Argélia: figuras do regime de Bouteflika em julgamento

A Argélia assiste ao primeiro grande julgamento por corrupção da era pós Bouteflika. Um julgamento que decorre sob alta tensão dentro e fora do tribunal. Perante os juízes comparecem dois antigos primeiros-ministros, altos dirigentes políticos e homens de negócios do setor automóvel.
Todos os advogados de defesa boicotaram a audiência, por considerarem que se trata de um julgamento político, a uma semana da eleição presidencial.
Abedalaziz Boujedhouba, um dos advogados, afirma aos jornalistas: "Quero vos falar da situação sem deturpar a mensagem da defesa. Repito; nós, a equipa de defesa, dizemos, por unanimidade, que este processo, que está a decorrer neste momento - no meio do movimento popular que abalou o país desde fevereiro e conduziu a este julgamento -, não está a permitir um julgamento justo.
As acusações vão de delapidação de bens públicos, abuso de funções e conflito de interesses, até corrupção e branqueamento de dinheiro.
Nas ruas pede-se a condenação dos arguidos:
"Esperamos que este julgamento termine como nós queremos, ou seja, que a justiça diga que são ladrões e lhes dê prisão perpétua", diz um homem.
Outro, acrescenta: "Estas antigas personagens políticas roubaram o país. Devem ser executadas na praça pública. Nós temos de assistir a este julgamento porque eles roubaram a vida a muitas pessoas, como eu".
As investigações que deram origem ao julgamento foram desencadeadas após a demissão, em abril, do presidente Abdelaziz Bouteflika que, após 20 anos no poder, foi obrigado a demitir-se pelo movimento de contestação popular. O mesmo movimento que apela ao boicote da eleição presidencial e exige a saída da esfera do poder de todos os representantes do antigo regime.