David Motta deixou o Bolshoi logo a seguir à invasão da Ucrânia

Bailarino do teatro Bolshoi de Moscovo, o brasileiro David Motta foi um dos primeiros artistas a abandonar a Rússia a seguir à invasão da Ucrânia.
Aos 25 anos, e depois de 11 anos a viver para o ballet, a decisão não foi fácil. Era deixar o sonho para um futuro mais do que incerto.
David, que regressou ao Brasil, e já traçou novo rumo de carreira, fala da angústia que viveu:
"Foi muito difícil. Fiquei dias sem dormir, sem saber como iria recomeçar, por onde iria recomeçar, como iria recomeçar mas agora ja esta meia caminhado andado, como se costuma dizer . Eu ja consegui um trabalho; estou dançando hoje com o teatro municpal que para mim é um enorme prazer e estou bem mais tranquilo do que antes"
Mais tranquilo porque, depois do príncipe Siegfried no "Lago dos Cisnes", no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, David Motta já tem à espera muitos outros personagens, em Berlim, onde será bailarino principal do Staatsballett.
Quando se fala da decisão que tomou, não hesita:
"Era evidente que tínhamos de partir, em solidariedade com o povo ucraniano", diz, acrescentando: "A única questão era como"
Temendo que as fronteiras fossem fechadas, elaborou o seu "plano de fuga" a 24 de fevereiro, reservando imediatamente um voo para Istambul, de onde voou para o Brasil, via Milão.
David Motta não lamenta de forma alguma a sua decisão, mas deplora o facto de artistas, cuja vocação é "unir culturas e países", terem sido "apanhados no fogo cruzado".
Segundo ele, os artistas russos são os primeiros a serem penalizados, proibidos de todos os eventos no estrangeiro, tal como os desportistas de topo.
"Infelizmente, os russos são culpados pelas ações de uma pessoa", continuou, referindo-se ao Presidente Vladimir Putin sem o nomear.
Mas o brasileiro prefere não entrar em detalhes sobre o assunto: "Nunca criticarei este país onde cresci e onde aprendi tanto. Levá-lo-ei sempre no meu coração.
Nascido em Cabo Frio, uma cidade costeira perto do Rio de Janeiro, David Motta começou a dançar a alto nível numa idade muito jovem.
Depois de brilhar num concurso em Nova Iorque, ganhou uma bolsa de estudo financiada pelo governo brasileiro para frequentar a Academia Bolshoi em Moscovo.
Com apenas 12 anos de idade, deixou as praias arenosas da sua cidade natal para a fria capital russa.
Formou-se em 2015 e, nesse mesmo ano, ganhou o primeiro prémio num concurso para jovens dançarinos na Rússia. Diz que o ballet é o ar que respira.
"O ballet é tudo para mim. É o ar que eu respiro. Vou para a cama e acordo a pensar apenas nisso, (...) para progredir, sem nunca parar".