Suíços pagam preço alto pela política monetária do país

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Neve, sol e turistas. Uma situação banal para uma estância de esqui nesta época do ano. Mas, na Suíça, esta é uma exceção, após a valorização brutal

Neve, sol e turistas. Uma situação banal para uma estância de esqui nesta época do ano.

Mas, na Suíça, esta é uma exceção, após a valorização brutal do franco suíço face ao euro, como resultado da decisão do banco central da Suíça de deixar de intervir nos mercados para manter a paridade entre a moeda helvética e o euro.

A decisão tinha sido tomada em 2011, no auge da crise das divídias soberanas da zona euro. Um euro valia um franco suíço e todos se habituaram a essa realidade.

O turismo na primeira linha

A decisão do banco nacional penaliza particularmente a indústria turística helvética que vê os clientes fugirem para a concorrência na zona euro, com preços pela metade.

A pequena estância de Grächen, no entanto, encontrou uma forma de atrair os clientes, como explica o diretor da Grächen Tourism Company:

“O setor do turismo está a ser muito atingido, porque somos considerados como setor de exportação. Mas nós produzimos na Suíça não podemos deslocalizar a produção.
Nós criámos uma oferta para os nossos clientes, sobretudo os clientes que vêm do estrangeiro, da Alemanha, França, Holanda, Bélgica. Introduzimos uma taxa fixa de um euro por um franco e 35 cêntimos. E nunca tivémos anulações, pelo contrário. Para o período de fim de estação e para a Páscoa temos uma boa lista de reservas. As pessoas vêm e aproveitam”.

Nesta iniciativa participam uma centena de operadores da estância de Grächen.
Uma situação vantajosa para todos. Os comerciantes aceitam pagamentos em euros, em dinheiro, e os clientes beneficiam de preços mais baixos.

Por seu lado, os comerciantes acumulam reservas em euros que lhes permitem ajudar a financiar uma parte dos investimentos necessários.

Esta fórmula permitiu ao hotel Hannigalp comprar em euros – mais barato – os materiais necessários às obras de renovação.

Com uma oferta de qualidade e preços mais vantajosos, os clientes da zona euro foram continuando a afluir. O pagamento em dinheiro compensa a redução dos preços como explica o diretor do hotel, Olivier Andenmatten:

“Em tempo de internet e de reservas online, temos sempre despesas fixas – temos os custos dos portais online, entre 15 e 20%. Se tivermos euros em dinheiro líquido também não temos comissões dos cartões de crédito e outras. O dinheiro vem diretamente para os nossos cofres”.

Empresas em dificuldades

A valorização rápida do franco suíço desde a decisão do banco central a 15 de janeiro afeta bastante toda a economia helvética e particularmente as empresas exportadoras e as suas subcontratadas, que representam cerca de metade do (Produto Interno Bruto) PIB do país.

O fabricante de aparelhos de medição de temperatura e pressão, Rüger SA, exporta 90% da produção.

O impacto da política monetária é rude para a empresa, diz o patrão, Bernard Rüeger:

“Tivémos um primeiro impacto imediato com as faturas de pagamento diferido cujos fornecedores já tinham sido pagos antes de 15 de janeiro e que só agora estamos a receber. Aí tivémos uma perda imediata de 20%. Para o longo prazo fomos obrigados a tomar medidas rápidas para podermos concorrer com os nossos amigos franceses ou alemães, que são 20% mais baratos do que nós. O que nos obrigou a baixar imediatamente os preços. Mas absorver o choque de tudo isto vai levar-nos dois ou três anos. Vai ser muito complicado para nós assumirmos esta decisão do banco nacional”

Os institutos que analisam os dados conjunturais da economia suíça reduziram em 75% as respetivas previsões de crescimento para 2015.

Numerosas empresas temem ser obrigadas a reununaciar aos projetos de desenvolvimento.

Claudine Amstein, Diretora da Câmara de Comércio dá voz às preocupações dos empresários:

“As empresas atualmente só têm uma solução para se manterem competitivas que é reavaliarem todos os custos. Isto vai do preço da energia a saber se não será melhor subcontratar dentro da zona euro ou desenvolver processos de produção que diminuam os custos. E há também reflexões sobre a política salarial – será preciso congelar os aumentos de salários? – Pode haver discussões e reflexões deste tipo, ou mesmo de diminuição dos benefícios para os colaboradores”.

Baixas de salários, supressões de bónus ou mesmo pagamento em euros para os trabalhadores fronteiriços são medidas em estudo na maioria das empresas. A lista das que já começaram a pôr em prática algumas medidas não pára de crescer, revela o maior sindicato do país.

“Há cada vez mais empresas a fazerem pressão sobre os trabalhadores. Querem baixar os salários, ou pagar os salários em euros ou aumentar as horas de trabalho. Mas não é justo fazer pagar esta situação aos trabalhadores. Esta não é a solução, antes pelo contrário, isto vai aumentar as dificuldades económicas, fazer baixar a procura interna e provocar ainda mais problemas”, defende a co-presidente do UNIA.

Procura interna em baixa

Uma procura interna ameaçada também pelas compras dos suíços nos países fronteiriços. Para evitar o fenómeno, os retalhistas e a grande distribuição multiplicam as promoções.
Os ganhos conseguidos com os produtos comprados na zona euro repercutem-se nos preços para o consumidor.

Este grande distribuidor de automóveis sentiu, de um momento para o outro, desaparcer os clientes privados e deixou de receber encomendas de frotas para as empresas.

Os fornecedores estão a facilitar grandes promoções como o bónus “swiss nett”.

“O bónus swiss nett é de 15% e funciona. Nós estávamos a precisar disso. Temos esperança de recuperar as perdas, mas claro que por cada unidade que vendemos, perdemos 15% de volume de negócios. Vai ser preciso compensá-los com um maior número de vendas”.

A apreciação da divisa suíça face ao euro e ao dólar também semeou o pânico nos bancos privados de gestão de fortunas, que oferecem serviços a uma clientela estrangeira.

O mais importante de todos, (Julius Baer) já anunciou o despedimento de 200 pessoas.

Mas o diretor da associação dos bancos privados suíços, Michel Dérobert, relativisa o impacto:

“Os bancos privados são empresas exportadoras. Por isso, sofrem um impacto claro porque as bases de custo são na suíça e os rendimentos são parcialmente em moeda estrangeira. Portanto é uma disciplina muito difícil para toda a economia de ter que lidar com uma moeda muito forte, mas é saudável porque nos especializa em atividades mais lucrativas”.

Os nichos de mercado são uma das especialidades suíças. Os fabricantes de relógios de gama alta apostam em séculos de experiência e a falta de concurrência estrangeira aos relógios suíços de luxo limita as perdas, sublinha o presidente da Hublot,
Jean-Claude Biver:

“É a eternidade numa caixa! É aquilo a que chamamos a herança cultural e a herança cultural nunca morre!”

Sobre o futuro dos produtos suíços que sofrem a concorrência da zona euro, Jean-Claude Biver mantém-se otimista:

“Os suíços estão condenados a melhorarem os produtos e a inovarem sempre, a serem criativos e a encontrarem sempre a melhor estrutura e organização para terem preços rentáveis. Em todas as derrotas há já o vírus, a bactéria do próximo sucesso! E á a ela que temos que nos agarrar, para que nos guie ao próximo sucesso”.

Uma outra réstea de esperança para os meios económicos suíços são as medidas anunciadas pelo Banco Central Europeu para relançar o crescimento económico na zona euro, que poderão, por ricochete, beneficiar os exportadores suíços.

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