Os receios de Christine Lagarde não se focam no pé de meia dos europeus, mas na falta de consumo provocada pela pandemia, mas também pelos receios de um futuro incerto
A poupança das famílias europeias engordou durante os dois meses de confinamento que bloquearam a Europa e os receios pelo futuro está a manter a tendência, ameaçando retardar a ansiada retoma da economia, prevê a presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Entre fevereiro e maio, as poupanças na Europa chegaram aos 7,3 biliões de euros, um recorde.
Se se olhar apenas à zona euro, o aumento do pé de meia dos europeus foi de 136 por cento apenas entre março e abril, o período de maior impacto da pandemia.
Christine Lagarde antevê que a crise económica vai agravar as dívidas públicas e privadas.
A Presidente do BCE avisou que impacto será pior nos países e nas pessoas mais vulneráveis. Um aviso que Portugal, por exemplo, deve ter em conta.
A própria retoma vai ser contida, acrescentou Lagarde, considerando que em vez do regresso ao consumo como antes da pandemia, as famílias estão a privilegiar a salvaguarda do futuro e alguns negócios, como o do turismo, vão sofrer danos muito fortes.
O BCE espera, por isso, uma profunda recessão na zona euro até final do ano, tendo já reforçado o programa de compra de ativos de emergência devido à pandemia com mais 600 mil milhões de euros, para um total de 1.350 milhões de euros a usar pelo menos até ao final de junho do próximo ano.
Em Portugal, o total de depósitos nos bancos, em maio, chegou aos 159 mil milhões de euros, com um incremento de mais de 900 milhões de euros face a abril.
A tendência de aumento de dinheiro guardado nos bancos já vinha, no entanto, de trás. O final do primeiro trimestre deste ano revelou um crescimento de 7,4% na taxa de poupança dos portugueses, seis décimas acima do quarto trimestre de 2019 e motivada pelos aumentos nos salários e de uma quebra no consumo no final do ano.