares? Quem, ou que perfil deve ter, o próximo líder do partido e o próximo primeiro-ministro?

Bekir Ağırdır – Há três perguntas e respostas paradoxais para o AKP. Primeiro, há uma necessidade de um primeiro-ministro e de um líder do partido, que deve ser compatível com Erdogan. Mas há um segundo requisito: esta pessoa tem de ser capaz de manter o apoio atual do AKP nos 40/50%. Assim podem conseguir a alteração constitucional depois das legislativas de junho de 2015, algo pretendido por Erdogan.
Mas as duas necessidades contradizem-se.
Há uma terceira, também contraditória para o AKP. A Turquia tem muitos problemas em política externa. Precisa melhorá-la, corrigi-la.
Perante estes três requisitos, Ali Babacan, Binali Yildirim ou Ahmet Davutoğlu, são os nomes que vêem. Mas ainda pode haver surpresas.

euronews – Mencionou, num artigo, que, se Ihsanoglu, principal candidato da oposição, conseguisse 40%, não haveria queixas, mas que se não passasse dos 35%, os principais partidos da oposição procurariam mudar algo. Ihsanoglu ficou-se pelos 38%. Em que vai isto afetar a oposição? No mesmo sentido, como vai o resultado de Selahattin Demirtas afetar a população curda?
Bekir Agirdir – Este mágico 38% traz vantagens a ambos os líderes da oposição. O que podemos depreender dos discursos dos líderes principais é que estão dispostos a seguir em frente, sem mudar nada. Mas ‘a uma realidade que separa os partidos, além dos resultados eleitorais.
As declarações de Demirtas sobre democracia, liberdade, direitos humanos, e a defesa do “novo estilo de vida democrática radical”, também teve apoio do lado turco, e não apenas em solo curdo. Também o ouviram.
Suponnho que o apoio ao partido curdo nas legislativas de 2015 será maior do que agora. Todos os que, na Turquia, se sentem tratados injustamente, que pedem democracia e liberdade, podem canalizar as queixas através deste partido.

euronews – Falemos sobre o debate sobre o sistema presidencial. Tendo em conta a ideia de Erdogan sobre o novo papel do presidente, que tipo de mudanças pode esperar a Turquia a partir de agora?
Bekir Agirdir – O partido AKP, com Erdogan, pode não ter capacidade para proceder a alterações radicais na Constituição para impôr um sistema presidencialista. Necessitam do acordo dos outros partidos. Mas podemos esperar mudanças a partir de 2015.
Não sei, exatamente, se será apenas uma mudança para o sistema presidencialista ou uma que realiza alterações profundas nos direitos e liberdades. não podemos adivinhar o que será o compromisso dos diferentes atores políticos.

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