As organizações não governamentais falam de uma situação dramática agravada pela pandemia. O número de pessoas necessitadas cresce todos os dias
Marselha, uma das cidades mais desfavorecidas de França, tem visto a pobreza e as desigualdades crescerem de forma gritante com a pandemia.
Com os restaurantes fechados, há fome nas ruas.
Sten Augustin é um dos que não consegue sobreviver. É artista de rua, tinha um espetáculo de bolas de sabão: "Eu costumava passar com o chapéu pelas esplanadas. Não há esplanadas; não há dinheiro", conta, apontando as ruas desoladoramente vazias.
No emblemático e festivo Cours Julien todos os restaurantes encerraram, menos o restaurante social Noga, que distribui 900 refeições por dia, o dobro do que distribuía antes da crise.
Pascal Boulgarian, chefe nesta cozinha comunitária afirma: "Nos bares, nos restaurantes, toda a gente dava um café ou outra bebida e agora ninguém dá nada. Está tudo fechado e nós dissemos: 'vamos tentar dar durante período do confinamento'.
ONG's como o Secours Catholique falam de crise humanitária. Com o segundo confinamento, iniciado em outubro, o Banco Alimentar constata um aumento significativo da faixa populacional com necessidades. Os números são colossais: Todas as semanas a Associação distribui 85 toneladas de alimentos.
Trabalhadores sazonais, famílias da classe média ou mesmo empresários em falência engrossam agora as filas de espera junto das associações humanitárias.
"A caraterística é o alargamento das necessidades entre a população", diz Gérard Gros, o presidente do Banco Alimentar de Bouches-du-Rhône.
A Ação contra a Fome, que opera normalmente em cenários de crise humanitária, instalou-se em Marselha durante o primeiro confinamento.
Marselha continha já os bairros mais desfavorecidos de França. Números de 2017 revelavam taxas de pobreza de 26%, a atingirem os 53% no bairro da Bel de Mai. Não há dados estatísticos ainda da fase da pandemia, mas a realidade das ruas revela a dimensão da tragédia humana.