As eleições turcas são um teste a Recep Tayyip Erdogan e ao Partido Justiça e Desenvolvimento, AKP, mas num contexto totalmente diferente. Um desafio
As eleições turcas são um teste a Recep Tayyip Erdogan e ao Partido Justiça e Desenvolvimento, AKP, mas num contexto totalmente diferente. Um desafio para ambos mas também para o país que vive um impasse.
Murat Yetkin, editor-chefe do Hurriyet Daily News:
“Nas eleições de 1 de novembro, Erdogan com o seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), quer ver se pode recuperar, ou não, a maioria absoluta no Parlamento”.
Euronews:
A situação é muito diferente em relação às últimas eleições. O processo de paz foi interrompido, as ações terroristas aumentaram… Que reflexo pensa que terá nas eleições?
Murat Yetkin:
“Como referiu, são questões muito importantes. O PKK relançou os ataques, a reação dos militares foi dura e mortífera, há os funerais, a violação dos direitos humanos… Estamos numa situação idêntica à que se passou em 1990. O partido Justiça e Desenvolvimento a pressionar para conseguir uma maioria. Estão a ponderar se é possível ter, novamente, um governo com um partido apenas. Se acontecer é por uma margem pequena. Mas será suficiente para o presidente Erdogan. É o suficiente, porque, neste caso, ele agirá como se tivéssemos um sistema presidencial sem uma reforma constitucional. Ele pensa que continuará a ser presidente enquanto o AKP se mantiver no poder.”
A indefinição, causada pela instabilidade política, depois de quatro partidos terem falhado a criação de um governo, relança questões sobre o futuro.
Euronews:
Que cenários pós-eleitorais antevê? Qual será o pior e o melhor cenário possível?
Murat Yetkin:
_“O pior cenário seria uma nova ronda eleitoral porque, em termos de investimento, 2015 é um ano perdido para a Turquia. Perderíamos 2016 também. E não sabemos quanto tempo esta situação de incerteza vai durar, já que a Constituição permite-o.
Se o AKP não conseguir a maioria teremos um governo de coligação. Neste caso há duas possibilidades. Uma é o AKP coligar-se com os nacionalistas, a outra é coligar-se com os republicanos. O cenário AKP/CHP precisa de consenso, o que a Turquia não tem há muitos anos. Esta coligação juntaria as duas principais correntes políticas da Turquia. Face a uma reforma constitucional é altamente provável que a aposta recaia numa Constituição democrática. O que poria fim ao projeto de um sistema presidencial.”_
Uma Constituição presidencialista pela qual Erdogan anseia para ter mais poderes enquanto chefe de Estado.