Combater a precaridade de quem trabalha para plataformas digitais

Motoristas da plataforma Uber já têm estatutos diferentes em vários países
Motoristas da plataforma Uber já têm estatutos diferentes em vários países Direitos de autor Darryl Dyck/The Canadian Press via AP/ Arquivo
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De  Francisco Marques
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Organização Internacional do Trabalho publica estudo sobre a revolução laboral em curso com custos altos para quem está no terreno

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As plataformas de trabalho digital necessitam de uma regulamentação laboral internacional, que uniformize o estatuto dos colaboradores no terreno, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT), num relatório agora divulgado.

De acordo com este estudo, plataformas como a UBER, a UPWork ou a Delivroo multiplicaram-se por cinco em todo o mundo ao longo da última década, impulsionadas também pelo impacto da crise financeira e pelo desenvolvimento das novas tecnologias.

Os lucros têm-se revelado elevados para a maioria das plataformas multinacionais, quase 800 atualmente, e muitos colaboradores têm conseguido obter os rendimentos suficientes para terem estes trabalhos flexíveis como a principal atividade profissional.

Outros há para quem esta é a única forma possível de conseguirem algum rendimento. Todos trabalhavam sem qualquer vínculo e como tal sem acesso a quaisquer benefícios normais num tradicional contrato laboral como um salário base garantido, seguro de trabalho, baixa médica quando necessário ou sindicalismo.

Este novo modelo de negócio revelou-se também uma janela de oportunidades de trabalho para mulheres e jovens, mas igualmente um "pau de dois bicos" porque em muitos países o facto de não existir um contrato laboral que represente um rendimento estável não permite aos trabalhadores ter acesso a empréstimos bancários de longa duração.

Esta mostra ser por isso uma revolução lucrativa para a maioria das plataformas, mas baseada em muitos colaboradores ou prestadores de serviços sem vinculo nem direitos laborais.

Na conferência de imprensa de apresentação do relatório "Emprego Mundial e Estimativa Social 2021", o diretor-geral da OIT disse que as plataformas de trabalho digital "criam enormes desafios porque são transformadores da forma como o trabalho é organizado".

"Tudo o que implementámos para regularizar o trabalho, para garantir que é feito em condições aceitáveis, não se aplica de forma automática às plataformas", explicou Guy Ryder, sublinhando a grande pergunta que atualmente a própria União Europeia tenta responder: "São os trabalhadores das plataformas digitais empregados da plataforma ou são prestadores de serviços independentes?"

É uma pergunta que tem vindo a ter resposta em alguns países.

No ano passado, em Espanha, o Supremo Tribunal sentenciou que um prestador de serviços da plataforma de entregas Glovo deveria ser considerado como tendo uma relação laboral, não comercial, e por isso deveria ver aplicada as normas do Estatuto dos Trabalhadores.

Na semana passada, no Reino Unido, o Supremo validou a decisão anterior do Tribunal de Trabalho, considerando que duas dezenas de antigos motoristas da UBER têm de ser compensados como trabalhadores que tinham vínculo à empresa e não como independentes, como a plataforma defendia.

A Uber foi obrigada a compensar os queixosos pela falta de pagamento de um salário base e das férias não gozadas, como estipula a lei britânica (similar em Portugal).

Na União Europeia, o estatuto destes trabalhadores de plataformas digitais está ainda em discussão, mas esta semana é esperada a publicação de uma revisão das regras laborais para este setor após uma comissão especial dos "27" ter ouvido ambos os lados, trabalhadores e plataformas, sobre o problema.

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