Halter quer unir mulheres israelitas e palestinianas em prol da paz

Halter quer unir mulheres israelitas e palestinianas em prol da paz
Direitos de autor 
De  Elza GONCALVES
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Judeu de origem polaca, Marek Halter conheceu o horror dos campos de concentração nazis. Ao 83 anos, o autor francês continua a combater pela paz.

PUBLICIDADE

A euronews entrevistou o escritor e pacifista francês de origem polaca Marek Halter a propósito da publicação, em França, da sua autobiografia,"Je rêvais de changer le monde".

Judeu de origem polaca nascido em 1936, Marek Halter conheceu o horror dos campos de concentração nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Ao 83 anos, o escritor francês recorda alguns dos momentos marcantes da sua vida e o seu percurso em prol da paz.

euronews: "Marek Halter: intelectual, escritor e combatente pela paz. A sua história é extraordinária. Nas suas memórias conta: "Eu sonhava em mudar o mundo" e diz que o ato de escrever, estou a citar, é como mergulhar as mãos "no caldeirão a ferver da memória". Como foi a experiência de escrever as suas memórias?"

Marek Halter: "Não foi fácil porque quando decidimos escrever as nossas memórias, significa que aceitamos a ideia de que a vida já está atrás de nós, caso contrário, esperaríamos. Ou seja, apercebemo-nos de que somos mortais, e perguntamo-nos quanto tempo nos resta. Talvez nunca as tivesse escrito se a minha esposa não tivesse ficado doente com uma doença incurável por enquanto, Parkinson. Como li muitos livros, incluindo o doutor Faustus" de Goethe, propus um pacto à morte que para mim, é como o diabo, é o mal absoluto. Disse-lhe: 'deixa a Clara em paz até que eu termine as minhas memórias'. Eu gostava muito de ler as minhas memórias à minha esposa. E foi extraordinário porque ela morreu no momento em que eu acabei a escrita. Só me faltava acrescentar a última frase do livro: "Clara está morta. É algo fabuloso, acreditemos ou não em Deus, no destino ou no acaso".

euronews: "Aos dez anos, conheceu Estaline e disse que esse encontro marcou profundamente e mudou a sua vida".

"Nessa altura, pensei que Estaline era um homem como nós"
Marek Halter
escritor

Marek Halter: "Ele dessacralizou a função do chefe. Eu tinha dez anos, no primeiro aniversário da vitória sobre o nazismo. Fui enviado, com uma delegação, para oferecer flores a Estaline, na praça Vermelha. Há uma foto desse momento no livro. De repente, eu vi um homem muito mais pequeno do que nos retratos das estações de comboio. Ele cheirava a tabaco frio, era terrível. Dei dois passos para trás. Em vez de lhe dar as flores recuei. Foi ele que se aproximou de mim e pegou nas flores. Nessa altura pensei que Estaline era um homem como nós".

euronews: "Esse encontro mudou-o, nomeadamente, quando tentou negociar a paz entre israelitas e palestinianos".

Marek Halter: ""Exatamente. Libertou-me completamente, deixou de haver problema. Quando vi o Arafat pela primeira vez não foi um problema. Conversámos. Ele não compreendia bem quem eu era, um judeu pró-israelita que vinha vê-lo. Quando convenci Shimon Peres a encontrar-se com ele, liguei-lhe e disse-lhe "Yasser, Shimon Peres quer encontrar-se consigo em minha casa em Paris". Ele respondeu: "acha que é razoável?" Eu disse-lhe: "Ninguém vai ficar a saber, será em minha casa". E foi assim que começou a negociação que deu origem aos Acordos de Oslo".

"A minha ideia é simples: reunir 300 mil mulheres, metade palestinianas, metade israelitas"
Marek Halter
escritor

euronews: "O título do livro diz "Eu sonhava". A frase está no passado?"

Marek Halter: "Não é o passado."

euronews: "Ainda tem desafios?"

Marek Halter: "Claro. Tenho um projeto e acho que se conseguir fazê-lo haverá paz no Médio Oriente. Houve um novo elemento que surgiu há 50 anos: são as mulheres. A minha ideia é simples: reunir 300 mil mulheres, metade palestinianas, metade israelitas. Trazer as televisões, incluindo a euronews e desfilar até Jerusalém com um só cartaz a dizer "paz". Ninguém ousará atirar contra as pessoas. E depois haverá abraços entre a multidão de mulheres. Garanto-vos que um ano depois, ninguém voltará a falar do conflito israelo-palestiniano".

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Nobel da Paz contra a violência sexual como arma de guerra

Luanda, capital mundial da paz 2019

Marek Halter: "Não se consegue impor a democracia pela força das armas"