Delegações russa (à esq) e ucraniana frente a frente na Bielorrússia
Delegações russa (à esq) e ucraniana frente a frente na Bielorrússia Direitos de autor Sergei Kholodilin/BelTA Pool Photo via AP
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Guerra na Ucrânia, dia 5: Conversações em consultas e Rússia suspensa na UEFA e na FIFA

De  Francisco Marques
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A ofensiva ordenada por Vladimir Putin na quinta-feira mantém-se ativa e intensa em diversas cidades. Responsável de Kharkiv denuncia "genocídio do povo ucraniano"

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A invasão da Ucrânia viveu esta segunda-feira o quinto dia após a ordem de Vladimir Putin. A comunidade internacional uniu-se durante o fim de semana, como nunca antes, e largou uma "bomba de sanções" sobre a economia russa.

As conversações de Paz na Bielorrússia foram suspensas sem decisões e a Rússia encerra o dia eliminada na secretaria das grandes competições de futebol devido à invasão política armada da Ucrânia.

Terminaram sem decisões tomadas as negociações de Paz em território da Bielorrússia, junta à fronteira e perto da antiga central nuclear ucraniana de Chernobyl.

Mykhailo Podoliak, conselheiro do chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, revela que certas decisões foram sublinhadas, mas ainda dependentes de consultas em ambas as capitais.

"As delegações ucraniana e russa realizaram a primeira ronda de conversações. O objetivo principal era discutir um cessar-fogo e o fim das hostilidades no território da Ucrânia. As partes identificaram alguns tópicos prioritários, sobre os quais certas decisões foram sublinhadas", afirmou Podoliak, citado pela agência Interfax.

"Para que estas decisões tenham oportunidade de ser implementadas, as partes estão de regresso às respetivas capitais para consultas", acrescentou o responsável ucraniano, referindo ter ficado "em aberto uma segunda ronda de negociações a breve prazo".

Enquanto decorriam na Bielorrússia conversações inconsequentes para tentar travar a guerra, e com escassas perspetivas de sucesso perante as exigências conhecidas de parte a parte (retirada de toda a Ucrânia Vs. reconhecimento da anexação da Crimeia e as repúblicas separatistas), a ofensiva das forças fiéis a Vladmir Putin prosseguiu em diversas frentes.

O ministro do Interior ucraniano fala revelou a morte de 11 pessoas e dezenas de feridos em resultado do bombardeamento em Kharkiv, no nordeste do país.

"O que está a acontecer em Kharkiv é um crime de guerra. É um genocídio do povo ucraniano. O inimigo russo está a bombardear áreas residenciais inteiras, onde não há infraestruturas importantes nem posições das forças armadas", denunciou Oleg Sinegubov, chefe da administração militar-civil de Kharkiv, citado pela Interfax, mostrando-se otimista na resistência.

Vamos sobreviver. Ajudando-nos uns aos outros, somos um!
Oleg Sinegubov
Cda administração militar-civil de Kharkiv

A União Europeia terá solicitado, entretanto, ao centro europeu de controlo de satélites para disponibilizar informações à Ucrânia sobre a movimentação das tropas afetas ao Kremln na invasão em curso, avança Phil Stewart, o correspondente da Reuters para os assuntos militares.

"As relações com a Rússia não voltarão a ser determinadas pelo comércio", garantiu um alto responsável pela diplomacia europeia.

A Ucrâniavai pagar 100 mil hryvnias (mais de 2.900 euros) por mês a cada soldado que esteja na linha da frente a combater a invasão das forças fiéis a Vladimir Putin. A medida está decretada e foi anunciada pelo Facebook do Ministério da Defesa ucraniana.

Para a polícia e diversos outros serviços públicos e militares haverá também um prémio adicional de 30 mil hryvnias (cerca de 880 euros) mensais, decretou o gabinete de ministros da Ucrânia.

Mais sanções sobre a Rússia

A FIFA e a UEFA emitiram um comunicado conjunto a anunciar a suspensão "até nova ordem" da seleção de futebol e dos clubes de futebol da Rússia de todas as competições. A UEFA anunciou ainda ter rescindido o contrato com a Gazprom, a empresa estatal de gás da Rússia, um dos maiores financiadores do organismo e principal patrocinador da Liga dos Campeões.

A Rússia tinha previsto jogar um género de "final four" de acesso ao Mundial 2022 diante da Polónia (24 de março) e, em caso de triunfo, iria discutir um lugar no torneio do Qatar com o vencedor entre a Suécia e a Chéquia.

As três seleções já tinham manifestado indisponibilidade para defrontar a Rússia devido à invasão da Ucrânia.

O Spartak de Moscovo destava ainda a competir na Liga Europa e tinha a eliminatória dos oitavos de final diante dos alemães do RB Leipzig, do português André Silva, a 10 e 17 de março.

Suíça vai adotar na integralidade as sanções sobre interesses russos anunciadas pela União Europeia, incluindo as que se destinam a Vladimir Putin como o congelamento de bens, anunciou o Presidente da Confederação helvética, Ignazio Cassis.

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Devido à forte imposição de sanções sobre a Rússia, que a impedem de voar sobre a União Europeia, o ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov cancelou a viagem agendada para esta terça-feira a Genebra, onde iria participar numa conferência sobre desarmamento.

A Liga Árabe assume-se "inquieta" com a invasão russa da Ucrânia e apela a uma "solução diplomática" desta crise que divide os 22 países desta organização. A maior parte dos membros mantém uma posição neutra devido à dependência comercial de muitos perante o Kremlin.

O Ministério da Defesa da Ucrânia partilhou o anúncio do Presidente Zelenskyy "da criação de uma nova unidade" batizada 'Legião Internacional' e o ministro adjunto Hanna Maliar garante já ter recebido "milhares de pedidos estrangeiros que pretendem juntar-se à resistência aos ocupantes russos e proteger a segurança mundial do regime de Putin".

Lituânia reforça queixa ucraniana contra a Rússia no Tribunal Penal Internacional e pede a investigação de "crimes de guerra e crimes contra a Humanidade na Ucrânia."

"Há novo material a chegar-nos todos os dias, mas já temos o suficiente para submeter o pedido", afirmou a primeira-ministra Ingrida Simonyte, durante uma videoconferência do respetivo governo.

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Grupo de piratas informáticos "Anonymous", que decretou "guerra cibernética" à Rússia, está a pedir tradutores de ucraniano depois de ter tido alegadamente acesso a uma enorme quantidade de documentos da agência nuclear russa.

A agência de notícias estatal russa, a TASS, parece estar a ser vítima de ataques cibernéticos e está a dar mensagem de erro quando se tenta aceder a ambas as versões em que é difundida, russo e o inglês.

O clube de futebol alemão Schalke 04 anunciou ter rompido unilateralmente o contrato de patrocínio com a Gazprom, a companhia estatal russa de gás, e ainda um dos principais patronos, por exemplo, da UEFA e da Liga dos Campeões.

Sergei Kholodilin/BelTA Pool Photo via AP
Delegação russa chega ao local das conversações num helicóptero bielorrusoSergei Kholodilin/BelTA Pool Photo via AP

Volodymyr Zelenskyy reiterou o pedido de a Ucrânia ser aceite na União Europeia.

"Dirigimo-nos à UE, em relação à integração da Ucrânia sem mais demora através de um novo processo especial", sugeriu o Presidente ucraniano numa recente mensagem de vídeo e depois publicou as fotografias do momento em que assinava o pedido formal de adesão à UE

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Сьогодні я підписав заявку на членство України у Європейському Союзі. Впевнений, що це реально.

Posted by Володимир Зеленський on Monday, February 28, 2022

No terreno, o deputado ucraniano Kira Rudik pegou em armas e juntou-se às tropas civis para ajudar no terreno a resistência contra a invasão das forças fiéis a Vladimir Putin.

O Presidente ucraniano emitiu uma mensagem destinada aos soldados russos, a quem apelou ao fim da lealdade a Vladimir Putin: "Deponham as armas, partam. Não acreditem nos vossos comandantes nem nos propagandistas. Salvem-se, simplesmente."

O Presidente de França realizou uma videoconferência com os líderes dos Estados Unidos, do Canadá, da Alemanha, de Itália, do Japão, da Polónia e da Roménia, e com outros representantes da União Europeia e da NATO, para coordenar os passos seguintes dos aliados na respetiva defesa e no apoio possível à resistência ucraniana contra a invasão russa.

Emmanuel Macron recebeu de seguida, no Eliseu, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O chefe da diplomacia da UE liderou uma reunião dos ministros da Defesa dos "27" para debater os últimos acontecimentos na Ucrânia, em relação ao "assalto não provocado por parte da Rússia."

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"Vamos discutir as necessidades urgentes e coordenar a nossa assistência, com a ajuda da câmara especial gerida pela equipa militar da UE", afirmou Josep Borrell, pelas redes sociais.

Invasão russa em várias frentes

A ofensiva acalmou esta madrugada em Kiev, mas parece ter-se intensificado em Kharkiv e no sul da Ucrânia.

As Forças Armadas ucranianas estão a revelar vídeos do que garantem ser bombardeamentos das forças invasoras sobre zonas residenciais de Kharkiv.

Em Poltava, meio caminho entre Kiev e Kharkiv, a polícia ucraniana diz ter detido cerca de 40 suspeitos de serem espiões ao serviço de Putin.

Alguns dos detidos estariam na posse de marcadores e balizas para alegadamente corrigirem o fogo de artilharia das forças afetas ao Kremlin e outros elementos seriam responsáveis por recolher informações sobre alvos estratégicos potencialmente importantes.

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Na cidade portuária de Mariupol, ponto estratégico terrestre entre a fronteira da Rússia e a península anexada da Crimeia, os bombardeamentos atingiram zonas residenciais e deixaram gravemente feridas inclusive crianças.

As imagens difundidas pelas agências internacionais mostram crianças a receber cuidados intensivos de reanimação após terem sido feridas em bombardeamentos sobre zonas residenciais de Mariupol.

O Ministério da Defesa ucraniano alegou esta manhã ter abatido 29 aviões, 29 helicópteros, 191 tanques e 816 veículos blindados. Acrescenta a captura de 74 armas, um sistema de mísseis anti-aéreos BUK, 21 sistemas Grad multilançadores de roquetes , 291 veículos, duas embarcações.

A mesma fonte adianta a morte de cerca de 5.300 soldados russos, mas este ´€ um balanço que carece de verificação imparcial.

AP Mapa/ Governo da Ucrânia
Ofensivas em curso na Ucrânia às 17 horas de domingoAP Mapa/ Governo da Ucrânia

As ruas da capital encontravam-se desertas e tranquilas esta segunda-feira de manhã, pouco depois de ter terminado o recolher obrigatório imposto a partir de sábado à tarde e após uma noite com menos atividade das forças invasoras.

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Os deslocados pela guerra

A tragédia humanitária provocada pela invasão russa da Ucrânia agrava-se. Além dos mais de 350 civis ucranianos e mais de três mil soldados russos mortos nesta guerra, anunciados por Kiev, haverá já mais de 500 mil deslocados pela guerra, avança o Alto Responsável da ONU para os Refugiados.

Os deslocados estão a procurar abrigo em países da União Europeia vizinhos da Ucrânia, sobretudo na Polónia e Roménia, também membros da NATO, para onde, por exemplo, Portugal recomenda que os respetivos cidadãos se dirijam.

As Nações Unidas atualizaram esta segunda-feira de manhã as vítimas civis desta invasão russa da Ucrânia para 192 mortos, incluindo sete crianças, e 304 feridos, mas o balanço real será "muito consideravelmente mais elevado", alerta Michelle Bachelet, a Alta Comissária para os Refugiados.

A polícia ucraniana revelou a morte de seis pessoas e mais oito feridos, em sequência de bombardeamentos esta segunda-feira na zona controlada pelo exército ucraniano na região de Donetsk. No total, desde 17 de fevereiro, as autoridades, garantem já ter morrido 46 civis e 133 ficado feridos, incluindo duas crianças, nesta zona de Donetsk.

O número de pessoas em fuga continua a aumentar e a Comissão Europeia receia a maior crise humanitária em território europeu desde a II Guerra Mundial com mais de sete milhões de deslocados pela guerra só dentro da Ucrânia.

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"As necessidades estão a aumentar rapidamente", alertou no domingo Janez Lenarcic, o Comissário Europeu para a Gesto de Crises e Ajuda Humanitária.

A União Europeia está a preparar autorizações especiais para os ucranianos deslocados pela guerra poderem ficar e trabalhar no território dos "27" durante três anos.

AP Photo/Seth Wenig
António Guterres discurso na sessão extraordinária de urgência da ONUAP Photo/Seth Wenig

Os 193 membros da Assembleia Geral das Nações Unidas dedicaram um minuto de silêncio às vítimas da ofensiva das forças militares afetas ao Kremlin na Ucrânia.

O momento aconteceu no início da primeira "sessão extraordinária de urgência" da ONU em 40 anos, realizada de propósito para discutir os acontecimentos dramáticos no território ucraniano.

A "bomba de sanções" sobre a Rússia

Diversos países europeus acordaram enviar armas e financiar a compra de mais equipamento de defesa para as forças armadas ucranianas, incluindo pela primeira vez a União Europeia.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia reiterou o pedido internacional para parar todos os negócios com a Rússia.

"Fazer negócios com a Rússia, hoje, significa financiar a agressão, crimes de guerra, desinformação, ciberataques e sobretudo o Hitler do século XXI que se chama Vladimir Putin", escreveu Dmytro Kubela, nas redes sociais.

O Reino Unido está a pressionar a exclusão da Rússia da Interpol, adianta a agência russa TASS.

A Lituânia deu autorização aos respetivos cidadãos para poderem viajar para a Ucrânia e entrarem na luta contra a invasão russa.

Sondagem publicada hoje na Finlândia mostra uma maioria de 53% da população deste antigo território território do império russo é agora favorável à adesão à NATO. A Finlândia é independente desde 1917, alguns anos antes da formação da URSS. 

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O Japão anunciou a imposição de sanções contra o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, e o banco central da Rússia.

A União Europeia fechou o espaço aéreo aos aviões com quaisquer ligações à Rússia, excluiu diversos bancos russos do sistema internacional SWIFT e aprovou pela primeira vez o financiamento da compra de armas para um país sob ataque.

Putin respondeu com a colocação em alerta máximo das apelidadas forças de dissuasão, que se presume incluírem as mais de seis mil ogivas nucleares existentes no país.

Por outro lado, o Kremlin alertou para o perigo de se fornecer armas à Ucrânia.

A moeda russa, o rublo, desvalorizava cerca de 30% ao início desta segunda-feira face ao dólar americano depois das sanções económicas, que incluem também os Estados Unidos, o Japão, o Canadá, o Reino Unido e outros países externos à União Europeia.

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"Juntos, mais fortes", resumiu Zelenskyy, na publicação onde deu conta de ter falado este domingo com o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

O Banco Central Europeu anunciou esta segunda-feira que o Sberbank Europe, que integra o grupo bancrio homónimo da Rússia, e duas outras subsidiárias "estão falidas ou na iminência de falir".

O Banco Central da Rússia tenta mitigar o colapso económico e subiu as taxas de juro de 9,5% para 20%, para tentar compensar a desvalorização do rublo.

Proibida de voar para e sobre a União Europeia, a Federação russa anuncia o fecho do respetivo espaço aéreo aos 27 Estados-membros do bloco, incluindo, claro Portugal.

Em Moscovo e noutras cidades russas a contestação à invasão russa da Ucrânia sobe de tom. O Kremlin tem ordenado a opressão dos principais instigadores dos protestos, provocando a detenção de mais de quatro mil pessoas que se opõe à invasão da Ucrânia.

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Na Bielorrússia, foram detidas cerca de 800 pessoas devido a protestos ocorridos após o governo de Alexander Lukashenko ter abdicado do estatuto de país não-nuclear e admitido acolher armas nucleares russas no país.

A autorização para a Bielorrússia poder receber armamento nuclear passou no Parlamento com 65% dos votos, de acordo com dados oficiais.

O Kremlin proibiu ainda o uso das palavras "invasão", "ofensiva" e "guerra". Os meios de comunicação têm de se referir ao que está a acontecer na Ucrânia como uma "operação especial".

Diversas plataformas de Internet estão a tentar filtrar a desinformação russa e algumas, como o Youtube, já bloquearam mesmo os meios de comunicação afetos à Rússia em território ucraniano.

Outras fontes • AP, AFP, Lusa, Guardian, Tass

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