Segundo a ONG Human Rights Watch, 250 mil crianças sírias refugiadas no Líbano não têm acesso à escola. As restrições de Beirute às condições de acolhimento dificultam fortemente a vida de milhares de famílias
"O Líbano precisa de muito mais apoio financeiro internacional para responder às necessidades educacionais dos refugiados sírios, incluindo a expansão e reabilitação das escolas públicas; o investimento na qualidade do ensino, com inclusão de crianças deficientes; formação de mais professores e o subsídio aos transport
Confrontado com um afluxo massivo de refugiados sírios – 1,1 milhão, o equivalente a um quarto da populaçõ do país -, o Líbano tem vindo a reforçar o controlo e a restringir as condições de acolhimento.
Num relatório publicado na terça-feira em Beirute, a organização Human Rights Watch (HRW) revela que mais de 250.000 crianças sírias, refugiadas no Líbano, não têm acesso à educação. Uma exclusão que abrange particularmente os jovens entre os 15 e os 18 anos.
O documento de 87 páginas, intitulado ““Crescer sem Educação”“:https://www.hrw.org/report/2016/07/19/growing-without-education/barriers-education-syrian-refugee-children-lebanon indica que apenas 13% dos jovens nesta faixa etária estiveram inscritos numa escola pública libanesa no ano letivo de 2015/2016.
No Vale de Békaa, dezenas de campos de refugiados clandestinos estão repletos de crianças que não vão à escola. Entre as razões, as famílias falam do custo dos transportes, de intimidações e de assédio.
“Não gosto da escola, não nos ensinam nada.. e batem-nos. Deixei de ir à escola há sete meses. Quero trabalhar, ter a minha vida, trazer dinheiro para casa para a família. Quero comer, comprar uma bicicleta e jogar futebol”, diz o jovem, Saddam Al Jassem.
O relatório aponta também a discriminação dos deficientes e refere que as medidas aprovadas pelo governo libanês são, muitas vezes, aplicadas parcialmente ou simplesmente ignoradas.
As escolas públicas rejeitam as crianças deficientes sob o pretexto de falta de recursos necessários para a sua educação.
Por outro lado, muitos pais sem autorização de residência no país temem enviar as crianças à escola com receio de que a família seja detida ou mesmo expulsa.
É por isso que o Bassam Khawaja, da HRW, deixa o apelo: “Apelamos ao governo libanês para que reveja imediatamente a regulamentação de residência, especialmente que acabe com a taxa anual de 200 dólares, com a exigência de que os refugiados se comprometam a não trabalhar e com a necessidade de alguém que assuma apoiá-los para os deixar permanecer”.
O conflito sírio já fez mais de 280 mil mortos desde março de 2011 e levou mais de metade da população ao êxodo para os países vizinhos. O acesso à educação é fundamental para ajudar as crianças a ultrapassarem o traumatismo da guerra, assim como para adquirirem as competências necessárias para desempenharem um papel positivo no país de acolhimento, ou mesmo, para participarem um dia na reconstrução da Síria.