Xylella fastidiosa: A misteriosa bactéria que mata as oliveiras

Xylella fastidiosa: A misteriosa bactéria que mata as oliveiras
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De  Euronews com Nuno Prudêncio
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Uma bactéria está a matar as oliveiras no sul de Itália. Portugal, Espanha e França estão em alerta. Que medidas estão a ser tomadas?

Há já algum tempo que uma das missões dos serviços de proteção florestal italianos é procurar uma misteriosa bactéria. Estamos na região da Apúlia, no sul de Itália. Supõe-se que a proveniência da chamada Xylella fastidiosa é a Costa Rica. O sul da Europa está em alerta: esta bactéria ataca sobretudo as oliveiras, mas também amendoeiras, vinhas e citrinos.

Antonio De Pascalis tem um olival. Há cerca de dois anos que ele e outros produtores iniciaram uma luta contra a Xylella fastidiosa, que ameaça dizimar uma cultura milenar. A forma que têm de intervir é cortar os ramos contaminados. “O grande problema na nossa terra é essa doença. Veja só: aqui na zona de Salento, temos 25 milhões de oliveiras. O inseto não pára de proliferar. Todas as primaveras ataca uma área cada vez maior. Toda esta zona está cheia de árvores secas”, afirma. Outro produtor, Gino Rausa, desabafa: “O que é que vamos deixar às próximas gerações? Os nossos antepassados fizeram grandes sacrifícios para proteger as oliveiras. E nós? O que vamos deixar aos nossos filhos e netos?”

Até agora, na Europa, só o sul de Itália foi afetado. O surto foi identificado perto de Gallipoli, no final de 2013. A doença espalhou-se a uma velocidade estonteante. Há milhões de árvores em risco.

Há um dedo da Máfia em tudo isto?

Em Bari, fomos ao encontro de Marilù Mastrogiovanni, uma jornalista de investigação que tem escrito sobre a Xylella fastidiosa. Segundo ela, o que está por trás de tudo isto não é uma bactéria: é a corrupção política, os projetos turísticos, a Máfia. “Há casos específicos que estão a ser investigados pela Procuradoria-geral, sob suspeita de ligações ao crime organizado. Tem tudo a ver com a especulação imobiliária”, considera.

O combate contra a bactéria está a ser coordenado pelos serviços de proteção florestal. A principal medida para conter o surto foi a criação de uma espécie de cordão de segurança. Mas a verdade é que a doença já foi detetada fora dessa zona. O responsável pelos serviços locais, Giuseppe Silletti, salienta o seguinte: “Estamos a terminar a parte do trabalho com inseticidas. É claro que ninguém prevê o extermínio total do inseto responsável pela transmissão. Isso é impossível. Mas, se repetirmos as medidas de prevenção todos os anos, vamos ter resultados positivos. Toda a gente tem de perceber que aqui há só um inimigo: a Xylella fastidiosa.”

Para alguns defensores da agricultura biológica, como Luca Belletti, a ameaça não é real e ninguém lhes pode impor a utilização de produtos químicos. Aliás, o caso foi a tribunal. Luca ganhou. “É verdade que há um fenómeno que está a secar as árvores. Mas isso sempre aconteceu. A culpa é dos fungos. Nos últimos dez anos, o clima mudou aqui na zona de Salento. Os verões são mais quentes, os invernos mais frios, chove muito mais. E depois há o uso indiscriminado de pesticidas”, aponta.

O receio que os olivais históricos se transformem num deserto

Regressamos a Bari, para acompanhar as investigações científicas que têm como base amostras de folhas de oliveira provenientes da zona de segurança. Foi a Comissão Europeia que impôs a criação de uma área de condicionamento que atravessa a Apúlia de costa a costa. Estes cientistas não têm dúvidas de que a responsável é a Xylella fastidiosa. Um deles, Donato Boscia, pergunta e responde: “Porque é que as árvores estão a morrer? Porque a bactéria bloqueia os veios que transportam a água das raízes até às folhas…”

No entanto, Luca criou uma espécie de grupo de resistência em Oria para evitar o abate de árvores por parte dos serviços florestais. Na verdade, esta área fica fora da zona de segurança. Ou seja, em teoria, não deveria haver casos de contaminação aqui. Mas há. Vários. As autoridades pretendem cortar mais de 200 árvores. Carlo Ceglie, um dos membros do grupo, diz que “o plano é cortar tudo e reflorestar a zona, num raio de cem metros em torno de cada árvore contaminada. Isto é, fica um deserto. Perguntamos aos nossos amigos em Portugal, França, Espanha: se quisessem transformar os vossos olivais num deserto, aceitariam?”

Mas vários especialistas, como o engenheiro agrónomo Giancarlo Biasco, insistem: para controlar o alastramento dos insetos responsáveis é necessária uma combinação entre intervenções tradicionais, produtos químicos e o abate de árvores. “Para salvar todas as outras oliveiras, é preciso sacrificar algumas centenas delas. E isso evita também que o contágio avance para outras zonas de Itália e da Europa”, realça.

Esta plantação em Palmariggi tem mais de mil anos. O seu proprietário, Raffaele Cazzetta, propõe a união entre pequenos produtores para tomarem conta de olivais abandonados, particularmente problemáticos porque é onde a contaminação se faz mais rapidamente. “Neste azeite vive a história do nosso povo, a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa memória. A secagem das árvores é algo que nos provoca muito medo”, declara Raffaele.

Nino tenta salvar uma oliveira. Não consegue esconder a emoção. “A culpa é de todos nós. As pessoas abandonaram o campo. Já ninguém tira a madeira morta assim, isto fazia-se há 40, 50 anos. Sou eu que tenho de tirar o tumor da árvore. Temos de lhe dar vida, porque ela dá-nos vida a nós”, vaticina.

O método ancestral consiste em cortar as partes contaminadas e queimá-las. Bruxelas considera que não chega, que são necessários produtos químicos e abates para proteger o resto da Europa da bactéria Xylella.

Giuseppe Silletti: O inimigo chama-se Xylella

Para aceder à entrevista integral (em italiano) com o responsável pelos serviços de proteção florestal da Apúlia, clique nesta ligação

Giancarlo Biasco: O perigo reside na bactéria

Para aceder à entrevista integral (em italiano) com este engenheiro agrónomo especialista no problema da Xylella fastidiosa, clique nesta ligação

Donato Boscia: Como morrem as oliveiras

Para aceder à entrevista integral (em italiano) com o diretor do Instituto para a Proteção Sustentável das Plantas em Bari, clique nesta ligação

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