"Chega!": À conquista da afirmação política

André Ventura em comício "drive-in" em Leça da Palmeira
André Ventura em comício "drive-in" em Leça da Palmeira Direitos de autor ESTELA SILVA/ 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
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De  Pedro Sacadura
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O que motiva o avanço do partido anti-sistema em Portugal e que impacto poderão ter as eleições presidenciais?

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Esta sexta-feira, termina a campanha para as eleições presidenciais de 24 de janeiro, a primeira realizada em Portugal em estado de emergência. A campanha está a ser igualmente marcada pelo braço-de-ferro com novos atores que lutam pelo palco político.

O líder do partido Chega!, André Ventura, intitulou-se como “o único candidato à direita” e disse querer disputar uma segunda volta contra o atual presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Mas terá sucesso? O partido anti-sistema avança de modo firme em Portugal? Quais as razões?

Com um comício "drive-in" em Leça da Palmeira, Ventura procurou amortecer o impacto da pandemia, transversal a todos os candidatos, no arranque da segunda semana de campanha.

O líder do Chega! tem aproveitado o clima de alguma insatisfação política, apoiando-se nos argumentos de insegurança, do desemprego, das elites corruptas ou da crise económica para se afirmar. Conta com o apoio de homens como José Lourenço, que referiu que "Humberto Delgado ficou conhecido como General Sem-Medo e André Ventura é feito da mesma massa, não tem medo."

Em entrevista à Euronews, o líder da distrital do Porto do Chega! sublinhou fazer parte de um partido que constitui uma alternativa de direita, "dura" e "forte." Ressalvou: “O Chega! pode ser realmente um fenómeno político como pode ser um bluff. Poderá ter uma ascensão meteórica e depois cair a pique. Estamos atentos e não queremos que isso vá acontecer.”

André Ventura, o líder candidato a presidente, considera que o Chega! que lidera é uma formação anti-sistema e afasta associações à extrema-direita. No início da campanha para as presidenciais, em Lisboa, contou com o apoio da líder da União Nacional francesa, Marine Le Pen.

Acusado de "ciganofobia", de promover um discurso anti-imigração e de natureza xenófoba, o partido rejeita o rótulo do racismo, dizendo não ter nada contra ninguém e querer que "todos cumpram as mesmas leis e regras."

Em Portugal, relatos de violência racial têm-se intensificado. Algumas atitudes extremaram-se. Foi o caso do ultimato feito pelo grupo neonazi designado Nova Ordem de Avis a dez pessoas, entre as quais deputadas e ativistas antirracistas, como Mamadou Ba.

O luso-senegalês diz ainda ter recebido uma alegada ameaça de morte por correio eletrónico, anónimo, acompanhada de uma imagem de uma bala.

Em entrevista ao Porto Canal, com a escalada como pano de fundo, o dirigente da SOS Racismo referiu que André Ventura transformou "a Assembleia da República num megafone institucional do racismo", mas o líder do Chega! defendeu-se dizendo não ter sido ele a transformar "o país num vulcão de fantasmas e monstros racistas inexistentes", apontado a responsabilidade à organização não-governamental.

À Euronews, Mamadou Ba, denunciou uma natureza xenófoba e de racismo no Chega!

“O Chega! é as duas coisas. Aliás, uma coisa não exclui a outra. A xenofobia e o racismo são gémeos quase siameses, se pudéssemos usar uma linguagem médica. Onde há xenofobia há racismo. Onde há racismo há xenofobia, porque são conceitos que se arreigam muito na ideia de excluir alguém.”

Mas quais são as reais possibilidades do Chega! se consolidar nestas presidenciais depois do resultado nas últimas legislativas? Com algumas reservas, Carlos Jalali acredita que é importante considerar se os eleitores relutantes em apoiar publicamente o partido decidem, ou não, dar a cara no dia do escrutínio.

“Sabíamos que existe esta insatisfação latente. Ela não tinha espaços por onde encontrar eco e agora com o Chega! começa a encontrar, embora o Chega! ainda só represente 1% do eleitorado nas legislativas. No contexto atual parece altamente improvável, salvo algum terramoto político, que o Chega! se torne uma força dominante do sistema político. Vai ser interessante vermos se há este efeito do eleitor 'envergonhado' do Chega!. Isso aconteceu nas eleições presidenciais americanas”, sublinhou Carlos Jalali.

Uma das grandes questões nestas presidenciais prende-se com esses eleitores silenciosos. Será que se deslocarão às urnas em massa, a 24 de janeiro? Outro desafio prende-se com a pandemia persistente, que poderá ter um impacto sobre quem vota e em que sentido.

De acordo com uma sondagem feita para o jornal Público e RTP pela Universidade Católica, Marcelo Rebelo de Sousa poderá ser reeleito à primeira volta com 63% dos votos (uma queda de 5% em relação à sondagem de Dezembro). Ana Gomes surge em segundo lugar, destacada com 14%, e André Ventura, que tinha anunciado que se demitiria da liderança do Chega! se ficasse atrás de Ana Gomes, aparece em terceiro, com 10%. O inquérito dá a João Ferreira 5% dos votos, 3% a Marisa Matias e Tiago Mayan e 2% a Vitorino Silva.

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