SIS avalia risco para os organizadores da manifestação de janeiro, em Lisboa, cujos dados pessoais foram partilhados com as autoridades de Moscovo
A Câmara Municipal de Lisboa continua no centro da polémica. Sabe-se agora que o episódio da partilha de informações de ativistas russos com as autoridades de Moscovo não é único. O Comité de Solidariedade com a Palestina acusa mesmo o presidente da autarquia de mentir neste processo. Em declarações à RTP, um dos responsáveis lembra que questionou o procedimento, na sequência de uma manifestação de apoio ao povo palestiniano em junho de 2019.
"A resposta foi mais chocante do que a partilha de dados. Assumiu que partilhava dados não só com o governo israelita, mas também com a embaixada da China e com a embaixada da Venezuela. Portanto, Fernando Medina mente quando diz que a partilha de informação foi um erro," afirma Ziyaad Yousef.
O presidente da Câmara de Lisboa insiste na tese do erro e anunciou uma auditoria interna. Em causa está legislação de 1974 que apesar de estipular a partilha de informação, não obriga à divulgação de dados pessoais.
Para Fernando Medina, não é informação "enviada à Rússia ou a um país estrangeiro" é comunicação a "uma embaixada por ser esse o local da realização da manifestação".
"Eu assumo de facto o erro do município, dos serviços, relativamente a esta matéria, que foi o erro de ter tratado este processo como um processo burocrático normal como tantas dezenas de manifestações que acontece. E este é um caso particular," declarou o autarca.
Portugal, na voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, considera que não há qualquer incidente diplomático nesta matéria, mas nas redes sociais a notícia já mereceu notas de condenação de alguns eurodeputados.
Jyrki Katainen, antigo primeiro-ministro filandês, mostra-se chocado com a partilha de dados.
Linas Linkevicius, antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, vai ao ponto de dizer que "sabendo-se das tradições do Kremlin, as pessoas em causa estão perigo".
De acordo com a imprensa portuguesa, o Serviço de Informações de Segurança (SIS) está agora, seis meses depois da manifestação, a avaliar se há perigo para a integridade física dos ativistas russos.
Ksenia Ashrafullina, uma das organizadoras da manifestação de 25 de janeiro, não esconde o receio de voltar a Moscovo. Prepara agora um processo judicial contra a Câmara Municipal de Lisboa para que a sua história não se repita.