Os níveis opostos de satisfação grega e holandesa na União Europeia

Em parceria com The European Commission
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O Real Economy, da Euronews, foca-se esta semana nas preocupações dos eleitores a poucos dias das Eleições Europeias

Poucas foram as eleições europeias com tanto interesse como as deste ano. Neste episódio especial sobre as eleições europeias, a equipa do Real Economy foca-se nas preocupações dos eleitores.

Tentámos perceber como é que o interesse dos eleitores vai poder influenciar o resultado do sufrágio marcado para decorrer entre os dias 23 e 26 de maio nos 28 estados-membros da União Europeia e, por conseguinte, como poderá afetar a política europeia nos próximos anos.

As diferenças entre os Estados membros também se mantêm impressionantes. Em especial na diferença do nível de satisfação entre os cidadãos da Holanda e do Luxemburgo, e os da Grécia.

Entre holandeses e luxemburgueses há 93% de pessoas satisfeitas com a respetiva situação económica no país. Entre os gregos, há apenas 2% de satisfeitos.

A Euronews deslocou-se, por isso, a Atenas tentar perceber quais as maiores preocupações dos gregos, que viveram o pior momento em 2011, quado a economia local contraiu 9,1%.

"Após anos de crise, austeridade e resgates financeiros, a Grécia ficou finalmente livre em agosto do ano passado, no entanto, nas ruas, os gregos não parecem contentes: apenas dois por cento assumem-se satisfeitos com a situação económica do país", reitera Sasha Vakulina, a editora de Economia da Euronews e apresentadora do Real Economy.

Numa ronda de entrevistas de rua, Sasha Vakulina ouviu cidadãos gregos queixarem-se, por exemplo, que "tudo está a ir de mal a pior" e vai acabar por haver "a mesma diferença" no país ou que a "classe média tem sido dizimada" e que duvidam que "as eleições europeias tenham algum impacto na vida" dos gregos.

Há também que considere que "alguns passos importantes têm sido dados" e quem se mantenha "otimista" pelo que tem vivido ultimamente.

Depois de falarmos com os cidadãos, fomos ouvir um professor de estudos internacionais da Universidade de Economia de Atenas.

Panos Tsakloglou disse-nos que "não é totalmente surpreendente que as pessoas olhem para a economia desta forma."

"É preciso termos em conta que a consolidação fiscal foi implementada sobretudo pelo aumento de impostos. Por isso, o rendimento lÍquIdo caiu mais de 40 por cento. São números impressionantes. É preciso termos também em conta que apesar de a economia estar de novo a crescer, o desemprego mantém-se acima dos 18 por cento e o custo de vida continua substancialmente abaixo do que estava antes da crise", explica-nos o professor.

Em janeiro, a taxa do desemprego grego estava de facto nos 18,5 por cento, o equivalente a cerca de três vezes mais que o nível médio da UE, que era de 6,5 por cento.

A retoma económica está, no entanto, em curso e a previsão de crescimento do PIB estima-se, este ano, atingir os 2,2 por cento.

Perguntámos ao diretor-geral da Fundação para a Pesquisa Económica e Industrial o que é que poderá mudar depois das europeias?

"De certa forma, com todos estes programas de ajuda e uma década de recessão, será a primeira vez que não temos uma oposição a ameaçar desfazer a estabilidade económica. Existe esperança de que quando ocorrer esta mudança política iremos ter uma aceleração das taxas de crescimento económico devido às reformas comerciais que se esperam vir a ser implementadas", perspetivou Nikos Vettas.

A satisfação holandesa

Enquanto Sasha Vakulina tentava perceber o sentimento europeu dos gregos na véspera das eleições, outro membro da equipa do Real Economy, Guillaume Desjardins, deslocou-se a um dos países no extremo oposto à Grécia na tabela da satisfação: a Holanda.

Os holandeses, tal como os luxemburgueses, são dos povos mais satisfeitos na Europa perante a atual situação económica do respetivo país. Têm razões para isso, pelo que podemos concluir das entrevistas de rua efetuadas.

Disseram-nos que, no país das tulipas, "os serviços ainda são assegurados, as infraestruturas estão cuidadas e as pessoas têm assistência social".

Um reformado destacou a "boa reforma" que recebe e que lhe permite tirar "férias três ou quatro vezes por ano com a namorada."

Uma jovem disse ter o "próprio emprego", pelo qual ganhava "bom dinheiro" e que por isso se sentia "feliz". Outro entrevistado enalteceu a criação de emprego na Holanda, inclusive para os imigrantes.

"O desemprego na Holanda é baixo, a balança comercial é positiva e o rendimento familiar está a crescer devido a uma recente redução nos impostos sobre o rendimento, mas também a uma negociação coletiva e a uma conjuntura global favorável. Será isto suficiente para permitir à Holanda um crescimento sustentável?", questiona Guillaume Desjardins, antes de nos conduzir a uma pequena empresa fabricante de bicicletas.

A empresa de Pieter tem cinco funcionários e 11 estagiários, contribui para o bolo gerado pelas mais de um milhão de PME holandesas, responsáveis por cerca de um terço do volume de negócios e dos postos de trabalho no país.

Há seis anos, com um amigo, Pieter começou a fabricar bicicletas personalizadas. Com as novas taxas aplicadas aos quadros de bicicletas chineses, a empresa teve de se adaptar.

"Colaboramos com uma fábrica chinesa especializada em produzir apenas quadros de titânio. Eles têm o conhecimento, as aptidões e a mão-de-obra especializada. É difícil encontrar tudo isto na Europa. Há especialmente escassez de técnicos e como são cada vez menos, estão a tornar-se caros", explicou Pieter van der Marel.

Os economistas mostram-se preocupados, no entanto, com a reduzida proteção social dos trabalhadores por conta própria. Temem um aumento da inflação e do desemprego no próximo ano.

Apesar disso. os holandeses mantêm-se ainda mais satisfeitos com a economia do que os alemães, os suecos e praticamente todos os outros parceiros europeus.

Perguntámos ao economista Philip Bokeloh, do ABN Amro, o porquê desta satisfação?

"O nível de vida é relativamente alto e a vida privada também é boa. Se compararmos as horas de trabalho com os gregos, na Holanda trabalhamos muito menos horas. Permite-nos ter muito mais tempo livre e isso, claro, beneficia o bem-estar das pessoas", sublinha.

No entanto, quando questionado se esta satisfação está para ficar, Philip Bokeloh foi um poupo mais reservado.

"Noto já alguma quebra na satisfação e isto pode vir a agravar-se se o 'brexit' não for devidamente resolvido ou se os conflitos internacionais se intensificarem ainda mais. Irão os holandeses ser tão felizes como são hoje? É difícil dizer, mas é previsível que venham a deixar de ser tão felizes como são agora", admite Bokeloh

Todas estas diferentes preocupações dos eleitores dos vários países da união Europeia vão ter de ser geridas pelo Parlamento Europeu e pela nova Comissão Europeia depois das eleições de 26 de maio.

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