Entrevista à Euronews: médico em Lampedusa lamenta "campos de concentração"

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De  Lilia Rotoloni
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Pietro Bartolo criticou a União Europeia por tomar decisões erradas na Líbia e fala na existência generalizada de tortura e violações.

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A existência de casos de escravidão entre os migrantes e refugiados dos campos de detenção na Líbia provocou a condenação da parte das Nações Unidas.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (OHCHR, sigla em inglês), definiu a situação como “intolerável” e recomendou o envio de membros de Organizações Não Governamentais para o terreno, de forma a impedir o tráfico de Seres Humanos. Uma posição apoiada por Executivos do sul da Europa, como foi o caso do Governo italiano.

No entanto, em entrevista exclusiva à Euronews, Pietro Bartolo, diretor dos serviços médicos do campo de migrantes da ilha italiana de Lampedusa diz que, a serem tomadas, tais decisões chegam tarde e que a Europa tem tomado as decisões erradas:

“Penso que fizemos pior do que fez a Europa com a Turquia. Porque na Turquia, criaram campos de refugiados. Na Líbia, depois do acordo, criaram-se campos de concentração”, disse Bartolo.

Tortura, racismo e abusos

“Os migrantes são torturados e as mulheres são violadas. Lidamos com casos de pessoas cuja pele foi arrancada. Passaram fome e quando chegam a Lampedusa são pele e osso. Fazem-lhes tudo isto para que não protestem”, continuou.

O diretor dos serviços médicos do campo de migrantes e refugiados de Lampedusa explicou ainda que o facto de que muitos dos migrantes sejam negros piora a situação, já que são vítimas de abusos racistas:

“É preciso entender que na Líbia, estas pessoas, especialmente os negros, não são vistas como humanos. São considerados inferiores. E pode fazer-se o que se quiser com eles. Detetámos todo o tipo de sinais de tortura: com arma de fogo, com recurso a choques elétricos, queimaduras, chicotadas, coisas inaceitáveis. Toda a Europa deveria indignarse”.

Pietro Bartolo disse ainda que os países do sul, como Itália, Grécia ou Malta não podem lidar com o problema sozinhos. A resposta, defendeu, deve ser coordenada a nivel europeu.

Bartolo passou mais de duas décadas como profissional de assistência a migrantes e refugiados oriundos do norte de África. Recentemente, apresentou, na região da cidade francesa de Lyon, o libro “Lágrimas de Sal”.

Com Marco Lemos e António Oliveira e Silva

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