Antigo primeiro-ministro socialista anunciou que não irá votar pelo candidato do PS na primeira volta.
Com AFP
As divisões no seio do Partido Socialista do presidente François Hollande são cada vez mais claras, quando falta pouco tempo para as eleições presidenciais de abril e, caso haja uma segunda volta, maio.
Benoît Hamon é o quarto nas sondagens relativas às intenções de voto na primeira volta, depois de Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional (extrema-direita), de Emmanuel Macron (independente de centro) e de François Fillon, dos Republicanos (centro-direita).
Ne laissons pas les forces de destruction, les forces de l'argent présider aux destinées de notre pays. Rassemblons la gauche pour gagner. pic.twitter.com/zLgKvlxvbO
— Benoît Hamon (@benoithamon) March 29, 2017
Hamon tem vindo a ser abandonado por importantes figuras do Partido Socialista, como antigos membros do Governo Hollande-Valls, o antigo presidente da Câmara Municipal de Paris, Bertrand Delanoë e, mais recentemente, pelo antigo primeiro-ministro do Governo Hollande, Manuel Valls. Valls: A vingança do derrotado?
Valls foi o grande derrotado das primárias socialistas, que serviram para investir o candidato do PS às presidenciais. Na altura, prometeu permanecer fiel ao partido:
“Sinto um grande compromisso em relação às minhas obrigações. Hamon é o candidato da nossa família política e tem a responsabilidade de levar adiante a nossa missão”, disse Valls, depois de conhecidos os resultados das primárias.
Mas o socialista parece ter mudado de opinião. Em entrevista ao canal de informação francês, BMTV, e à RMC, rádio Monte-Carlo, Manuel Valls disse que havia um conjunto de elementos que o faziam mudar de opinião:
“Penso que não devemos correr riscos em relação à República. Por isso, votarei por Emmanuel Macron“, explicou o antigo primeiro-ministro socialista.
Valls disse ainda que “não votaria com o coração”, mas sim “com a cabeça”.
Dois depois da derrota nas primárias, o antigo primeiro-ministro distancia-se do candidato escolhido pelos militantes.
Um PS em dividido e “em decomposição”
É num PS dividido, em “decomposição”, segundo alguns membros do partido Republicanos, que Benoît Hamon terá de levar a cabo a sua campanha, com promessas feitas a um eleitorado socialista que são descritas pelos media franceses como claramente de esquerda.
Para tal, poderá ainda contar com o apoio de algumas personalidades de destaque do PS, como Anne Hidalgo, atual presidente da Câmara Municipal de Paris, Martine Aubry, antiga ministra, antiga secretária do PS e atual presidente da Câmara de Lille (região de Hauts de France) e Christiane Taubira, antiga ministra da Justiça.
Ma conception de l'honneur et de l'éthique démocratique a été de mettre toute mon énergie au service de la victoire de la gauche en 2012
— Martine Aubry (@MartineAubry) March 29, 2017
Os media franceses têm apontado para um facto curioso neste movimento de deserção vivido no seio do PS. É que existem pelo menos dois artigos dos Estatutos do Partido que proibem o abandono dos candidatos investidos pelos militantes – o que fez, por exemplo, Manuel Valls – assim como o apoio a qualquer candidato a umas eleições que não tenha sido investido pelo partido – **o que fez, também, o antigo primeiro-ministro socialista.**Direção do PS: Quem apoia Macron já não é socialista
Jean-Christophe Cambadélis, Primeiro secretário do PS, recordou, em dezembro passado, que esses mesmos estatutos eram para ser respeitados por todos.
“Quando tivermos um candidato às presidenciais, todos os deputados deverão apoiá-lo. Devemos respeitar os Estatutos e respeitar a lei”, disse Cambadelis.
No entanto, no dia em que ficou a saber-se que Valls votaria em Macron, o Primeiro secretário do PS disse que os socialistas que tivessem prestado apoio ao movimento En Marche, de Emmanuel Macron, tinham deixado de ser socialistas
Macron “remercie” Valls de son soutien, mais prévient qu'il serait “le garant du renouvellement des visages” et des “pratiques” #AFPpic.twitter.com/LK4BxPRq9U
— Agence France-Presse (@afpfr) 29 de março de 2017
Entretanto, Emmanuel Macronagradeceu o apoio do antigo primeiro-ministro socialista, mas recordou que, caso venha a formar Governo, procurará “uma renovação de rostos” e novos “métodos”.