O jornalista que fez parte da equipa que revelou o escândalo de abusos na Igreja Católica dos EUA está cético sobre a cimeira que decorre no Vaticano.
O Vaticano acolhe um encontro inédito para travar o abuso sexual no clero, um escândalo que ensombra a Igreja Católica há quase 17 anos, quando o jornal The Boston Globe expôs o caso nos Estados Unidos.
O jornalista Michael Rezendes fez parte da equipa de investigação e, em entrevista à euronews, mostra-se cético sobre o real impacto da reunião que junta o Papa Francisco e bispos de todo o mundo.
"Não tenho grandes expectativas para a reunião. Antes de mais, o encontro é demasiado curto para que aconteça algo significativo. Também tenho dúvidas se o Vaticano está a ser sincero em realmente fazer mudanças que vão parar o abuso de crianças por padres e que vai responsabilizar os bispos por encobrir os abusos", afirmou.
Após 17 anos de ter ajudado a revelar um caso de abuso sistémico e encobrimento de proporções nunca antes vistas, Michael Rezendes - que descende de açorianos - lamenta o longo caminho que ainda há a percorrer para travar os crimes.
"É muito tempo e muito pouco foi feito. Acho que há pessoas no Vaticano que, depois de todo este tempo, ainda estão em negação e não acreditam que este é um problema sério. Acho que os bispos não querem ser disciplinados. Há também uma tradição na Igreja Católica de deixar os bispos reinarem sobre a sua diocese. Eles têm uma quantidade incrível de poder e, em grande parte, não querem abandonar o controlo que têm. Não sentem que lhes deva ser dito o que devem fazer".
Para o jornalista e vencedor do Prémio Pulitzer de investigação, é fundamental o contributo da comunicação social para forçar a Igreja Católica a produzir uma mudança real.
"Espero que os media continuem a cobrir esta questão e continuem a revelar o abuso sexual do clero, porque a reunião nunca teria acontecido se não fosse pela atenção intensa e consistente dos media. A única vez que a Igreja parece fazer qualquer coisa é quando a pressão mediática se torna demasiado grande. É realmente importante que o Vaticano saiba que não vamos parar até que algo seja feito", concluiu.