Grécia disponibiliza navio para refugiados sírios e provoca revolta em Kos

Grécia disponibiliza navio para refugiados sírios e provoca revolta em Kos
De  Francisco Marques com Reuters
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O "Eleftheros Venizelos" vai servir de centro de acolhimento de refugiados flutuante. Mas migrantes clandestinos não oriundos da Síria estão a queixar-se de discriminação

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Mais de 300 sírios estão embarcar, na ilha grega de Kos, num navio fretado pelo governo de Atenas para albergar estes migrantes com estatuto de refugiados e aliviar a pressão sobre o município insular. O “Eleftheros Venizelos” é uma embarcação de tipo “ferry”, com possibilidade de transporte de veículos e lotação para 2500 pessoas.

O navio atracou na ilha de Kos na sexta-feira, mas o embarque foi retardado um dia para que as autoridades gregas definissem devidamente o processo de entrada no barco. Para já, apenas sírios têm acesso à embarcação, por serem considerados refugiados de guerra, podendo instalar-se nas cabinas e usufruir de uma área preparada especialmente para tratar dos documentos.

Syrians begin boarding refugee ship in Kos http://t.co/av3oTocqTHpic.twitter.com/7ATXG8YvYt

— RTÉ News (@rtenews) 16 agosto 2015

Essa distinção está a provocar a revolta entre os migrantes clandestinos que continuam a chegar a Kos, via Turquia, oriundos de outros países como o Iraque, o Paquistão. o Afeganistão ou o Irão. Estes migrantes queixam-se de que as autoridades gregas não admitem haver guerra também nos seus países e sentem-se discriminados face aos sírios.

A tensão têm aumentado e já se registaram confrontos entre migrantes de diferentes origens, obrigando a que o embarque no “Eleftheros Venizelos” esteja a ser feito sob fortes medidas de segurança desde as primeiras horas deste domingo.

Um jovem emigrante iraquiano, Tayeb Adib, explica a discriminação que sente: “Estou a aguardar, mas eles a mim não me ajudam, só aos sírios. Eles não sabem o que se passa no Iraque ou no Paquistão e isto é um grande problema. Se lhes digo que sou do Iraque, eles afastam-me. Dizem-me para sair dali.”

Thousands of desperate immigrants queue for place on Kos cruise ship after two days of waiting while… http://t.co/9iBHVampQ5#cruising

— Trans World Travel (@transworldtr) 16 agosto 2015

A situação na ilha de Kos está a degradar-se. O centro de refugiados e migrantes clandestinos ali existente é administrado pela organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF), mas os recursos começam a escassear para ajudar as pessoas.

Kos, Grécia: falta de ação das autoridades gregas torna-se abuso de refugiados. http://t.co/292R6rIn3ypic.twitter.com/Mb7cSdkMXO

— MédicosSemFronteiras (@MSF_brasil) 12 agosto 2015

“Estamos a pedir ajuda às autoridades. Estamos aqui sozinhos, isolados, e é impossível trabalhar assim. É impossível manter aqui pessoas por 20 dias e dar-lhes a devida assistência. Estamos a chegar a um ponto em que já não conseguimos ajudar porque é demais”, lamentou Julia Kourafa, porta-voz da equipa dos MSF em Kos.

Chegada de migrantes à Grécia disparou 750 por cento

Dados oficiais da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR, na sigla inglesa) indicam que só este ano, entre janeiro e o final de julho, já chegaram à Grécia cerca de 124 mil refugiados e migrantes clandestinos. É um aumento impressionante de 750 por cento face ao mesmo período do ano passado.

Number of #refugees and migrants arriving in #Greece soars 750 per cent over 2014 http://t.co/EgIojKIszrRefugees</a></p>&mdash; UNHCR Greece (UNHCRGreece) 8 agosto 2015

Só em julho, foi registada a chegada de 50.000 migrantes — mais 20.000 que no mês anterior. O aumento deve-se à melhoria do tempo durante o verão que permite viagens menos arriscadas pelas águas do Mediterrâneo. Os destinos gregos preferências destes migrantes clandestinos são as ilhas de Lesbos, Chios, Kos, Samos e Leros.

Mais de 7 mil refugiados chegaram à ilha de Kos, na Grécia, durante julho – o dobro em comparação a junho. http://t.co/292R6rIn3y

— MédicosSemFronteiras (@MSF_brasil) 12 agosto 2015

A UNHCR alerta que “a larga maioria” destes migrantes são oriundos de países a viver conflitos ou violações de direitos humanos como o Afeganistão ou o Iraque. A maior fatia, contudo, cerca de 63 por cento de todos os que chegaram este ano, são oriundos da Síria e, por estarem em fuga de uma guerra civil reconhecida como tal na Grécia, são tratados como refugiados e têm direitos especiais ao abrigo da lei internacional face a outros migrantes vistos como estando em busca apenas de uma melhor situação económica.

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