"UE tem de reduzir vulnerabilidade face aos EUA", defende Lamy

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De  Isabel Marques da SilvaEfi Koutsokosta
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O comércio é uma das áreas de contenda entre EUA e o resto do mundo, nomeadamente com a União Europeia. Poucas horas depois do fecho das urnas, a euronews entrevistou Pascal Lamy, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (2005 a 2013).

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O comércio é uma das áreas de contenda entre EUA e o resto do mundo, nomeadamente com a União Europeia. Poucas horas depois do fecho das urnas, a euronews entrevistou Pascal Lamy, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (2005 a 2013), que agora é presidente do Fórum da Paz de Paris.

Efi Koutsokosta/euronews: Parece que Donald Trump é, de certa forma, um vencedor, independentemente do resultado eleitoral. Depois de quatro anos no poder, pensa que a visão protecionista de Trump ao nível das políticas comerciais e económicas pode ser vista como uma vitória? O "Trumpismo" veio para ficar?

Pascal Lamy/especialista em comércio internacional: Penso que, independentemente da opinião que tenhamos da pessoa, e cada um terá as suas opiniões, é claro que ele tem o apoio de grande parte da opinião pública norte-americana. Não tenho a certeza de que sua política comercial seja o resultado disso. Ele queria reduzir o défice comercial dos EUA, mas acabou por o aumentar. Portanto, é tudo uma questão de política, de discursos, mas não de economia real. Infelizmente é assim.

**Efi Koutsokosta/euronews: **No entanto, nos últimos anos, vimos grandes mudanças, incluindo a ascensão da China como o principal rival geopolítico e tecnológico dos Estados Unidos. Há um aprofundamento da desigualdade dos rendimentos nos EUA e no resto do mundo, algo que se agrava, também, por causa da pandemia de Covid-19. Portanto, é realista esperar que o próximo presidente queira investir na renovação do multilateralismo a nível comercial? Ou será que a política de comprar mais produtos norte-americanos vai ter algum apoio?

**Pascal Lamy/especialista em comércio internacional: **Os EUA consideram que a China é uma ameaça. A China considera que os EUA são uma ameaça. Isso terá consequências geopolíticas e comerciais, mas não decorre de uma posição protecionista a priori. Penso que se Joe Biden se tornar o presidente dos EUA também vai considerar que a China é uma ameaça para os EUA, mas lidaria com a China de forma diferente, não através de confronto mas da negociação.

**Efi Koutsokosta/euronews: **Todos estes desenvolvimentos nos Estados Unidos levarão a Europa a tentar ser mais unida e a ter protagonismo a nível global, ou a unidade europeia poderá ser prejudicada, também, pelas divisões internas que se vêem do outra lado do oceano Atlântico?

**Pascal Lamy/especialista em comércio internacional: **Penso que a rivalidade entre EUA e China é o verdadeiro jogo em termos geopolítico, nos próximos vinte anos. A União Europeia precisa de se unir para reduzir a sua vulnerabilidade tanto em relação à China como aos EUA, e não há outra forma de reduzir a vulnerabilidade a não ser ter mais integração europeia. Todos sabemos que é difícil, que é complexo. Mas, em certo sentido, os EUA, a Rússia, a Turquia e a China estão a indicar qual o caminho que devemos seguir. Se quisermos defender os nossos interesses e valores na cena internacional temos de apostar em maior integração europeia. Penso que é uma necessidade que, passo a passo, se sentirá cada vez mais, se ainda não for o caso.

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