Conselheira de Estado esteve em nova audiência por videoconferência após mais um dia de protestos pró-democracia e de violenta repressão policial na antiga Birmânia
Aung San Suu Kyi foi alvo esta segunda-feira de novas acusações em Myanmar.
Na segunda audiência conhecida desde que a Conselheira de Estado e líder de facto do governo eleito em novembro foi detida pelos militares há um mês, Suu Kyi foi agora também acusada de violar leis da era colonial, por supostamente perturbar a tranquilidade pública e potenciar o medo.
A audiência por videoconferência da Nobel de Paz de 1991 aconteceu após mais um dia de repressão violenta pelas autoridades dos protestos pelo regresso democracia que têm vindo a ganhar força e a resistir ao regime militar instalado na antiga Birmânia desde o primeiro dia de fevereiro.
Na sequência da repressão dos protestos deste domingo, as Nações Unidas falam em pelo menos 18 mortos. A agência France Press garante ter confirmado pelo menos 10 junto de "fontes independentes" e refere relatos de meios de comunicação locais que apontam a um balanço de vítimas ainda superior ao organização sediada em Genebra e Nova Iorque.
Uma porta-voz da agência de direitos humanos da ONU disse à Associated Press que "o mais preocupante é tratar-se de uma força militar com cadastro de violações impunes dos direitos humanos e uma total falta de responsabilização".
"Estamos preocupados que o potencial do ocorrido seja ainda mais mortal", acrescentou Ravina Shamdasani.
O próprio Secretário-geral da ONU, o português antónio Guterres, também condenou esta segunda-feira a "mortal repressão" e apelou à "comunidade internacional para enviar um claro sinal aos militares de que têm de respeitar a vontade do povo de Myanmar, expressa nas eleições e parar com a repressão."
Já esta segunda-feira, os protestos voltaram às ruas de algumas das principais cidades de Myanmar.
A France Press cita relatos de meios de comunicação locais e refere disparos das forças segurança junto à prisão de Rangum, onde manifestantes protestavam contra as detenções efetuadas nos últimos dias.
Noutras zonas da capital económica da antiga Birmânia, os manifestantes pró-democracia levantaram barricadas nas estradas, preparando o cenário para o que poderá ser mais um dia de violência num país com um regime militar imposto há já um mês devido a alegada fraude eleitoral, não comprovada, nas eleições de novembro.
Um dos advogados de Aung San Suu Kyi contou ter estado em contato com a Conselheira de Estado, disse tê-la visto "de boa saúde" e revelou que a próxima audiência da líder de facto do Governo está prevista para 15 de março.
Suu Kyi, que está proibida pela Constituição de chefiar o governo de Myanmar por ter sido casada com um estrangeiro e ter também filhos estrangeiros, foi detida a 1 de fevereiro, inicialmente acusada de ter importado ilegalmente seis "walkie-talkies" e de desrespeitado as leis de proteção contra tragédias naturais, que no quadro atual são as restrições para conter a Covid-19.